Com o uso alargadamente abusivo e impróprio que hoje se faz da palavra "Fé" cria-se uma vil barreira ao entendimento dos textos e usos ao longo dos séculos. Se perguntarmos a um desses ignorantes usuários o significado de "Santa Fé", como nome dado antigamente a localidades e cidades, serão obrigados a uma resposta errada, ou ao silêncio. Segundo a "ignorância religiosa" desses ateus ou até católicos processar-se-ia em suas inteligências o seguinte: "ora, "fé" = "crença irracional", portanto o nome de tal cidade é um memorial ao crer irracional". Como não concluir depois que os homens daquele tempo eram irracionais? Como não concluir depois que todos os rebeldes teria de estar certos em seus raciocínios? Na verdade, uma coisa é certa: a "ignorância religiosa" de quem conclui tais coisas não difere muito de tais rebeldes, com a grande diferença de que antes eram uma minoria e hoje são a maioria. O que inventam hoje sobre o "ensinar a Fé"? O que pensa o católico-anti-católico que querem dizer os nossos antepassados com o "ensinar a Fé"? A honestidade de muitos obrigaria no máximo a concluir que se trata do "ensinar a acreditar sem ver". Um católico que saiba realmente o que é a Fé entenderá perfeitamente o significado de "ensinar a Fé" tão naturalmente que entre si e os antigos não há nisso distância alguma: significa ensinar os conteúdos da Fé que são as verdades reveladas, a Doutrina. O mesmo seria para "pregar a Fé", "conhecer a Fé" e, agora sim, entender que "Santa Fé" é um louvor às verdades doutrinais reveladas por Deus e transmitidas ao longo dos tempos pela Santa Igreja de Nosso Senhor.
Olhando algo menos universal, mais português, temos a própria Mãe de Deus a dizer "dogma da Fé" quando apareceu em Portugal aos três pastorinhos. Naquele tempo "dogma da Fé" era perceptível, mas hoje é raro haver quem não fique confundido ou enganado com estas palavras por ter assimilado falsas noções do que é a "fé". Ainda, relativamente à dificuldade de entender o significado de "dogma da Fé", há outros factores especiais como é o caso do espanto que provocam a quem conheça o significado. Os católicos mundanizaram-se com a deturpação geral dos conceitos que afinal lhes são próprios: abriram a porta ao mundo, adoptaram mundo, e agora perderam a chave que lhes permitiria conhecer o catolicismo. O "dogma da Fé" é um reforço, é uma dupla referência à Doutrina tradicional e fundamental, tanto porque a Fé contem tais verdades como pelo carácter dos dogmas que são igualmente verdades de Fé (a vantagem da repetição, entre outras, é a de que nos nossos tempos, e no futuro, "fé" apenas é entendida como o acto de acreditar sem contar com o conjunto de verdades reveladas que devem ser acreditadas).
Voltemos ao passado para conhecer mais um pouco dos significado próprio, agora com a "Chronica do Principe Dom Joam..." escrito por Damião de Góis e editado em 1567:
"Foi o Papa Calisto III homem zeloso e desejoso de restituir a Terra Santa à Fé de Cristo, sobre qual negócio [empresa, acção] mandou legados a todos os Reis Cristãos concedendo-lhes para isso Cruzada ..." (Cap. X, pág. 2)
"..., também são obrigados a guardarem lealdade a seus Reis, senhores, e capitães, e aconselharem-nos bem, porque o cavaleiro que tem a Fé obrigada, e não cumpre com ela é como homem a quem Deus deu razão e não quer usar dela..." (Cap. X, pág. 14)
"... que a coroa deles se juntasse à de Portugal, porque separados estes Reinos seu santo nome por cada um deles fosse como o é cada dia mais conhecido, exaltado, e glorificado, o que por indústria e trabalho dos Reis destes dois Reinos, do Oriente ao Ocidente, vai em tanto crescimento que se Deus por nossos pecados não quiser fechar a nação Castelhana e Portuguesa as portas que lhes por sua graça lhes quis abrir, todos os mares e terras que têm achado, se pudesse esperar que em breve tempo o universo seja descoberto, e nele ouvida, pregada, e recebida sua santa Fé." (Cap. LVI, pág. 56)
Na segunda transcrição há uma observação para com o cumprimento da Fé, o que supõe a possibilidade de cumprir ou não com a Fé. Obviamente que se trata dos conteúdos da Fé, portanto, concretos, e não do mero acreditar subjectivo em alguma coisa que não se vê ou não se explica, seja ela qual for. Também na última transcrição a Fé é algo pregável, transmissível e audível, justamente por não ser apenas assentimento e ter conteúdos que se expõe e nos quais se crê ou descrê.
As referências bibliográficas aqui usadas não são seleccionadas segundo géneros temáticos. Tanto têm servido os livros próprios para os assuntos da religião como todos os outros igualmente produzidos pela civilização católica. A primeira parte da "Monarchia Lusitana", composta por Frei Bernardo de Brito (Cronista Geral), ALCOBAÇA - 1597, diz:
"... estilo de vida incontinente e dissoluta, invejando interiormente a familiaridade com que Deus tratava a seu irmão Abel, e o avantajado amor que o pai lhe tinha, e foram estas coisas tão eficazes no ânimo donado de Caim que levando o irmão à falsa Fé o matou no campo Damasceno em que Adão fora criado..."
"Bem se temeu Tago quando viu tantas armas no lugar onde se havia de tratar do concerto. Mas, dissimulando com tudo, festejou aos Cartagineses com dons e palavras, e aos Celtas satisfez os danos que se julgou terem recebidos, e prometeu em nome do seu povo guardarem a Fé e lealdade como bons amigos..."
(terá continuação, se Deus quiser)
(terá continuação, se Deus quiser)
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