30/04/13

HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA REAL BASÍLICA E MOSTEIRO DO SANTÍSSIMO CORAÇÃO DE JESUS DA CIDADE DE LISBOA (III)

(continuação da II parte)

Concluída esta função, foi a Cruz conduzida para a Igreja em Procissão, indo os músicos cantando, e acompanhando o Celebrante Suas Majestades e Altezas com toda a sua comitiva, e se colocou no lugar destinado para o Altar Mor, assistindo toda a Real Família, e em outro troneto que ricamente estava preparado com suas cadeiras ao lado do Evangelho: Suas Majestades e Altezas depois de tornarem a adorar a Santa Cruz, e tendo-se retirado o Excelentíssimo Príncipe Celebrante foram ver o estado do novo edifício, a arquitectura dos corredores, a formosura dos claustros, a grandeza e repartimento das casas, sua armação e ornato, e viram de uma janela a cerca que repartia em largas ruas e grandes tabuleiros, com muitas árvores que tem plantadas, e dois formosos tanques que as regam, ofereciam já então aos olhos um delicioso objecto: cheios finalmente de prazer e consolação por verem os seus desejos em grande parte cumpridos, se tornaram muito satisfeitos a Queluz.

No dia seguinte de manhã, que se contaram 24 de Outubro, tendo sido aviada toda a Corte para assistir, e estando muitos regimentos formados em guarda da Igreja e guarnecendo o grande campo em que ela estava armada, os Timbaleiros Reais da parte de dentro da porta principal da Igreja, e nesta inumerável Povo de todas as classes; o Eminentíssimo Senhor Cardeal patriarca no seu Camarim de falda, os Excelentíssimos Príncipes nos que lhes estavam preparados; e os Ilustríssimos Monsenhores na sala que lhes estava composta: a Rainha Nossa Senhora, Princesa, Senhor Infante e Senhoras Infantas, se dirigiram para a Tribuna, que estava por detrás da Capela Mor, onde estando assentados chegou depois a Rainha Mãe a quem a Rainha Nossa Senhora foi receber beijando com pública edificação a Real Mão de Sua Augusta Mãe, que ocupou o primeiro lugar num dos Camarins da Tribuna; no segundo estava a Camareira Mos, e as Damas, e no outro os Veadores e Camaristas: ElRey e o Príncipe seguidos da Corte, Prelados, Ministros, e muita Nobreza se encaminharam para o Camarim que lhes estava preparado, e Sua Eminência passou do seu Camarim de falda para a Casa dos paramentos, com o acompanhamento de todo o seu Estado.

Paramentado o Eminentíssimo Senhor Patriarca com Pluvial, se dirigiu para a Igreja em Procissão precedida da Cruz Patriarcal, entre duas tochas: iam nelas os músicos e Cantores, os Ilustríssimos Monsenhores, e os Excelentíssimos Príncipes, e acompanhavam a sua Eminência, El Rei, e o Príncipe, os Grandes, e muitas mais Pessoas de distinção, que ali concorreram: no lugar em que estava a Cruz colocada, se tinha erigido um altar com um riquíssimo docel e no lado do Evangelho um Trono com docél de tela vermelha para ElRey, e o Príncipe, e outro para Sua eminência de tela branca, ambos guarnecidos de galeões e franjas de ouro.

Ajoelhados todos nos seus respectivos lugares se fizeram as Preces que determina o Ritual, depois das quais procedeu Sua Eminência à bênção da Pedra que estava num andor dourado sobre uma Cadeira no lado do Evangelho: esta Pedra que era de mármore branco e figura cúbica, de palmo e quarto de largo, estava assinada com uma Cruz, e tinha numa face a inscrição seguinte:

Basílica do Sagrado Coração de Jesus - Estrela, Lisboa.

MARIA I
LUZITANIA REGINA FIDELISSIMA
ET DOMINA
EX VOTO
PRO SUCEPTA PROLE
SANCTISSIMO CORDI JESU
TEMPLUM HOC,
ET
SATIMONIALIBUS B. MARLE DE MONTE CARMELO
MONASTERIUM.
CEDENT REGES PETRO III.
PRO EIS AEDIFICANDIS
SOLUM,
IN TERRITORIO SUO PROPRIO
IN
PERPETUUM ACCEPTI BENEFICII MONUMENTUM
AEDIFICARI FECIT.

Na face oposta se lia a seguinte inscrição:

HUJUS TEMPLI
IN HONOREM DEI, ET SANCTISSIMI CORDIS JESU
DICANDI
LAPIDEM HUNC PRIMARIUM
AB IPSO REGE PETRO DELATUM
BENEDIXIT, AC IMPOSUIT
EMUS D. FERDINANDUS
S.R.E.
PRESEBITER CARDINALIS DA SILVA
PATRIARCHA LISBONENSIS
SUMMO PONTIFICE PIO VI
DIE XXIV OCTOBRIS
ANNO DOMINI MDCCLXXIX
POST TERRAMOTUM XXIV

(continuação, IV parte)

O BRASÃO PELO QUAL SE PODE ORAR CLXXXIII


ORDEM DE CRISTO - CHARÓLA DO CONVENTO DE TOMAR

RASCUNHOS ASCENDENS (IX)

RASCUNHO XXIII

O Estado da Questão

Com objecto de compreender melhor a controvérsia a respeito do suposto fundamentalismo, mais concretamente a obra de Mons. Lefebvre, devemos lançar um olhar sobre a história da igreja e a história das ideias no decorrer dos últimos anos.

Na história da igreja podemos identificar em largo traço três fazes históricas da difusão inicial do Cristianismo por todo o mundo (período paleocristão) ao qual se seguiu o tempo da consolidação (durante o qua


RASCUNHO XXIV

"Semper Idem"


























RASCUNHO XXV

"O Reno Se Lança no Tibre"




RASCUNHO XXVI

Para a Maçonaria a sociedade é iniciática, ou seja, é "profana" (está fora do templo maçónico e não foi iniciada na maçonaria). Mas ela é iniciável, ou seja, toda a sociedade deverá um dia ser maçónica. Há medida que a maçonaria avança com as suas ideias, introduzindo-as na sociedade, dá-se a descristianização e a maçonização.

Se a maçonaria nasceu oficialmente em 1717 como sociedade secreta, hoje ela anuncia-se como "discreta". Dizem eles que é normal que assim tivesse sido, e que teria havido uma perseguição dos reinos católicos para retirarem do seu seio à maçonaria como um tumor maligno. Portanto, o tumor maligno, para sobreviver, teria usado do maior secretismo e para se alastrar usou de igual secretismo. Hoje a maçonaria, tendo-se alastrado e introduzido as suas ideias anticatólicas na sociedade,

D. João V
RASCUNHO XVII

Tal como muitas outras palavras foram descaracterizadas pelos vencedores liberais e republicanos também as palavras como "liberdade", "Igreja", "Absolutismo", sofreram aquela violência de torcer o próprio em impróprio. Hoje a palavra "mártir" é tomada pelo seu sentido alargado, e não pelo seu sentido próprio.

