20/10/11

VERDADEIRA RELIGIÃO - OS CARACTERES DIVINOS (I)

(É a continuidade do artigo "Falsas Religiões")


PENSAMENTOS THEOLOGICOS
Proprios Para Combater
OS ERROS FILOSÓFICOS
LIVRES DO SÉCULO

M. R. P. Nicoláo Jamin

LISBOA
M. DCC. LXXXIV

Capítulo III
Da Unidade da Verdadeira Religião

15. São os Católicos. Que caracteres de Divindade não brilham no Cristianismo? A incompreensibilidade de seus mistérios, cujo conhecimento é infinitamente superior ao espírito humano; a pureza, e a seriedade de sua Moral, que revolta todas as paixões; as Profecias claras, precisas, e evidentemente completas, que o tem anunciado; os milagres multiplicados, públicos, e incontáveis, pelos quais seus fundadores têm provado sua missão; o estado vil, e desprezível daqueles que o tem feito conhecer; a força incrível de uma infinidade de Mártires de todo o sexo, de toda a idade, de toda a condição, que tem testemunhado pela efusão do seu sangue, sua proporção com as necessidades do homem,,,, Que provas, que devem subjugar a razão de todo o homem que pensa!

16. Primeiro caracter da Divindade do Cristianismo. A incompreensibilidade de seus Mistérios. O que é infinitamente superior à razão, não pode ser o objecto das suas indagações: ora os Mártires da Religião Cristã são infinitamente superiores à razão: Tais são uma natureza simples, e única, existente em três Pessoas realmente distintas; um Filho tão antigo como o Pai; um Deus feito homem no ventre de uma Virgem; um Deus morto pelos pecadores; e que por si mesmo ressuscitou; uma Ressurreição geral, que há-de abrir todos os túmulos no fim do Mundo; um pecado cometido por um só, e comum a todos. O Plano da Religião Cristã não é uma obra humana, em quanto á sua invenção, e muito menos emquanto á sua execução. Um ajuntamento de dogmas incompreensível não pode ser persuadido a homens por homens; se Deus não coopera por isso.

17. Segundo caracter da Divindade: A pureza e a autenticidade da sua Moral. Ela nos impõe as obrigações mais severas, e as mais extensas, pelo que respeita a Deus, ao Próximo, e a nós mesmos.

A respeito de Deus: nos prescreve que O amemos sobre todas as coisas; que o adoremos; que lhe dirijamos todas as nossas acções, que prefiramos a sua glória aos nossos interesses, que renunciemos tudo, até a mesma vida antes que violar o menos preceito deste Soberano Legislador.

A respeito do Próximo: manda que o amemos como a nós mesmos, que tratemos a todos os homens como queríamos que nos tratassem; que não façamos a outrem o que esperaríamos que não nos fizessem; que sejamos para com todos humildes, agradáveis, oficiosos, caritativos; que lhes suportemos os seus defeitos; que de bom grado lhes perdoemos as injúrias, que deles receberíamos; que amemos até aos nossos mais cruéis inimigos; que respeitemos os superiores; que demos a César o que é de César; que obedeçamos, como ao mesmo Deus, aos Soberanos, ainda aos mais cruéis; que antes consintamos que se nos tire tudo, que nos revoltemos contra os Soberanos.

A respeito de nós mesmos: manda-nos que sejamos sóbrios, temperados, castos; proíbe-nos até o pensamento de crime, os desejos impuros, as imaginações desonestas, os discursos licenciosos; ordena-nos que renunciemos a nós mesmos, que combatamos as nossas inclinações; lutemos de contínuo contra nossas paixões; desprezemos os bens terrestres, que os possuamos sem afinco; e estejamos sempre prontos a deixá-los, Põe-nos diante dos olhos a humilhação, a obscuridade, dos desprezos, os sofrimentos, todos os trabalhos da vida, como meios, que conduzem á verdadeira felicidade que é toda espiritual. Felizes, diz ela, os que choram, porque serão consolados! (Beati qui lugente, quoniam ipsi consolabuntur. Matth. c.5. v.5.)

Quanto é pura! Quanto é santa? Mas também quanto é dura! Quanto é austera! E que! Contrafazer-se sempre, violentar-se, refrear sempre as paixões, e isto debaixo da pena de ser eternamente desgraçados? Homens poderiam persuadir esta Moral ao Mundo? Não, isto não é a obra dos homens, é sím de Deus!

18. O terceiro caracter da Divindade: é o testemunho dos Profetas, que anunciaram o nascimento do seu Legislador, e os principais sucessos da sua vida; uma longa e perpétua sucessão de Oráculos mais claros uns que outros. Estes Profetas apareciam em diferentes idades, como correios enviados por intervalo de parte do Grande Rei para anunciar aos homens a chegada do seu Filho. As nações o esperam, e o desejam, Ele chegou em fim no meio dos tempos, e no seu nascimento, diz Santo Agostinho, na sua vida, nos seus discursos, nas suas acções, nos seus sofrimentos, na sua morte, na sua Ressurreição, e na sua ascensão se completam todos os oráculos dos Profetas. (Venit. & Christus, complentur in ejus orta, vita dictis, factis, passionibus, morte resurrectione, ascensione, omnia praeconia Prophetarum, S. August. Liter, a voculo c.37 n.16. Ed. Beacd). Como é verdadeira asta Religião! Quem se pode vangloriar de ter um Legislador prognosticado antes da sua chegada pelos órgãos da mesma Divindade? Quem senão aquele a quem são presentes todos os tempos, podia revelar o que pertence a Jesus Cristo muitos séculos antes do seu cumprimento?

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