05/10/15

VERDADE E HISPANDIDADE

Caros leitores,

redijo-vos este texto em linha de continuidade com o artigo "Canonização de Isabel a Católica!" (recomendo esta leitura antes de continuarem no presente artigo). Estes e outros artigos formam um pequeno conjunto cuja tónica é: a certeza de que há lacunas na construção simbólico-histórica em torno daquilo que se tem designado por hispanidad, e que a permanência desses erros não podem trazer benefício verdadeiro (antes pelo contrário) e até têm feito danos. Portanto, espero assim dar a minha contribuição na eliminação de tais problemas e consequências.

Que os católicos de língua portuguesa estejam aqui atentos ao tratamento destas temáticas; que as cabeças militantes e pensantes da hispanidad reflictam desapaixonadamente nestes artigos (artigos que são fruto da constatação pessoal, amor à verdade, reflexão, tempo e rigoroso respeito às fontes antigas).


I - O Católico Quer Estar Firme, na Verdade e Não Sobre a Conveniência - Independentemente daquilo que se possa entender por hispanidad, todos concordarão que ela nada poderá ganhar se assentar em fantasias patrióticas. Os adeptos da hispanidad nada de bom poderiam alcançar com uma dogmatização desajustada da sua interpretação simbólico-histórica (fazendo dela cânon), dificultando ou excluindo a entrada de fontes credíveis que coloquem em causa a "infalibilidade" de tal "cânon". Também não se pode pretender fazer da interpretação simbólico-histórica uma medida pela qual se haveria de medir a realidade; é impensável tomá-la como um "Criador das essências" (coisa que parece ocorrer, como explicarei em seguida). O movimento pró hispanidad certamente prefere e sempre preferiu ser conhecido como servidor da verdade, coisa desejada pelos bons católicos.

Aqueles adeptos da hispanidad que foram martirizados na guerra civil, em Espanha, não tinham que estar certos em todas estas matérias nem ser conhecedores profundos delas. Ignorar e ser bom em tudo difere de ignorar culpavelmente, ou fingir que se ignora. Uma atitude católica será sempre incompactível com o consentimento de fuga à verdade, até mesmo à verdade histórica.


II - Não Só a Essência, Mas Também o Realismo - Curiosamente, a última vez que ouvir dizer que um Reino católico tem essência foi a um sacerdote tradicionalista, da hispanidad! A essência, claro está, não pode ser produto de vontades humanas, não pode resultar sequer do processo histórico, ela antecede. Fora de revelações divinas, é por meio dos factos históricos que conhecemos qual a essência de cada um dos Reinos Católicos.

Ilustre pessoa, como dizia, homem de intelecto, a este respeito usa do seguinte artifício mental: partindo daquilo que considera ser a essência da Espanha, avalia e mede por ela as demais coisas relacionadas à Espanha e aos demais Reinos. Assim avalia, depois julga, depois age de forma coerente; por isso, como seria de esperar: desvia tudo (e todos) aquilo (aqueles) que vá conta tal essência (com certa razão, porque a essência é a essência, e não se pode ir contra sem dano).

É realmente erro violar a essência de um reino católico, portanto, ou interpretar em sentido contrário a ela! Contudo, a posição tomada por aquele significativo militante é uma sólido e belo castelo armado sobre fina areia; pois esqueceu que a sua IDEIA a respeito da essência de Espanha não é a própria essência, e que a ideia pode corresponder bem ou mal à essência verdadeira. Tal ideia, de certo partilhada por muitos militados, deve pretender-se totalmente ajustada ao Ser. Toda aquela sistematização interpretativa a respeito da hispanidad, em suma, está sujeita a erro humano, porque é uma tentativa humana de interpretação.

Vejamos: quem desvendou tal essência, e quando? Foi ela revelada por Deus, ou ela tem-se revelado de forma menos linear, passando pelo olhar e interpretação dos homens? Onde e como se prova que ela é x e não é y?...

Evidentemente, os adeptos da hispanidad devem procurar conhecer a essência da Espanha não indo contra todo um conjunto de feitos históricos (os quais Deus quis ou permitiu), considerando também os feitos vizinhos (contexto), as características dos lugares, passado e presente, etc... . Também são factos o que da Espanha disse a Igreja e os Santos. Tudo deve ser visto com respeito das devidas importâncias, autoridades, e credibilidade das fontes, etc... .


III - Comparação ao Extremo? - Se a Espanha, na Europa e no mundo, fosse hoje uma "Alemanha", e se os  militantes da hispanidad estivessem no poder, seria pouco provável a criação de uma lei que proibisse a revisão do seu "cânon" histórico!?...

Alguns leitores, estarão com vontade de perguntar: "não será exagerado este tipo de comparação?". A comparação não é a melhor, seja porque a Alemanha criou leis que protegem uma versão histórica oficial, que nem abona em favor dela mesma, quer porque os espanhóis são menos preocupados com o assunto do que os americanos de língua espanhola. Mas, a reposta é: não... não é exagerada a comparação! Uma parte da militância da hispanidad anda hoje pelo fanatismo amável (discreto, mais perigoso), ou rude (explícito, ingénuo e apaixonado), está pronta a esforços para eliminar os obstáculos aos seu "cânon" (ou a Isabel de Castela, a quem tomam como "cara" do cânon).

"É mesmo assim?!", insistirá algum leitor mais admirado. Sim... é mesmo assim, e chega a mais quando homens discretos decidem e fazem planos segundo o tal "cânon".

(artigo incompleto...)

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