Das conversas que tenho tido sobre o absolutismo, reparo que os opositores não definem "absolutismo". Porém adivinho-lhes que não têm o absolutismo com sistema monárquico, mas sim como uma irregularidade contra o sistema de então. Ou seja, que o absolutismo não teria sido um sistema organizado de governação, e foi um comportamento abusivo do monarca contra sistema a que se deveria então sujeitar. Portanto, consideram, e talvez bem, embora não o digam claramente, que o absolutismo é o desacato do Rei ao sistema estabelecido.

Mas em tudo isto há algo estranho.... o tal sistema "violado" nunca teve leis segundo as quais se pudesse determinar que o tal Rei ("absolutista") tenha governado com irregularidade. Ao perguntar aos inimigos do absolutismo qual o abuso do "Rei absolutista", respondem como se fossem liberais: o ter dispensado as cortes por um longo período de tempo, ou nunca as terem convocado. Peguemos então nas leis de Portugal, desde 1143, e perguntemos aos inimigos do absolutismo: onde está a lei que determina que o Rei é obrigado a reunir Cortes e a estar sujeito a elas? Evidentemente que não saberão responder, porque só a mentalidade liberal contem crenças às quais dá valor de lei impondo-as à monarquia tradicional! Portanto, voltando ao Rei absolutista, onde é que houve violação do sistema? Pois é ...

Podemos ainda concluir que, se o absolutismo consiste em dispensar as Cortes, toda a Monarquia portuguesa, até D. Pedro, foi absolutista por natureza, por não haver lei nem tradição de que o Rei estava obrigado ás Cortes. A mesma ideia liberal encontra-se relativamente ao Papa e à ecles


RASCUNHO XXVIII

O que aqui foi escrito no artigo ""O Acordo" - e Os Gambozinos" a respeito do uso de "o acordo", pode escrever-se em parte a respeito de "os modernistas".

Não pretendo gastar tempo com opiniões engraçadas e malabarismos de diversão, nem cativar os leitores. O assunto que trago tem de ser mostrado, na tentativa de minorar os estragos da crescente apostasia geral.

O uso que se tem feito de "os modernistas" e "o modernismo" é preocupante e revelador. Temo que 95% (é um número suposto por mim)  dos que usam tais etiquetas, aplicando-as no âmbito católico, não sabem realmente o que isso é. Fantástico?!!! Bastante...

Mais uma vez estamos perante um fenómeno de gambozinos (que descrevi no artigo mencionado). Em muitos meios a palavra "modernistas" é adquirida e, depois, ao nome mais ou menos vazio vão vai-se-lhe associando sentimentos e imagens aos que a pessoa tenta ordenar segundo uma lógica minimamente coerente.

Hoje, não antes, "os modernistas" são para algumas pessoas aqueles que, ao fim e ao cabo, comentem "abusos litúrgicos". Para outras pessoas "os modernistas" são aqueles que não aceitam a Missa tradicional. Para outros ainda "modernistas" são outra coisas mais relacionadas com tudo menos com a Doutrina e  pensamento católico.

Há dois dias vi uma montagem em que, de um lado, havia uma foto com a nova missa (Missal de Paulo VI) repleta de sinais desajuizados e, do outro lado, havia uma foto de uma Missa do catolicismo  (Missal de S. Pio V). Na primeira das fotos lia-se "modernistas", e na outra foto lia-se "

29/04/13

O BRASÃO PELO QUAL SE PODE ORAR CLXXXII


O MOVIMENTO LITÚRGICO - LIVRO, (V)

O MOVIMENTO LITÚRGICO
Pe. Didier Bonneterre

(continuação)

Desta forma, Dom Beauduin adiantava-se aos desejos do novo Papa que, em Fevereiro de 1922, sucedera a Bento XV. Desde os primeiros tempos do seu pontificado Pio XI mostraria forte afeição pelo Oriente, por essa massa enorme da Rússia que, nos anos logo após a revolução de Outubro, ainda aparentava um ténue equilíbrio quanto aos caminhos que estariam por vir.

Estimulado por Monsenhor d'Herbigny, o ardente Pio XI iria apressar-se: a 21 de Março de 1924, enviava ao abade geral o Breve apostólico "Equidem verba", no qual o Soberano Pontífice retomava as grandes ideias de Dom Beauduin a respeito do papel capital que representaria um novo tipo de fundação benedictina para a aproximação com o Oriente.

O abade de Sto.Anselmo já não entendia coisa alguma: como o é que um Papa podia apoiar um monge do qual dizia ter "um temperamento demasiado sanguíneo, com uma imaginação muitíssimo viva que se convertia em fogo e labaredas entre os seus projectos, quase depreciante relativamente à Igreja ocidental, homem mais inclinado à actividade exterior"(7). Dom Fidèle não compreendia que atrás de Pio XI estavam  Monsenhor d'Herbigny e o Card. Mercier, quem, nessa época, era presa de um vertígio de "unionismo". Portanto, em 1924 era o ano das conferências de Malinas(8)...

Pio XI

Dom Beauduin, teólogo do Card. Mercier, preparou para essas conferências o texto informativo "a Igreja anglicana unida mas não absorvida". Ali desvelava à pelna luz das suas concepções mais que duvidosas a respeito do ecumenismo.

Mas deixemos falar ao Rev. Pe. Louis Boyer:

"Esse texto continha erros graves, como também foi um erro em si mesmo. Onde cada uma das partes tinha de esforçar-se por ser precisa, ele colocava uma hipótese de unidade na fé já alcançada. Então, sobre esta base, traçava um plano que não podia ser mais que quimérico. Concebia a ideia de um patriarcado anglicano unido, no qual seriam salvaguardados a liturgia, o direito canónico anglicano e os usos tradicionais do anglicanismo, copiada da situação feita em princípio às Igrejas orientais unidas a Roma. Mas desconhecia o facto de que nada, nem no passado nem presente da Igreja anglicana, permitia assimilar uma situação com outra. Mas era pior que isso. Ao não poder deixar de lado a existência da Igreja Católica na Inglaterra, já presente ao lado da Igreja Anglicana, era encarada tranquilamente a hipótese de ser a Igreja Católica a chegar-se à Igreja Anglicana "unida mas não absorvida". Tiravam-se todas as conclusões até mesm a suspensão das sedes espiscopais criadas no séc. XIX, com a demissão dos seus titulares."(9)

O BRASÃO PELO QUAL SE PODE ORAR CLXXXI


RASCUNHOS ASCENDENS (VIII)

RASCUNHO XX
Aquela preocupação é muito pertinente, e hoje deve servir de exemplo, mais que nunca.

