07/11/11

A FÉ - TAL COMO A COMPROVA A HISTÓRIA (II)

(ler a parte I aqui)

Seria muito proveitosa a análise a todos os trechos apresentados. Contudo, também por saber que não terei tempo necessário, quero que, pelo menos, fique a ideia de que as obras da civilização católica reflectem-na e falam da Doutrina e do pensamento Católicos. E toda esta incontável produção civilizacional, obviamente, não se restringe aos livros e pelos livros.

Os católicos bem intencionados, e não só os católicos, encontrarão nos livros antigos um grande apoio para a interpretação da Santa Doutrina hoje tão abandonada, confundida, obscurecida por modos de pensamento nada católicos. Este método será suficiente para que os descrentes bem intencionados possam vir a corrigir ou a questionar o mau uso que hoje se faz da palavra "fé".

Ler estes trechos antigos, é uma forma bastante directa de contacto com o uso do conceito "Fé" no seu sentido próprio. Estou convencido que, em pouco tempo, ficara periclitante aquela retorcido uso da palavra "fé" com que hoje a maioria usa para designar "o mero acreditar" ou a "esperança numa coisa", ou ainda a miscelânea de coisas que o novo catecismo alimenta. O uso de "Fé", feito nos livros antigos, corresponde com o que dizem os catecismos antigos e de grande autoridade na Igreja (como é o Catecismo de Trento - Catecismo Romano.)

Peguemos no cultivado jesuíta Pe. António Vieira que diz no livro "Sermões do P. António Vieira da Companhia de Jesu - Parte XI" (1696):

"Estava ali Catarina cheia de entre os infiéis, estava cheia de sabedoria entre ignorantes, estava cheia de luz entre cegos, estava cheia de piedade entre tiranos. E que fariam dentro daquele generoso coração, e como rebentando nele todas estas heróicas virtudes, e cada uma delas? A o incitava a converter a infidelidade, a sabedoria a ensinar à ignorância, a luz a alumiar a cegueira, a piedade a abrandar e amansar a tirania, (...)" (pág 21)
"Se perguntarmos aos Teólogos qual é o motivo porque cremos os mistérios da , sem nenhuma dúvida, responderão todos com S. Paulo que o motivo (a que eles chamam objecto formal) é, quia Deus dixit: porque Deus o disse. Todas as outras razões (que também se chamam manuduções) bastam para conhecer o entendimento com evidência que os místicos da não são incríveis, antes que evidentemente são mais criveis que tudo o que propõem as seitas, e erros contrários, mas para fazer um acto verdadeiro, e sobrenatural de , não há, nem pôde haver outro motivo, senão, porque Deus o disse: Quia dixit. (...) quis por modo altíssimo e verdadeiramente Divino, que o que é único motivo da , fosse também único motivo da Caridade nas repugnâncias deste amor nos cativasse as vontades, assim como a nas dificuldades dos seus mistérios nos cativa os entendimentos." (pág. 117)

"Se a primeira propriedade do sal é preservar da corrupção, que espírito Apostólico houve, que mais trabalhasse por conservar incorrupta a Católica com a verdade da sua doutrina, com a pureza de seus escritos, com a eficácia de seus exemplos e com a maravilha perpétua de seu prodigiosos milagres?" (pág. 167)

"192. Mas com quem falarei eu agora? Passo da terra ao mar, e falo convosco, oh navegantes dessas naus Setentrionais  que de todos os portos do Norte vos achais agora no de Lisboa. Muito de vós enganados por Calvino, por Beza, por Zuinglio, e pelos outros Hereges, negais a , e verdade da presença de Cristo no Sacramento: e que vos direi eu para vos converter?" (pág 187)

"Quando Deus obra fora de si mesmo (que os Teólogos chamam de ad extra) é certo com certeza de , que para qualquer efeito maior, ou menor, não só concorre como primeira causa a Unidade da Essência Divina, senão também igual, e indivisivelmente a Trindade das Pessoas." (pág. 350)

"Que diz Cristo aos Judeus?: Se vos digo a verdade, porque me não credes? Que diz Cristo aos Cristãos?: Se credes a verdade que vos digo, porque a não obrais? Os judeus erram em não concordar a sua fé com a sua esperança: os Cristãos erram em não concordar a sua vida com a sua : e qual é maior erro, e maior cegueira? Não há dúvida que a dos Cristãos. Porque? Porque a fé é das coisas que não se vêm (...) o não crer pode ter alguma culpa nos olhos, porem crer uma coisa e obrar o contrário nenhuma desculpa pode ter nem aparência de razão ainda falta. (...) Todos os que aqui estamos, por merecê de Deus, somos homens, e somos Cristãos. Enquanto Cristãos somos obrigados a ter , enquanto homens somos obrigados a dar razão. E se eu tenho razão para crer o que Cristo diz que razão posso ter para não fazer o que Cristo diz? (...) Porque um homem qualquer que seja, ou tem , ou não tem . Se não tem , rege-lhe, e pertence aos cárceres do Santo Ofício. Se tem , crê que há Deus, e Céu, e Inferno, e com tudo vive, como se o não crera (...)" (pág. 434)

"Por isso o que não guarda os mandamentos, ainda que creia, e confesse tudo o que ensina a , mente e não está nele a verdade. (...) Se o Cristão, e Católico cuida que a sua é melhor que a dos infiéis [os que não professam a , e têm uma "fé" falsa], somente porque crê o que ensina o Credo, engana-se e mente-se a si mesmo: não basta só crer no Credo, é necessário crer nos Mandamentos." (pág. 499)

"O bom Cristão sofria (...) deixava matar a vida para conservar viva a Fé. E o mau Cristão hoje mata a Fé por não perder um gosto, um apetite, um interesse vil da covarde, e infame vida."

"Primeiramente quanto à , o demónio não é Gentio, nem Turco, nem Herege, nem Ateu. Crê no mesmo Deus verdadeiro em que nós cremos; Et daemones credunt. E se a melhor , e só verdadeira é a dos Cristãos, o demónio também é Cristão. Assim consta de muitos lugares do Evangelho, em que os demónios confessaram a Cristo por Filho de Deus. Em que são logo piores os demónios que os homens, em que são piores que muitos Cristãos? Por ventura nas obras? Ainda mal porque são tão semelhantes. O Demónio com sua fé é soberbo, e tu Cristão com a tua não só és soberbo, mas a própria soberba (...)" (pág. 465)

"Ouçamos a Deus quando nos deu a Coroa. Disse Deus, que fundava o seu Império em Portugal, por ser singular na , e na piedade, fide purum, pietate dilectum. E em que par, ou parelha dos nossos Reis se viram tão concordes em grau sublime a , e a piedade, como a no segundo Pedro, e a piedade na segunda Isabel. Quanto ao zelo da delRei, que Deus guarde, diga-o o ano presente no mar e na terra: no mar Nau para a Guiné com um Príncipe baptizado em Lisboa a conquistar novos Reinos para a Igreja na África (...)" (pág. 485)


(Continua)

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