29/04/13

RASCUNHOS ASCENDENS (VIII)

RASCUNHO XX
Aquela preocupação é muito pertinente, e hoje deve servir de exemplo, mais que nunca.

Há menos de um mês, uma senhora de um país da América do Sul, contava-me que um amigo da família tinha construído uma casa em pedra e que, depois de ter falecido, o filho não se interessou de terminar que daquela casa ficou por terminar. Eu comentei que: há uma mentalidade que vende pedras e as madeiras para depois poder comprar cimento (concreto) e tijolo em forma de casa. Segundo a mesma mentalidade,

Para se construir uma boa casa, uma igreja, um palácio, ou mesmo uma catedral, há que ter: pedra, madeira, argila. Evidentemente que, tal como numa "casa moderna", há que ter pessoas que trabalhem e ferramentas.

Dou como exemplo uma quinta que conheço muito bem. Há séculos era ela um terreno de abundante água, com algumas rochas intercaladas com terra de cultivo, árvores e animais de caça. Hoje um terreno desses seria facilmente confundido por rebelde e impróprio para cultivo ou habitação, contudo, para os nossos antigos, seria facilmente reconhecido como excelente (e é o caso do terreno do qual falo). Para lá da fertilidade e da abundância de água (que ali era comum), o Senhor das terras achou nelas a vantagem das árvores e rochas. Com as rochas e pedras, granito de duas ou três qualidades, mandou erguer muros em torno de toda a quinta (protegendo-a de animais mansos ou ferozes, e inibir não dispor à mão alheia apetecíveis momentos), mandou também construir uma casa de dois pisos com paredes de 1m de espessura, etc.. Com os castanheiros que ali havia, foi armado todo o sistema dos telhados, feitas tábuas para o soalho, o beirado, boas portas, etc.. As telhas, provavelmente, foram feitas com o barro de um dos lados da quinta.

Há anos, por necessidade de adquirirem um órgão (verdadeiro, ou electrónico) para uma dada igreja, previa-se que determinado padre tivesse que ir da América do Sul à Europa fazer uma angariação de fundos. Ele, acostumado a fazer peditórios, desabafou dizendo que ali [naquele país da América do Sul] as pessoas tinham uma concepção algo artificial destas coisas: as obras maiores apareceriam feitas com donativos europeus ou norte-americanos! Dizia que isto teria de acabar, pois havia que pedir a Deus a forma de obter as coisas pela forma mais natural e directa e aprender a construir e aproveitar melhor. Eu entendi rapidamente este padre, porque de certa forma já tinha chegado a conclusão idêntica.

Recordei-me depois do caso dos Jesuítas, que tinham tido ali órgãos e outros instrumentos arquitectados por eles e construídos pela mão dos nativos (que em pouco tempo se tornaram hábeis a executar com perfeição estas e outras artes de exigência). Hoje, no mesmo lugar, havendo mais recursos que nunca, a iniciativa, neste caso, limita-se a angariar dinheiro exterior para mandar fazer um órgão no estrangeiro ou, pior, comprar uma imitação electrónica ao estrangeiro. Ora, previa-se certamente que, depois de terem sido construídos órgãos ali mesmo em séculos passados, a construção destes instrumentos fosse progredindo cada vez mais (tanto que os nativos já se tinham tornado não só bons construtores de instrumentos para o culto divino como eram muito aptos para a música). Creio que o motivo pelo qual a construção destes instrumentos não teve continuidade na América do Sul não é um caso particular, mas sim parte de um fenómeno geral: o liberalismo, que na Europa fez estragos no que havia sido construído mas que na América impediu a continuidade daquilo que era uma base em construção.


RASCUNHO XXI


No séc. XIX assim se disse:

"Os sermonários abarrotavam e ainda abarrotam as bibliotecas públcas. Alvaro leitão, publicava os sermões das tarde de quaresma e de toda a semana santa. D. Rafael Bluteau dedicava ao Grão-Duque de Toscana seus sermões impressos em Lisboa. O licenciado António da Silva, natural da Bahia, também em Lisboa, dava à luz os sermões das tardes dos domingos de quaresma, pregados na matriz do Recife de Pernambuco. E o agostiniano Fr. Simão da Graça, também desta mesma cidade de Lisboa dava a lume os sermões pregados na Índia Oriental. Podia falar dos sermões do bispo do Rio de Janeiro, D. Fr. António de Guadalupe, impressos em Lisboa no ano de 1749: nos sermões oferecidos ao infante D. António pelo padre António de Bettencourt, mas basta dizer que sobem a milhares os seromnários impressos em Lisboa, Porto, Coimbra, Goa, Roma e várias outras povoações. É extraordinário o número das pastorais, e dos sermões que no reinado de D. João V se prégaram, e imprimiram, distinguido-se até algumas edições pelo seu luxo e boa impressão.

Rara seria por aquele tempo a pessoa, em certa posição social que por ocasião da sua morte não tivesse uma, ou mais do que uma oração fúnebre. Teve-a Diogo de Mendonça Côrte Real, na igreja paroquial de Santa Justa de Lisboa: teve a Fr. António Manuel de Vilhena, Grão-mestre de S. João do Hospital na matriz de Campo maior: teve a D. Luiza Simôa de Portugal, condessa de Redondo, recitada por D. José Barbosa na igreja do Espírito Santo de Lisboa. Teve-a o conde da Calheta Afonso de Vasconcelos, na igreja da Conceição Velha, e tiveram-na milhares e milhares de pessoas, pois são milhares as orações fúnebres, umas impressas, outras inéditas. Também o número dos sermões prégados nas procissões das freiras é extraordinário. Mas citarei tão somente, atendendo à brevidade, os sermões pregados pelo Pe. D. Rafael Bluteau nas procissões de D. Violante Caetana de Castro no convento de Odivelas, o da procissão de duas irmãs no mosteiro de Santa Clara de Lisboa, e um outro sermão do mesmo género prégado no mosteiro do Calvário.


RASCUNHO XXII

Tenho em mão um documento bastante raro. Infelizmente não tenho tempo para explorá-lo nem transcrevê-lo. Foi escrito por um homem informado e culto, que teve de fugir para a América do Sul logo após o 25 de Abril. Este Português perseguido dá-nos muita informação e faz um paralelismo entre a revolução bolchevique e o golpe do 25 de Abril em Portugal.

Tem por nome Afonso Castelo e creio que o seu escrito pareceu talvez exagerado a quem o leu. Eu mesmo fiquei com essa ideia, contudo, com o tempo, juntando todas as peças, reparei que Afonso Castelo "peca" apenas em ter começado a contar a história pelo fim, parecendo tratar coisas fortes de mais para serem realidade. Há certamente aquela emotividade própria de pessoa que sofre perseguição, mas fornece-nos dados muito importantes e fiáveis (boa parte deles podem ser ainda confirmados hoje).

Escutemos a Afonso Castelo:

"António de Spínola, o Kerensky de Portugal"

"Marcelo Caetano é o infiltrado máximo, o traidor que simulou todo o tempo para favorecer o avance do comunismo"

"Existe um assombroso paralelismo com os acontecimentos prévios à tomada do poder pelos bolcheviques na Rússia..."

"...revolucionários proposicionais recrutados pelo judeu Leão Trotzky nos subúrbios de Nova York."

"Como em S. Petesburgo, Lisboa viu-se invadida por uma legião de seres estranhos chegados do exterior."

"Comunistas, homossexuais, socialistas, opusdeistas, prostitutas, democratacritãos, todos eles rebelados numa bebedeira demagógica, prometem paraísos impossíveis e mentem escandalosamente sobre o regime derrubado."

"

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