Há menos de um mês, uma senhora de um país da América do Sul, contava-me que um amigo da família tinha construído uma casa em pedra e que, depois de ter falecido, o filho não se interessou de terminar que daquela casa ficou por terminar. Eu comentei que: há uma mentalidade que vende pedras e as madeiras para depois poder comprar cimento (concreto) e tijolo em forma de casa. Segundo a mesma mentalidade,

Para se construir uma boa casa, uma igreja, um palácio, ou mesmo uma catedral, há que ter: pedra, madeira, argila. Evidentemente que, tal como numa "casa moderna", há que ter pessoas que trabalhem e ferramentas.

Dou como exemplo uma quinta que conheço muito bem. Há séculos era ela um terreno de abundante água, com algumas rochas intercaladas com terra de cultivo, árvores e animais de caça. Hoje um terreno desses seria facilmente confundido por rebelde e impróprio para cultivo ou habitação, contudo, para os nossos antigos, seria facilmente reconhecido como excelente (e é o caso do terreno do qual falo). Para lá da fertilidade e da abundância de água (que ali era comum), o Senhor das terras achou nelas a vantagem das árvores e rochas. Com as rochas e pedras, granito de duas ou três qualidades, mandou erguer muros em torno de toda a quinta (protegendo-a de animais mansos ou ferozes, e inibir não dispor à mão alheia apetecíveis momentos), mandou também construir uma casa de dois pisos com paredes de 1m de espessura, etc.. Com os castanheiros que ali havia, foi armado todo o sistema dos telhados, feitas tábuas para o soalho, o beirado, boas portas, etc.. As telhas, provavelmente, foram feitas com o barro de um dos lados da quinta.

Há anos, por necessidade de adquirirem um órgão (verdadeiro, ou electrónico) para uma dada igreja, previa-se que determinado padre tivesse que ir da América do Sul à Europa fazer uma angariação de fundos. Ele, acostumado a fazer peditórios, desabafou dizendo que ali [naquele país da América do Sul] as pessoas tinham uma concepção algo artificial destas coisas: as obras maiores apareceriam feitas com donativos europeus ou norte-americanos! Dizia que isto teria de acabar, pois havia que pedir a Deus a forma de obter as coisas pela forma mais natural e directa e aprender a construir e aproveitar melhor. Eu entendi rapidamente este padre, porque de certa forma já tinha chegado a conclusão idêntica.

Recordei-me depois do caso dos Jesuítas, que tinham tido ali órgãos e outros instrumentos arquitectados por eles e construídos pela mão dos nativos (que em pouco tempo se tornaram hábeis a executar com perfeição estas e outras artes de exigência). Hoje, no mesmo lugar, havendo mais recursos que nunca, a iniciativa, neste caso, limita-se a angariar dinheiro exterior para mandar fazer um órgão no estrangeiro ou, pior, comprar uma imitação electrónica ao estrangeiro. Ora, previa-se certamente que, depois de terem sido construídos órgãos ali mesmo em séculos passados, a construção destes instrumentos fosse progredindo cada vez mais (tanto que os nativos já se tinham tornado não só bons construtores de instrumentos para o culto divino como eram muito aptos para a música). Creio que o motivo pelo qual a construção destes instrumentos não teve continuidade na América do Sul não é um caso particular, mas sim parte de um fenómeno geral: o liberalismo, que na Europa fez estragos no que havia sido construído mas que na América impediu a continuidade daquilo que era uma base em construção.


RASCUNHO XXI


No séc. XIX assim se disse:

"Os sermonários abarrotavam e ainda abarrotam as bibliotecas públcas. Alvaro leitão, publicava os sermões das tarde de quaresma e de toda a semana santa. D. Rafael Bluteau dedicava ao Grão-Duque de Toscana seus sermões impressos em Lisboa. O licenciado António da Silva, natural da Bahia, também em Lisboa, dava à luz os sermões das tardes dos domingos de quaresma, pregados na matriz do Recife de Pernambuco. E o agostiniano Fr. Simão da Graça, também desta mesma cidade de Lisboa dava a lume os sermões pregados na Índia Oriental. Podia falar dos sermões do bispo do Rio de Janeiro, D. Fr. António de Guadalupe, impressos em Lisboa no ano de 1749: nos sermões oferecidos ao infante D. António pelo padre António de Bettencourt, mas basta dizer que sobem a milhares os seromnários impressos em Lisboa, Porto, Coimbra, Goa, Roma e várias outras povoações. É extraordinário o número das pastorais, e dos sermões que no reinado de D. João V se prégaram, e imprimiram, distinguido-se até algumas edições pelo seu luxo e boa impressão.

Rara seria por aquele tempo a pessoa, em certa posição social que por ocasião da sua morte não tivesse uma, ou mais do que uma oração fúnebre. Teve-a Diogo de Mendonça Côrte Real, na igreja paroquial de Santa Justa de Lisboa: teve a Fr. António Manuel de Vilhena, Grão-mestre de S. João do Hospital na matriz de Campo maior: teve a D. Luiza Simôa de Portugal, condessa de Redondo, recitada por D. José Barbosa na igreja do Espírito Santo de Lisboa. Teve-a o conde da Calheta Afonso de Vasconcelos, na igreja da Conceição Velha, e tiveram-na milhares e milhares de pessoas, pois são milhares as orações fúnebres, umas impressas, outras inéditas. Também o número dos sermões prégados nas procissões das freiras é extraordinário. Mas citarei tão somente, atendendo à brevidade, os sermões pregados pelo Pe. D. Rafael Bluteau nas procissões de D. Violante Caetana de Castro no convento de Odivelas, o da procissão de duas irmãs no mosteiro de Santa Clara de Lisboa, e um outro sermão do mesmo género prégado no mosteiro do Calvário.


RASCUNHO XXII

Tenho em mão um documento bastante raro. Infelizmente não tenho tempo para explorá-lo nem transcrevê-lo. Foi escrito por um homem informado e culto, que teve de fugir para a América do Sul logo após o 25 de Abril. Este Português perseguido dá-nos muita informação e faz um paralelismo entre a revolução bolchevique e o golpe do 25 de Abril em Portugal.

Tem por nome Afonso Castelo e creio que o seu escrito pareceu talvez exagerado a quem o leu. Eu mesmo fiquei com essa ideia, contudo, com o tempo, juntando todas as peças, reparei que Afonso Castelo "peca" apenas em ter começado a contar a história pelo fim, parecendo tratar coisas fortes de mais para serem realidade. Há certamente aquela emotividade própria de pessoa que sofre perseguição, mas fornece-nos dados muito importantes e fiáveis (boa parte deles podem ser ainda confirmados hoje).

