(continuação da V parte)
Quem é que se diz hoje "o nosso maior Protector"?! Ah! sim, bem sabemos, é aquele degenerado Filho, que no Rio de Janeiro, colocado à frente de revolucionada tropa, mandou assestar os mortíferos canhões contra o Real palácio, onde residia seu Pai, e que o obrigou a jurar a Constituição do Porto, e a sair apressadamente do Brasil para se realizar a projectada Independência: ah! sim: estamos muito certos: é aquele, que se levantou com as Colónias, e que roubou a Portugal as suas maiores e mais ricas Possessões, que tantos suores e trabalhos custaram aos nossos Maiores: ah! e não é este o mesmo,que declarou guerra a Portugal, que mandou varar os Soldados Portugueses até lhes cair a carne a pedaços, e isto por negras mãos, para quem, parece, só deveriam ser feitos os flagelos?! E não é ele o mesmo, que destruiu o nosso Comércio Colonial, e que nos ratou como a gente mais vil do Mundo?! Ah! sim, não duvidemos: aí estão os Periódicos Liberais, e as falas dos Deputados de 1822, que muitas vezes nos deram a ler aquelas célebres Cartas, em que dizia a su Pai "Nós somos dois Monarcas, que estamos em guerra" também nos mostraram outras, em que dizia "Eu de Portugal nada quero, nada, nada", "eu vou dar o último golpe ao Comércio Português" e os mesmos canais nos asseguraram então, que a sua viagem à Bahia não tivera outro fim senão agradecer àquelas Caboucas ou Tapuias gentes o desvelo, e coragem, com que se portaram na expulsão dos "vândalos" Portugueses. Ora valha-nos Deus, e dizem que não há prodígios, e que já não há conversões?! A de Saulo, perseguidor dos Cristãos, em Apóstolo das gentes, não é tão admirável! porque naquele foi a mão de Deus, que a obrou; mas neste perseguidor não temos notícia de tal prodígio; antes se nos apresenta como um acto espontâneo de seu compassivo, e tolerante coração: mas enfim a mão de Deus não é abreviada; poderá ter produzido este prodígio, porque dos maiores pecadores se tem feito os maiores Santos; porém enquanto nos não constar da autenticidade de um tal sucesso, iremos com a linguagem do Evangelho, que não mente, julgando do seu caracter; e como ela nos diga, que pelos frutos é que devemos conhecer a árvore "ex fructibus eorum cognoscetis eos" pelo que fez, pelo que faz, pelo que medita e prepara fazer a Portugal, é que devemos conhecer qual é a sua tolerância, e quais as suas promessas. Sim, já estamos muito convencidos e desenganados: a sua protecção é à francesa, e vêm-nos proteger tanto, como defendeu perpetuamente o Brasil: a sua tolerância é a mesma, e a mesmíssima dos Liberais, de quem se faz Chefe, que nas Ilhas onde dominam tem roubado, e metido tudo a saco, e só para provar os fios das espadas fizeram perecer centenares de pessoas: (que horrores aí se não praticam?!) as suas promessas de paz e felicidade são as mesmas, que todos os Revolucionários do Mundo fazem aos Povos para caírem no langará, os quais só chegarão a ser felizes quando ficam sem camisa. Veja-se o que já dissemos no Artigo "Felicidade" é justamente o que nos promete o Sr. Ex-Imperador.
