(continuação da VII parte)
Um Empréstimo feito pela maneira, com que agora se fez, e que já há muito se podia ter feito, é o mais sensato, o mais útil, e o mais político. Por isso mesmo que a endiabrada perfídia maçónica persiste em desacreditar todos os actos do Governo do melhor dos Reis, é por isso que nós insistimos em mostrar as proposições já indicadas. A saber:
1.ª
É sensato
E prova-se. Chama-se sensato tudo aquilo, que se faz
com juízo prudencial, e conforme ao senso comum; ora o Empréstimo, de que se
trata, é feito com juízo prudencial, e conforme ao senso comum; logo, etc. Que
é feito com juízo, e muito juízo é tão claro como é certo que ElRei abriu um
Empréstimo há mais de seis meses, em que admitia a metade em Títulos os Recibos, que os Cambistas
compraram o mais caro a 25 por 100, dando hipotecas mui seguras, e o juro de 6
por 100; e apesar de tudo a nada se moveram os Brutos milionários; deram mais
uma volta à fechadura da burra, e o Empréstimo não se encheu: neste caso então
foi mui judicioso, e prudente obrigar estes ambiciosos sicofantas a que
entrassem com dinheiro corrente, vencendo só 5 por 100, e sem hipoteca, porque
um Estado não é um particular, que se mude aos seis meses, e que hoje está em
Lisboa, amanhã no Paquete: e também é conforme ao senso comum, porque este nos
diz, e a experiência universal no-lo confirma,
que a salvação do Estado não tem Lei, ela mesma é que forma a Lei: Salus populi suprema lex esto: é por isso que em casos de apuro
até as pratas da Igrejas se fundem para cunhar dinheiro: assim o fez D. João
II, e nem por isso deixou de ser um grande Rei: e então porque há de ser
privilegiado o dinheiro de um, que nasceu pobre, e que agora conta milhões
ganhados com o Estado, ou á sombra dele?! É mui conforme ao senso comum este
procedimento, e tanto o é que todos o aprovam, à exceção dos Pedreiros; é além
disso feito com muito juízo; logo é sensato.
Livrem-se lá se são capazes de silogismo.
2.ª
É útil
E Prova-se. Chama-se útil em política
toda aquela disposição do Governo, que redunda em proveito de muitos, ainda que
seja com sacrifício de alguns. E estará por ventura neste caso o Empréstimo?
Quem o duvida? São mais três milhões, que vão entrar em giro, e principalmente
caindo em mão de Soldado! Interessa a casa de venda, a taberna, valem mais os
géneros, onde persiste a Tropa, e até parece que a Providência descobriu este
meio para compensar os incómodos, que faz sofrer aos Povos: interessam milhares
de pessoas com esses milhões que aferrolhados com as arcas dos ricos de nada
serviam: e quem são os lesados? São bem poucos, e se acaso são muitos, são
lesados em pouco. O que é 48 contos para quem conta 28 milhões? Que falta lhes
pôde fazer quando para outras empresas se davam contos sem conta, e sem juro?!
Isso não é nada: é mais bizarria dar uma lavandeira um vintém, como apareceu em
Gazetas, do que qualquer milionário dar meio milhão; logo claro fica que é
útil. O que lhe há de amargar mais é a proposição [...?]
3.ª
É político.
A isto gritaram os tais sujeitos "leve o
diabo semelhante política." Agora sim, quando Vossas Mercês assim falam, é que
nós estamos contentes, e por isso repetimos, é político, e mui político, e não
o duvideis. Um ricaço endinheirado, que não gosta do Governo, e que não está
com ele envolvido em dívidas, é naturalmente seu inimigo; e ainda que não
conspire de facto, a sua mesma indiferença e apatia é nociva; mas se este homem
tiver contas com o Governo, e este lhe seja devedor de grandes quantias, e a segurança
da sua dívida estiver pendente da segurança do Estado; este homem pela sua
mesma ambição é desde logo um amigo necessário do Governo; e ainda que muitas
vezes professe ideias contrárias há-de obrar em sentido inverso para ter segura
a sua fazenda. Bem haja S. Majestade que por este modo os comprometeu: eles
esperavam que nestes apertos não houvesse um vintém para mexer um Soldado; mas
como veem que tem havido, e há de haver milhões, e que estes lhe hão de sair
das algibeiras; dizem agora "para que é tanta Tropa! tanto Soldado!" E pela
boca pequena acrescentam "e à nossa custa?!" e algumas ainda acrescentam mais "irra! arder em dois fogos?! Ora eis-los aqui comprometidos: assim, assim: há
mais tempo que eles deviam ter esta peia: não haviam ter espinotado tanto... A
estes, que assim falam, damos dois conselhos: 1.º vejam com imparcialidade a
maneira, com que em nome do Sr. D. Pedro se fazem os empréstimos na Ilha de S.
Miguel (é horroroso este procedimento.); 2.º suspendam as mesadas e
correspondências, que têm sustentado, com quem não devem, e então faltos de
socorros desesperaram da empresa invasora, e Portugal livre dela não precisará
de empréstimos desta natureza.
Terminaremos este Artigo por
dizer: os que se não querem comprometer, é porque já estão comprometidos, e já
se sabe com o partido rebelde; porque quem segue uma Causa boa não tem dúvida
em o manifestar; e a melhor política para com esta gente é comprometê-los a
todo o custo, e fazê-los amigos necessários.) D. Tr.
LISBOA:
NA IMPRESSÃO RÉGIA. ano 1831.
Com Licença.
(Fim do Nº4)
(o nº5, aqui)
(o nº5, aqui)
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