Escutemos a Afonso Castelo:

"António de Spínola, o Kerensky de Portugal"

"Marcelo Caetano é o infiltrado máximo, o traidor que simulou todo o tempo para favorecer o avance do comunismo"

"Existe um assombroso paralelismo com os acontecimentos prévios à tomada do poder pelos bolcheviques na Rússia..."

"...revolucionários proposicionais recrutados pelo judeu Leão Trotzky nos subúrbios de Nova York."

"Como em S. Petesburgo, Lisboa viu-se invadida por uma legião de seres estranhos chegados do exterior."

"Comunistas, homossexuais, socialistas, opusdeistas, prostitutas, democratacritãos, todos eles rebelados numa bebedeira demagógica, prometem paraísos impossíveis e mentem escandalosamente sobre o regime derrubado."

"

HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA REAL BASÍLICA E MOSTEIRO DO SANTÍSSIMO CORAÇÃO DE JESUS DA CIDADE DE LISBOA (II)

(continuação da I parte)



I. CAPÍTULO
De Como Sua Eminência Fez a Solenidade da Bênção da Cruz e Primeira Pedra Fundamental, que se Lançou Papa a Real Basílica no Dia 24 de Outubro de 1779

"Fernandus de Souza da Silva Primus Principalis Ecclesiae Lisbonensis Lusitanus S. R. E. Presbyter Cardinalis creatus a SSmo D. N. Pio Papa VI in Consistorio secreto die primaJunii An. 1778"

Para se proceder a esta soleníssima acção se armou junto ao novo convento uma famosa igreja de madeira, do mesmo tamanho que estava delineada na planta: o interior desta grande barraca, que tinha da porta principal até ao fundo da Capela Mor 245 palmos, e o Cruzeiro 170 de comprimento; estava ornada de damascos e veludo carmesim, com sanefas pendentes, tudo guarnecido com galões e franjas de ouro; em cada lado da igreja estavam seis grandes janelas de um vidro cada uma, e muitas na Capela Mor, que iluminando aquele grande templo, davam novo esmalte às tapeçarias que o ornavam:por destreza da Capela Mor estava uma grande tribuna riquicimamente guarnecida, repartida em três camarins, e superior ao lugar em que devia pôr-se a primeira pedra: os corredores do convento que se achavam edificados, se cobriram de custosas tapeçarias.

Preparou-se uma casa para paramentos, um camarim de falda para o Eminentíssimo Cardeal Patriarca Fernando, camarins para todos os excelentíssimos Principais, uma sala para os ilustríssimos Monsenhores; todas conforme a sua graduação ricamente armadas, e alcatifadas de pano verde: preparou-se mais o locutório de fora, com escolhidos e custosos ornatos, para ElRey, e o Sereníssimo Príncipe D. José, e três camarins no sítio da portaria para a Corte onde tinham de esperar o Eminentíssimo Senhor Patriarca, que de casa dos paramentos havia de vir em procissão para a bênção da pedra.

Mandou o Eminentíssimo Senhor Patriarca avisar todas as pessoas eclesiásticas que deviam de vir oficiar na função, indicando-lhes os lugares que deviam ocupar, os ministérios que tinham de exercer e a hora em que naquele sítio se deviam achar, e para tudo isto ordenou primeiro Sua Eminência que se fizesse a intimação da formalidade seguinte:

"Intimatio Facienda Per Cursores Etiam Domi
Dimissa Copia.

Dies 24 mesis octobris Eminentissimus, et Reverendissimus Dominus Cardinalis patriarcha hora 9 matutina Pontificalibus Ornamentis indutus, benedict primarium Lapidem, quem a Fidelissimo Rege Nostro delatum imponet in designato fundamento novae Ecclesiae in honorem Sanctissimi Cordis Jesu aedificandae.
Excellentissimi, et Reverendissimi Principalis, ante praedictam intimationis horam, venient habitu sua ordinario in aulas paratas, diversisque cubiculis pro singulis interceptas, in quibus capas rubeas super vestes ejusdem coloris recipient, exceptis Excellentissimis, et Reverendissimis duobos primis Diaconis, qui Amictum Dalmaticam albi coloris, et Mitram accipient quibus omnes induti, ad Aulam paramentorum accedent, ubiexpectabuns adventum Eminentissimi Domini Cardinalis Patriarcha: quem acceptis paramentis, associabunt usque ad Ecclesiam disignatam ibique juxta scamna sua genuflexi versus Crucem in Altaris loco pridie collocatam orabunt.
Post Orationem, nula praestite obedientia, ibidem per totam functionem stantes permanebunt; genuflectentes tantum ad Litanias, ad Flectamus genus aspersione circulari fundamentorum bis repetendum et ad primam strophen Hymni Spiritus Sancti.
Finita fundamentorum aspersione, et Hymono Veni Creator Spiritus cantato cum duplici oratione; duo Excellentissimi et Reverendissimi Diaconi Assistentes Pluviale Eminentia Suaea exuent et ad sacamnu suum recedent ibique paramenta sacra deponent, et predictas capas rubeas accipient, et ad Missam planam ab Eminentia Sua celebrandam cum aliis Excellentissimis Principalibus genuflexi assistent, surgentes tantum ad Evangelia, et ad osculum pacis inter se communicandum receperit.
Eminentissimus Dominus Cardinalis patriarcha quoties in Missa laverit manus, ad eas abstergendas mantile Excellentissimus Decanus ministrabit.
Surgentibus omnibus post Missam, duo primi Excellentissimi Diaconi redibunt ad assistentiam Eminentissimi Domini Patriarchae, quem ante Altare, Casula jam exuctum. Pluviali induent et ad Hymnum Te Deum per ipsum intonatum, stantes omnes assistent, et ad Versum = Te ergo quaesumus genuflectent.
Versus, et Orationibus pro gratiarum actione cantatis, data que solemni benedictione per Eminentissimum Dominum Cardinalem Patriarcham, Indulgentias per ipsum concessas primus Presbyteralis Ordinis Principalis de more prope Altares publicabit.
Deinde Eminentiam Suam ad Cameram paramentorum associabunt, et cappis depositis, ubi eas receperunt, ad propria redibunt.
Ideo intimentur Excellentissimi, et Reverendissimi Principales, et duo primi Nobilis Soli, Illustrissimi quatuor primi Prelati Assistentes, et Sacrista, três primi Subdiaconi, et septem antiquiores Acolythi Patriarchales.
De mandato Eminentissimi, et Reverendissimi Domini Cardinalis Patriarchae.
Joannes Georgius Laurerus Caermoniarum Magister."