D. Pedro I do Brasil |
E que nos dizem os nossos leitores daqueles valentes e guerreiros campeões, em cuja frente diz que marcha a subjugar Portugal?! Que gente! todos são Hércules na valentia! ou pelo menos Alexandres e Césares na fortuna!! Ao apresentar-se essa falange tudo estremece, tudo cede, tudo cai, etc...... Ora, ninguém sem dúvida nos estranhará, se nós fizermos aqui um paralelo entre esta gente, e seu Chefe, com os partidários de Catilina, e seu Capatás, e se aplicarmos a eles, o que Cícero diz daqueles traidores comandados por Catilina: parece que o Orador Romano profetisou este caso: mas isso não admira, porque o carácter dos revolucionários de então, é o mesmo dos de hoje, e há de ser o de todos, que aparecerem no Mundo, porque todos são malvados. Vamos ao caso: Cícero divide todos os sectários de Catilina em seus classes, e nós com ele igualmente dividimos os grandes Campeões Insulares nas mesmas seis classes:
"Os primeiros, são aqueles, que tendo grandes dívidas, têm ainda maiores cabedais, de cujo amor prendidos, se não querem soltar. A classe destes homens afecta de honrada, pois são ricos; mas a sua vontade, e causa, que seguem, muito desaforada."Ah! e quantos destes, que em bom Português chamamos caloteiros, estão por lá, ou por cá, e tanto de lá, como de cá, advogam a Causa da Rebelião, para à sombra dela se livrarem das dívidas, que perfidamente contraído, ou para melhorarem de fortuna?! Como se enganam!! A estes dizemos o mesmo, que dizia Cícero:
"Tu com campos, tu com propriedades de casas, tu com dinheiro, tu com família, tu adornado, e abundante de tudo; e dúvidas cortar pelas tuas posses, para ajudar o Estado, e recobrar o crédito? Que é o que esperas? A guerra? E para que? Julgas que na assolação geral de tudo hão de ser privilegiados os teus bens? Pois quê? Atens-te a novas leis? Enganam-se os que as esperam de Catilina."Estas são as formais palavras de Cícero na sua 2ª Catilinária. E quem diria que um Republicano como este havia fazer um elogio tão fúnebre daqueles, que se chamam seus discípulos?! Se mudarmos unicamente a palavra Catilina em outra, que todos sabemos; que bela pintura?! Esta classe de gente é tão desgraçada, que até os seus mesmos heróis os condenam. Mas voltemos ao nosso Cícero, que nos vai descrevendo o carácter dos nossos Revolucionários.
"Outro género, diz ele, e dizemos nós, é o daqueles, que, carregados de dívidas, esperam com tudo, e querem mandar, e governar: crendo que, perturbada a República, conseguiram as honras, que não podem com ela sossegada."Agora deixamos o Orador, porque ele diz, que a estes é bastante que se intime isto unicamente, a saber, que ele é o Cônsul: e em lugar disto dizemos nós, a estes apaniguados do Ex-Imperador, basta que se lhe intime "DOM MIGUEL É REI DOS PORTUGUESES" e vê-la mais do que Cícero. Agora continuamos com o Orador.
"Além disto, que há ânimos grandes em pessoas de probidade, grande concórdia, grande multidão, grandes tropas de soldadesca: enfim, que os Deuses imortais presentes (em lugar desta frase gentílica, devemos ler a Providência do Omnipotente, e a Proteção de Maria, que sempre nos tem sido presente) hão de dar auxílio a este invicto Povo, nobilíssimo Império, e formosíssima Cidade contra tão enorme maldade. E no caso que cheguem a conseguir, o que desejam com a maior insolência, porventura esperam nas cinzas da Cidade, e sangue dos Cidadãos ser Cônsules, Ditadores, ou ainda Reis, conforme o deseja seu ânimo perverso, e malvado? Não vêm que, se conseguirem o que desejam, forçosamente o hão de conceder a algum foragido, e brigão?!"Que tal vai a pintura feita há quase dois mil anos?! (Isto aconteceu em janeiro do ano 62 antes de Cristo, por consequência há 1890 anos)
"O terceiro género, diz o Orador, e nós com ele, é de idade já avançada: são homens nascidos alguns em colónias,... mas estes são plebeus, que com dinheiros inesperados, e repentinos se ostentaram com grande pompa,.... os quais foram também a causa de que alguns rústicos pobres, e necessitados se metessem em esperanças daquelas antigas rapinas. A uns, e a outros ponho no mesmo género de ladrões, e roubadores."Que tal está o elogio?! Mas não se devem escandalizar, porque é do maior, e mais sincero republicano, que houve no mundo. Vamos com ele, que é um mestre em conhecer esta canalha.
"O quarto género (diz Cícero, e nós igualmente) é na verdade vário, mesclado, (até este homem já lhe chama malhados, porque a palavra latina "mixtum" também sofre este sentido) e turbulento: estes há muito se vêm oprimidos de modo, que nunca levantam cabeça: dos quais uns por inércia, outros por má administração de bens, e outros também por gastos, perigam por dívidas antigas: e cansados de citações, e penhoras, se diz passaram muitos da Cidade, e dos Campos para aqueles arraiais. A estes não tenho eu por soldados valorosos, como negadores brandos. Se este homens não podem subsistir, caiam, mas de sorte, que não arrastem a cidade, e próximos: não entendo porque causa não podendo viver com decoro, querem morrer com infâmia! ou porque razão se capacitam será menor a sua dor, morrendo acompanhados, do que sós."Que bela imagem! cada vez se assemelha mais ao original, que temos diante dos olhos. Fale só o grande Cícero; porque nem é necessário mudar uma só letra.
(continuação, VII parte)
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