20/08/15

NÓS E A DIÁSPORA DOS FILHOS DE NOÉ (I)

"Segundo a tradição bíblica, os descendentes de Noé abandonaram as risonhas planícies da Mesopotâmia (região entre o Eufrates e o Tigre), com o fim de emigrar para outras terras e estabelecer cada família uma nova Pátria; e, seguiram do oriente para o ocidente, no sentido do movimento aparente do Sol, como quase todas as transmigrações e invasões principais, que depois se sucederam (2349 anos antes de Cristo ou 1655 da criação do mundo, conforme o texto da Bíblia hebraica). Tendo chegado a Shinar ou Senaar, projectaram construir nesta região uma grande cidade com uma elevadíssima torre, para perpetuar o seu nome antes de se espalharem pela terra.

Aconteceu, porém, que a linguagem que usavam foi confundida antes de terminada a obra grandiosa que tinham projectado; circunstância que os obrigou a separar-se, dirigindo-se cada grupo com a sua língua própria para pontos diferentes do globo, onde consistiram várias raças independentes, com o seu caracteres especiais.

Teve lugar este acontecimento 131 anos depois do Dilúvio ou 2218 antes de Cristo; e em sua memória foi chamado Feleg ou Pheleg um filho de Heber, bisneto de Sem, nome que em língua semítica significa errante ou disperso.

A cidade e torre, começadas a construir, foram designadas depois pelo nome de Babel, que quer dizer: confusão, dispersão (Génesis).

Os trabalhos, nem a terra de Babel não ficaram abandonados, nem a terra de Senaar deserta. A própria Bíblia menciona, depois a Nemrod (2204 anos antes de Cristo), filho de Chus, neto de Cão e bisneto de Noé, senhor naquela região de um império de que fazia parte Babilónia, cidade edificada no mesmo local onde existiu Babel e da qual tomou o nome, e Arach, Accad e Calanne. Este império (Babilónia e Assíria) foi o mais notável e poderoso entre todos os que a História faz menção nos primitivos tempos, e dividiu-se a morte de Nemrod por seus dois filhos, cabendo a Assíria a Nino e Babilónia a Evecoo.

A confusão das línguas, até ao ponto dos descendentes de Noé se não entenderem e a sua dispersão, antes da época designada para irem ocupar as regiões do globo, deve interpretar-se no sentido de que discussões antagónicas, talvez pela divisão das erras ou supremacia dos altos cargos, tornariam impossível a boa harmonia entre aquelas famílias ou tribos, obrigando uma parte a separar-se do núcleo principal, quer de boa vontade ou violentamente, e a transmigrar para outras países. Não parece que essa dispersão deva atribuir-se ao facto da construção da torre de Babel, pois que idênticas coisas originaram outras transmigrações, sempre que o excesso de população se aglomerou num país, ou desinteligências profundas separaram os indivíduos da mesma ou diferente raça.

E tanto assim deve ser que a História menciona, depois, a existência de uma torre de Nemrod; e mais tarde, também na cidade de Babilónia, outra torre erigida por Hadossa (Flor da Murta), depois chamada Semirámis (Shem-Rami, sinal erguido), mulher de Nino, rainha de Babilónia (2007 anos antes de Cristo), com oito andares e construida no templo de Belo.

É possível que estas torres, que desde a maior antiguidade se levantaram por toda a parte, servissem para a vigilância do território. A de Belo foi de grande exílio nos estudos astronómicos, de cuja ciência foram estes povos os primeiros e mais antigos investigadores.

Em virtude deste sucessos, os filhos de Japhet, isso é, aqueles que pertenciam a este ramo, estabeleceram-se desde a parte da Ásia que está voltada ao Setentrião, limitada pelos montes Tauro e Amano, até aos confins ocidentais da Europa; os de Sem em toda a Ásia, que se estende para o oriente, compreendendo a Síria, e os de Cão ou Cham ficaram, como dissemos, em Senaar, com Babilónia, Assíria, Arábia e Egito com toda a África, que para os antigos começava na Líbia.

Thubal - Dividida a terra pelos descendentes de Noé, dizem vários historiadores que as tribos de Thubal ou Tubal, quinto filho de Japhet, designadas pelo seu nome originário, avançaram para o estremo ocidental, vindo estabelecer-se na Península, chamada depois Ibérica. Sendo assim, podemos admitir que estes foram os aborígenes da nossa Península, nome que se atribui aos povos mais antigos de uma região e cujo significado é montanhês ou dono da terra; da mesma forma que os Tyrsenos, Tyrrhenos ou Rasenos, que também eram povos japhéticos, foram considerados os abolígenes da Itália, e deram o seu nome ao mar que a circunda, chamando no ocidente Tirreno e ao oriente Adriático, de Adria, cidade tirrena.

É possível, portanto, que as gente de Thubal tivessem chegado à Península, mas não está averiguado em que local se estabeleceram, supondo uns que na embocadura do Sado, onde fundaram Setúbal e a província de Setubália, outros que em Navarra, de Tafalla e Tudella; havendo ainda quem conte, entre as provações fundadas por Thubal, Tarragona e Segunto (Mariana, H. de Espanha).

A época em que Thubal ou as tribos da sua descendência se estabeleceram na Península não é conhecida, nem se sabe mais coisas alguma relativamente a estes povos primitivos. [As teses a respeito de Tubal estão sobejamente tratadas por autores antigos].

(a continuar)

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