No dia 23, estando dois regimentos de Infantaria guardando a igreja, vários piquetes de cavalaria guardando as ruas, e os timbaleiros reais dentro da porta principal, distribuídos por ambos os lados, vieram Suas Magestades e Altezas de Queluz, e se dirigiram à casa dos paramentos, onde estava armado um Altar com sua banqueta de prata, velas acesas, que cobria um rico docel, e encostada ao mesmo altar uma grande Cruz, que o Excelentíssimo Principal Almeida Decano da Santa Igreja Patriarcal, paramentado com Pluvial benzeu com as cerimónias devidas, assistindo Suas Magestades e Altezas num rico troneto, que lhes estava preparado no lado do Evangelho, com sete cadeiras de veludo carmesim e pregaria dourada, e posta depois a Cruz sobre uma alcatifa a adorou e osculou o Excelentíssimo Celebrante e o mesmo fizeram Suas Majestades e Altezas cujo devoto exemplo seguiram os Eclesiásticos, Nobreza e mais Pessoas que ali se achavam estando neste tempo as Pessoas Reais sentadas nas suas respectivas cadeiras.

(continuação, III parte)

O BRASÃO PELO QUAL SE PODE ORAR CLXXX


28/04/13

HISTÓRIA DA FUNDAÇÃO DA REAL BASÍLICA E MOSTEIRO DO SANTÍSSIMO CORAÇÃO DE JESUS DA CIDADE DE LISBOA (I)


INTRODUÇÃO

Tem Lisboa o seu assento na parte Ocidental de Hespanha, onde o Tejo entra no Oceano: é Emporio do Mundo, e Metrópole de Portugal: notável pela sua dilatada extensão, numerosa povoação, e famoso porto: fica ela trinta e nove graus da parte Norte debaixo do signo de Aries, no fim do quinto, e princípio do sexto clima: fundada como outra Roma sobre sete montes: banhada do Sol tanto que nasce: é a Pátria Gloriosa de Sto. António, e é uma das mais célebres Cortes do Universo, desvelando-se sempre todos os Senhores Reis de Portugal em a ampliar e enobrecer de Magníficos, e sumptuosos templos, sendo hoje entre estes o mais célebre o de que, com o favor de Deus, pretendemos tratar; o qual está situado no casal da Estrela, sítio este muito saudável, por ser elevado, e levado dos ventos mais que nenhum outro, com excelente vista de mar e terra, dominando a Cidade toda: sítio também muito célebre pelo Cenobio do Patriarca S. bento, que aí se edificou correndo o ano de 1571, tempo em que ainda governava estes Reinos a Senhora Rainha D. Catarina na menoridade de seu filho (sic, aliás neto) o Senhor Rei. D. Sebastião.

Os reformadores da Ordem de S. Bento havendo de fundar casa na Cidade de Lisboa, para ser mais conhecida, e venerada dos fiéis, vendo-se perplexos e confusos, lhe foi, segundo se escreve, necessário para decidir a sua perplexidade e confusão, que um homem de venerável ancianidade, dissesse a um deles, pregando um dia as lágrimas da Madalena, no convento das Religiosas da Esperança, ao descer do púlpito:

“Bem sei, Padre, que andais buscando sítio para a nova fundação do vosso convento; eu vos mostrarei um, se esperardes por mim à hora Sexta, neste próximo olival, que vos não há-de desagradar.

O reformador alvoroçado se avistou com o venerando homem no lugar e hora aprazada, e o levou ao alto da calçada, onde hora está o Colégio da Estrela, em cujo lugar então estava uma quinta, que era do Governador de S. Tomé, que apra isso se comprou; e neste mesmo lugar se fizeram logo casas, igrejas, sacristias, dormitório, e noviciado do convento, que então se chamou de S. Bento da Saúde, para trinta religiosas que vieram de Entre-Douro-e-Minho, hoje porém se chama Colégio de Nossa Senhora da Estrela, depois que os Religiosos se passaram para o novo, que é o que se intitula hoje de S. Bento da Saúde.

Sítio, enfim, muito mais célebre pela escolha do lugar, que Sua Magestade a Rainha Nossa Senhora teve para no mesmo edificar este majestoso edifício; por quanto fora este lugar onde o povo de Lisboa concorrera ao espectáculo dos toiro, e depois dividido em pequenas barracas foram habitadas por pessoas de nota quase todas, sendo por isso ao contrário convertido um tão notável lugar em santuário; sucedeu aqui o mesmo que na antiga Roma, por quanto sendo está um teatro de sacrilégios da gentilidade, foi depois a cabeça e centro da Unidade Cristã, e alumiada com a luz da verdade evangélica, ou para que com mais eficácia esta se pudesse derramar pelo Mundo todo, ou para não poder deixar de ser logo conhecida de todos os viventes; uma acção pois tão santa não podia deixar de estar reservada para Sua Magestade.

Quase 640 anos haviam decorrido depois que em Portugal foi respeitado o título de “Rei” e tendo governado vinte e cinco Príncipes, foi a Princesa D. Maria I que empenhou o real ceptro português, para grande felicidade da Nação: deu o título de Rei a sua esposa, na conformidade das Leis fundamentais do Reino.

Nasceu esta Princesa em Lisboa no dia 17 de Dezembro, correndo o ano de 1734; casou com o Sr. Infante D. Pedro seu tio paterno, no dia 6 de Junho de 1760, o qual nascera em 5 de Julho de 1717; subiu ao Trono em 24 de Fevereiro de 1777, sendo aclamada Rainha, com um nunca visto prazer em 13 de Maio do mesmo ano: começou o seu Reinado pela clemência, absolvendo todos os réus de estado, e logo pela exímia piedade para com Deus; por quanto como venera ternamente o Santíssimo Coração de Jesus, cheia da maior confiança, prostrada na presença do Altíssimo em dia de S. Rafael 24 de Outubro, anterior ao de Agosto de 1716, em que nasceu o Príncipe D. José, fez voto ao mesmo S.Smº Coração, que, se desse favorável despacho às suas fervorosas súplicas, concedendo sucessão a este seu Reino, lhe fundaria em honra sua uma igreja e convento para religiosas reformadas de baixo da Regra de Sta. Teresa, para que estas suas esposas unidas com as suas piedosas intenções, fossem perpétuas com ela no agradecimento da sucessão da sua Coroa: o sucesso mostrou ser este voto agradável ao Altíssimo, e tendo sua Magestade conseguido o desejado fim, tratou de o cumprir.

Fez Deus mercê a Sua Magestade de lhe dar sucessão, viu Sua Magestade multiplicada a Real Família em seus Filhos, dos quais, o Príncipe D. José nasceu a 21 de Agosto de 1761, dia em que nascera o Sr. Rei D. Afonso VI de quem o mesmo Príncipe se lembrava tantas vezes, quantas dele se lembrava: o Infante D. João nasceu a 26 de Setembro de 1763: o Infante D. João nasceu em 13 de Maio de 1767: a Infanta D. Mariana Victoria nasceu a 15 de Setembro de 1768: a Infanta D. Maria Clementina, nasceu a a 9 de Julho de 1774; e a Infanta D. Maria Isabel nasceu a 22 de Dezembro de 1776; dos quais o Príncipe D. José havendo casado em 23 de Fevereiro de 1777, com a Senhora D. Maria Francisca Benedicta sua tia, faleceu sem sucessão em 11 de Setembro de 1788, quase às mesmas horas em que também falecera o lembrado Rei o Sr. D. Afonso VI: o primeiro Infante D. João faleceu no mesmo ano em que nasceu, a 10 de Outubro: o segundo Infante D. João, hoje Príncipe do Brasil, casou no ano de 1785, com a Senhora D. Carlota Joaquina filha do Rei Católico Carlos IV, de quem se espera fecundíssima descendência: a Infanta D. Mariana Victoria faleceu em 2 de Novembro de 1788, havendo casado em 1785 com seu tio o Infante D. Gabriel, filho do Rei Católico Carlos III, de cujo Matrimónio houveram treze filhos; o Infante D. Pedro que nasceu em 18 de Julho de 1786, o qual ora reside nesta Corte com grande prazer de todos, e da sua avó a Rainha nossa Senhora: a Infanta D. Carlota que nasceu a 4 de Novembro do ano de 1787, e faleceu no mesmo mês e ano; e o Infante D. Carlos, que nasceu a 28 de Outubro de 1788, e faleceu em Novembro do mesmo ano.

Vendo-se pois Sua Magestade tão obrigada ao S.Smº Coração de Jesus, cuidou logo em se lhe mostrar agradecida, já nas muitas festividades que de contínuo lhe mandava fazer, já nas duas magníficas e custosas capelas que lhe mandou edificar, para nelas ser adorado, ambas nos mosteiros do Carmo Descalço de Carnide.

Tomou, enfim,posse do Reino Sua Magestade, e sendo tantos os embaraços em que achou a sua Coroa, e maiores os cuidados para estabelecer o seu felicíssimo governo, ainda assim se não demorou em cumprir o seu voto, que não contando ainda um ano completo da sua gloriosa exaltação ao Trono, logo no mês de Janeiro próximo de 1778, mandou principiar o majestoso convento, para com ele satisfazer ao SSmº Coração de Jesus o voto que lhe havia feito; deu para o mesmo convento, igreja e cerca ElRey seu esposo, terreno competente no mencionado sítio do Casal da Estrela, o queal era pertença da casa do Infantado instituída pelo Sr.Rei D. Pedro II, e da qual estava de posse aquele Senhor, depois da morte dos Infantes D. Francisco, D. António, e D. Manuel.

Principiou-se pois o novo convento em 16 de Fevereiro de 1778; fizeram-se os muros da sua grande cerca; entrou-se com a caixa do convento por direcção e planta do Sargento Mor Mateus Vicente de Oliveira, que aprovou Sua Magestade, e aceitou em nome da Religião o Reverendíssimo padre Mestre Geral que então era, Fr. Manuel da Cruz: tratou-se com tanto ardor nesta obra, que em Outubro de 1779 já a cerca estava fechada, as oficinas em Outubro de 1779 já a cerca estava fechada, as oficinas concluídas, as paredes de todo o andar baixo galgadas, dois formosíssimos claustros quase perfeitos, e acabadas outras muitas casas; de modo que em 24 de Outubro de 1779 se lançou a primeira pedra da Real Basílica, e se começaram a abrir os alicerces, cuja acção se praticou na forma ordenada no Pontifical Romano e com a aparatosa solenidade que vamos a ver.

(continuação, II parte)

21/04/13

MARGÃO (Índia portuguesa) - DE COMO OS DEMÓNIOS SE REVOLTARAM

"Oriente Conquistado a Jesu Christo"
" No ano de 1645 se derrubou toda a fábrica velha e se fez no mesmo lugar a igreja, a qual usamos hoje, toda ela abobadada, muito clara e aprazível, que é a mais formosa de Salsete e pode competir no material com as boas da Europa e no formal com as melhores; porque tem quatro Irmandades, muita renda para pobres, e dizem nela Missa todos os dias quarenta (ou mais) Clérigos em seis Altares. Contudo é de fábrica limitada e não lhe abrangem os reditos às despesas.

O bairro Nuêm, na mesma adeia, se autoriza com uma capela de Jesus, Maria, José, muito linda e bem feita, com três Altares de retábulos dourados, e duas torres, a qual fábrica dotou e ordenou ricamente ao dispêndio de um Gancar de Margão, de nome José Colaço, merecedor desta lembrança por ser o único entre os da sua nação que até agora teve estômago para gastar em serviços de Deus 20.000 xerafins, não contando com o dote.

Em Janeiro de 1695, na noite antes do dia em que se disse a primeira Missa nessa capela, sentiu-se dentro dela um terremoto que fez tremer as portas e janelas. Com o abalo caíram do Altar seis castiçais e a imagem de um Crucifixo. Sentiram este terremoto várias pessoas que dormiam dentro da Ermida, e entre elas um Sacerdote chamado António Salvador Colaço, de quem agora, quando isso escreveu, me estou informando. O mesmo afirma com juramento o Pe. Jerónimo Barreto, natural de Margão, que se achou presente. No tempo da gentilidade eram todos estes bairros dedicados a vários demónios e parece que o demónio de Nuêm estava ainda de posse de seu bairro, que se viu obrigado a desistir dela esta noite com tanto estrondo, em rezão da Missa que se havia de celebrar na manhã seguinte." (DE SOUSA, Pe. Francisco. "Oriente Conquistado a Jesu Christo... 1564 até o anno de 1585", II Parte; Lisboa M.DCCX)

PORTUGAL CANINO - CÃO SERRA DA ESTRELA

A raça Cão da Serra da Estrela é das Beiras, mais propriamente da Serra da Estrela. É o cão pastor mais afamado de Portugal (toda a informação aqui)










PORTUGAL CANINO - CÃO DE FILA SÃO MIGUEL

Raça da ilha de S. Miguel (Açores). Cão pastor (toda a informação aqui)






PORTUGAL CANINO - CÃO DA SERRA DE AIRES

Raça alentejana da Serra de Aires. Cão pastor (toda a informação aqui)




20/04/13

COISAS ACONTECEM EM PORTUGAL


Nestes últimos tempos têm aparecido em Portugal muitos grupos novos que, repudiando o veneno que tem feito estragos na nossa pátria, dedicam-se à promoção de causas e ideias mais correctas. Há, pelo menos, um florescimento de ideias bem intencionadas, seja no campo da monarquia ou da filosofia pró-católicas. Infelizmente, ainda muitos não conhecem o pensamento realmente católico, o catolicismo de sempre com todo o seu brilho, sem deturpação.

A civilização católica deveria ter a oportunidade de se mostrar do Coração para a periferia a estes e a outro.

Hoje encontrei mais um desses grupos de base monárquica, a Sociedade Chesterton Portugal.

"Senhor, falta cumpri-se Portugal".

19/04/13

RASCUNHOS ASCENDENS (VI)

RASCUNHO XIX

PORTUGAL E CASTELA - A VERDADE DO TRATADO DE ALCÁÇOVAS-TOLEDO

Ouvi dizer que hoje comemora-se o aniversário do Tratado de Alcáçovas-Toledo. Contudo, este tratado data de 4 de Setembro de 1479 (Alcáçovas, Portugal) e foi rectificado a 6 de Março de 1480 (Toledo, Castela). Assim é...

D. Joana de Castela, a Excelente Senhora
Portugal protegeu a amizade com Castela e à legítima herdeira do seu trono, D. Joana (filha do Rei D. Henrique IV), contra a princesa D. Isabel que governava com o apoio da nobreza rebelde (que já antes antes tinha "coroado" seu irmão, Afonso de Ávila, reinando ainda D. Henrique IV legítimo Rei de Castela). Afonso de Ávila morreu imberbe deixando a nobreza rebelde sem "rei". Ao lado de Afonso permanecera Isabel que os rebeldes quiseram depois "coroar" como rainha de Castela, intento que esta princesa aceitou logo que falecido D. Henrique IV, rompe assim o juramento que tinha feito à legítima sucessora de D. Henrique, D. Joana, (que o escárnio dos rebeldes cognominou de "a beltraneja"). D. Joana tinha sido jurada como sucessora legítima, juramento feito pela nobreza castelhana (incluindo Isabel). A nobreza fiel ao Rei D. Henrique IV de Castela dividiu-se depois em lutas, uns pela legítima sucessora D. Joana, e outros pela princesa Isabel que já tinha o caminho preparado pela facção rebelde (estes rebeldes, ao vencerem, trataram de assentar na história que os fieis ao Rei legítimo fossem conhecidos por "rebeldes", fenómeno muito repetido na história, como vieram a ser o golpe liberal e o republicano em Portugal).

D. Afonso V de Portugal, o Africano.
Os nobres fieis de Castela, aliançaram-se com Portugal (D. Afonso V) contra os apoiantes de D. Isabel.

Sentada no trono, D. Isabel assaltou os territórios portugueses em África, várias vezes, por ouro e outras riquezas. A defesa do território português em África era um pesado fardo para os portugueses. Vários Papas tinham emitido Bulas para proteger esses territórios, e respectiva costa marítima, fazendo assim justiça ao Reino de Portugal. Estes territórios ficavam a sul de Canárias, ilhas usadas pelos portugueses antes da sua "descoberta". Portanto, quando Castela reclamou a descoberta de Canárias os portugueses já usavam tais ilhas há bastante tempo, tendo nelas feito algumas instalações de auxílio à navegação. Na verdade, Canárias era um ponto já conhecido dos navegadores do Atlântico ao longo de muito séculos, faziam parte da tradição marítima atlântica. Os povos que não tinham tradição de navegação no Atlântico ignoravam bastante o Atlântico e, portanto, ignoravam a existência das já conhecidas Canárias. Foi assim que Castela julgou-se descobridora de novidade, e foi assim que em Roma o Papa também não teve conhecimento impeditivo para não aceitar ou suspeitar da "descoberta". Quando correu a notícia da nova "descoberta", D. Afonso IV de Portugal escreve assim ao Papa Clemente VI:
"Afonso Rei de Portugal e do Algarve com devida reverência.... Como resposta à vossa carta com a devida reverência respondemos que os primeiros descobridores [entenda-se "descobridores católicos"] daquelas ilhas foram habitantes do nosso Reino. Verdadeiramente esperávamos que as quais ilhas existiam para nós... Mandámos nossas gentes e navios àquele lugar para examinar a condição dessas terras os quais ao chegarem a essas ilhas capturaram homens e animais à força..."
As Canárias tinham habitantes não cristãos quando os portugueses começaram a usá-las (antes do "descobrimento" castelhano). Contudo, o acto já estava consumado, o Papa tinha acedido à reclamação de "descobrimento" levado a cabo por Luís de La Cerda. Portugal tinha adiado assim a colonização por estar envolto em guerra com Castela e contra os muçulmanos em Marrocos. Em 1436, para remediar o acidente, o Papa dá a Portugal os direitos de conquista e governação de qualquer ilha das Canárias que ainda não estivesse habitada por cristãos, contudo Isabel de Castela não respeitou as ordens papais.

As guerras marítimas em torno das Canárias, entre Portugal e Castela, foram então inevitáveis. Se as Bulas papais não demoviam os castelhanos nem a vontade da sua rainha, nem a legítima ocupação de ilhas nas Canárias pelos Portugueses ao abrigo de tais bulas, como seria possível continuar a missão portuguesa dos descobrimentos tendo constantemente pelo caminho aquela rebeldia castelhana?

D. João II
Para Portugal, a importância das Canárias era fundamentalmente geográfica. Mas dar passo ao projecto da Índia tendo atrás os castelhanos não respeitadores de mares, nem de territórios, nem de Coroas, nem de Papas? Valeria a pena ou seria possível? Como afastar os Castelhanos!?...

D. João II de Portugal tinha uma orientação diferente de seu pai, D. Afonso IV, que tinha levado a peito o fazer justiça na questão da legitimidade de D. Joana como verdadeira herdeira de Castela. D. João II via tal causa como desgastante e perdida, preferindo livrar-se do acumulado de problemas num golpe só: o Tratado de Alcáçovas.

À Princesa Isabel de Castela, rainha dos rebeldes, Portugal propôs no mundo uma linha divisória HORIZONTAL separando  os territórios a conquistar (o Sul para Portugal e o Norte para Castela, com excepção das ilhas que Portugal já tinha descoberto e conquistado - Madeira e Açores). Em troca Castela ficaria com as Ilhas Canárias. Por consequência necessária e óbvia a aceitação do acordo coloca automaticamente a Princesa Isabel com estatuto de Rainha de Castela por parte de um Reino católico: Portugal. Com o tratado faz-se também uma aliança matrimonial significativa: a filha maior de Isabel é dada em casamento ao herdeiro do trono de Portugal.


Portugal não só tinha conhecimento das Canárias antes de La Cerda:  La Cerda entrou nas Canárias no momento em que Portugal estava a organizar a colonização destas ilhas, e o Rei D. Afonso IV tinha mandado fazer os preparativos. Pois claro, os historiadores falam de "fuga de informação", a qual serviu de muito grande lição para aos portugueses, como veremos. O secretismo de navegação tornou-se de tal forma vital à sobrevivência portuguesa que se deu início a um período de criação de mapas falsos, pena de morte para os infractores dos segredos de navegação, viagens fingidas com rótas de despiste, a queima das próprias embarcações, etc... etc... Tudo para evitar que a cobiça castelhana pudesse repetir desonestas e mais graves proezas que aquelas que já tinha cometido em poucas décadas.

Esta é a história pela qual se introduziu no mundo a divisão das conquistas entre Portugal e Castela. Tudo se deve à tentativa de Portugal proteger-se da maldita cobiça de um reino vizinho usurpado por meia nobreza e que iniciou a sua tradição de navegação atlântica desta triste forma. O Tratado de Tordesilhas surge logo depois, porque Castela nem o Tratado de Alcáçovas cumpriu. Mas, desta vez, estávamos bem precavidos!

D. Joana (herdeira de Castela) permaneceu em Portugal, foi tratada como Rainha de Castela pelos Portugueses com todas as honras devidas, em palácio que a ela destinámos, mas, para dar mais proveito à dor fez os votos religiosos e fez do palácio o seu claustro. Sempre assinou como Rainha de Castela até à sua morte, sempre foi respeitada e admirada em Portugal como o cognome de "a excelente Senhora".

ASCENDENS - Pedido de Desculpas


Em três anos o blogue subiu cerca de 12X (número de leitores). Isto tem o seu desconforto: não me agarrei à "subida", não interpreto a quantidade como qualidade. Assim acontece por vezes como hoje: por volta das 8 da manhã, redigi e publiquei o artigo "Pequena Reflexão - O Liberalismo e a Obediência" que tinha em mente, e com ele despejei o sono que tinha. Felizmente, nestes casos, e sobretudo de manhã, não é o conteúdo que se emperra e sim a forma. Escrevi e publiquei sem ler... li agora e corrigi.

Em geral, acontece um pouco assim: concentrado no conteúdo e semântica acabo por roubar um pouco à sintaxe. Escrever não é uma doçura, ou o é muito raramente, e ler é pior: não me agrada tropeçar constantemente num texto cheio de imprecisões e ambiguidades (ou desonesto), isso traz-me um desconforto que chega a ser dor. Em muitas ocasiões, em anos passados, respondi "prefiro ler o manual de instruções" de um electrodoméstico qualquer. Hoje melhoro dizendo: prefiro ler um manual de instruções bem feito, ou então qualquer coisa escrita por um santo.

Há dias em que corrijo varias vezes um artigo que já publicado (sim...várias vezes!). É frequente que a forma esteja aquém do conteúdo ou muito aquém da intenção (isto deve acontecer a muita gente). Ainda na semana passada corrigi um artigo meu que me deixou envergonhado perante mim, não pelo conteúdo, graças a Deus, mas porque me faltou sujeitá-lo ao método final: inverter a ordem de preocupação colocando a sintaxe em primeiro, depois a semântica e finalmente o conteúdo ou intenção.

Os artigos são como ideias que encarnam, por isso, sabendo eu das minhas limitações e também das possibilidades, sempre informei os leitores que os artigos ASCENDENS estão sujeitos a evolução verdadeira: quase nunca estão qualitativamente terminados, mesmo que possam estar terminados em extensão e na estrutura.

Queria o leitor desculpar os incómodos desta metodologia lenta, mas orgânica, com publicações tão rápidas que escapam à prévia auto-censura.

MOSSAD - ELES ANDAM POR AÍ

Publicado por "Mundo" online (18/04/2013), da autoria de João Pedro Pincha:

"Quer ser espião? A Mossad está a contratar

Numa campanha inédita nas redes sociais, a Mossad anuncia que está em busca de pessoas "ousadas, inteligentes e subtis".

A Mossad, agência secreta israelita, lançou uma campanha publicitária online para recrutar novos agentes. A campanha – com o slogan "Com inimigos destes, precisamos de amigos" – é uma das maiores promovidas pela agência nos últimos anos e está a decorrer em exclusivo nas redes sociais.

"Se consegue excitar, fascinar e motivar pessoas, você deve ser feito do material de alta qualidade que andamos à procura. A Mossad está à sua espera", diz o anúncio, que tenta aliciar "homens e mulheres criativos para um trabalho interessante, dinâmico e fora do comum".

A Mossad está interessada em pessoas com formação militar, em falantes de persa e árabe, em professores de línguas, profissionais de novas tecnologias, químicos, assistentes de laboratório, designers gráficos, psicólogos, fiéis de armazém e carpinteiros, diz o jornal israelita Yedioth Ahronoth.

Aos candidatos escolhidos, a Mossad adverte que terão um "estilo de vida irregular", mas garante a realização de diversas viagens ao estrangeiro e formação de um ano. A Mossad é mundialmente famosa desde a sua criação, em 1948, não só pela perseguição a nazis, mas também pelos seus métodos, geralmente considerados brutais e altamente sofisticados."

Bom proveito...!

PEQUENA REFLEXÃO - O LIBERAL E A OBEDIÊNCIA

S. Pedro no trono da Igreja
(pintado por Grão Vasco - Viseu, Portugal)
A mente liberal está limitada também no conceito de "obediência". Para ela, a obediência é algo tolerável na medida em que esta se deve manter apenas para evitar desequilíbrio. A obediência é assim por ele vivida mais como "mal necessário", mesmo sem atrever-se a dizê-lo; no fundo, se não tivesse consequências em dizê-lo, ele diria que a obediência é um atentado tolerável contra a liberdade, um "dano colateral".

O liberal tende a olhar a obediência ao contrário: do ponto de vista do mando, porque deseja o mando para si ou porque a sociedade em que vive já lhe transmitiu o mesmo pensamento, mas não deseja a obediência para si. Em suma, o obediente seria mais um coitado que suporta, do que um privilegiado. Assim, concebe o poder como algo desejável para si, e como tal para todos (algo socialmente disputável). Um desejo a ser satisfeito com a rotatividade do poder (que toque a todos um dia mandar) ou a democracia (com a ilusão de que assim todos mandariam um pouco). A parte feia do poder rotativo seria o ter de obedecer para que o mecanismo possa funcionar "justamente".

Na civilização católica acredita-se o contrário: o poder é um fardo com dignidade, ao qual se pretende fugir se possível, e uma vez assumida a carga (do cargo) deve o indivíduo sujeitar-se humildemente a ele com grande responsabilidade perante Deus e perante os homens. O liberal, não chegando tão alto, menos sofisticado, mais embrutecido de espírito, infantil, acaba por confundir o cargo com ele mesmo, como se fosse um direito e nunca um dever (o que faz com que dificilmente se submeta humildemente ao cargo, e acabe por usar o cargo ao serviço dos seus gostos particulares com mais ou menos moderação).

A obediência é um bem, tanto que, um católico poderá desejar ardentemente ter a quem obedecer para mais facilmente progredir. Para podermos obedecer com maior perfeição, claridade e constância, coloca-nos Deus os nossos pais e, mais tarde os "legítimos superiores", e protegeu este bem enorme como Lei Divina. Menor sorte é a do cristão ao qual Deus não manda um instrumentos visível para se exercitar na virtude da obediência.

TEXTOS ANTERIORES