17/08/15

MÁRTIRES PELA CONSERVAÇÃO DOS SANTOS LUGARES

Dos Muitos Mártires, Que Deram Suas Vidas, Derramando Seu Sangue Pela Confissão da Fé Católica, e Conservação dos Santos Lugares [do cap. XIV]


"Entre os inumeráveis Mártires, com que a Religião Seráfica tem ilustrado a Igreja Romana, não são de menor estimação os que tem padecido em Jerusalém: não só pelo lugar santo, em que padeceram, como também pelos atrozes tormentos, com que os martirizaram, pelo amor, e reverência, que aqueles lugares santos tiveram; pois pela sua conservação, e não os verem profanados, derramaram seu sangue, dando as vidas por Cristo.

No ano de 1261 na Cidade de Azoto foi feito em pedaços um Fr. Filipe, porque lhe prevava a Fé publicamente.

No [ano] de 1266 foram degolados pelo Sultão do Egipto Fr. Jaime Podio, e Fr. Jeremias, por esforçarem aos Cristãos do castelo de Cafar a que morressem pela confissão da Fé.

No de 1268 degolaram os Turcos todos os Religiosos, que havia nos Conventos da Cidade de Antioquia.

No de 1269 Fr. Bartolomeu Pliciano foi esfolado pela confissão da Fé no grão Cairo.

No de 1287 em Damiata foi despedaçado Fr. Francisco de Espoleto pela mesma confissão.

No de 1291 foram degolados pelo Sultão do Egipto Fr. Jacobo, e outros Religiosos, que haviam no Convento de Ptolemaida.

No mesmo ano a Abadessa do Convento de Santa Clara vendo perdida a Cidade, e que ganhada dos Turcos, corria sua virgindade grande risco, e a de suas filhas, se cortou os narizes com uma faca, dizendo às suas Freiras: "Isto fazem as amadoras da pureza". Logo todas fizeram o mesmo; entraram os Turcos, e vendo aquele espetáculo, as mataram a todas.

No de 1300 foram degoladas na Terra Santa Fr. João, Fr. Jacobo, e Fr. Conrado de Albins, cujo corpo foi achado no mar, e fez muitos milagres.

No de 1304 degolaram os Mouros todos os Religiosos, que havia no Convento de S. Jeremias, que está entre José, e Jerusalém.

No de 1306 foram degolados muitos dos Religiosos, que estavam em Jerusalém, por haver redusido a alguns Cristãos, que haviam apostatado.

No de 1345, na Cidade do grão Cairo, morreu martirizado Fr. Libinio por prégar a Fé.

No de 1358 foram degolados no grão Cairo pela confissão da Fé Fr. Nicolau de Monte Corbino, Fr. Pedro de Nápoles, e um Fidalgo Hungaro da Terceira Ordem, que redusiram à Fé. No mesmo ano degolou o Sultão sete Religiosos no Egípto, cujos nomes não se sabem.

No de 1361 foi morto no grão Cairo Fr. João de Monte Policiano, por haver reduzido à Fé a um Cristão Genovez, que juntamente martirizaram por estar nela firme.

No de 1368 foram martirizados em Jerusalém todos os Religiosos, que estavam moradores no santíssimo Monte Sião.

No de 1369 padeceram em jerusalém glorioso martírio Fr. António de Rozato, e Fr. António de Cristo.

No de 1370 foram cruelmente atormentados, e mortos em Jerusalém Fr. João de Eteco, e seu companheiro Fr. Gonçalo. No mesmo ano pela confissão da Fé degolaram os Turcos a Fr. João de Nápoles.

No de 1371 foram martirizados quatro Religiosos em Jerusalém, Fr. Nicolau de Tanquis, Fr. Donato de Raticinico, Fr. Pedro de Novara, e Fr. Estevam de Turelo.

No de 1482 foi martirizado Fr. João de Calábria, cujo martírio foi glorioso.

No de 1537 tiraram todos os Religiosos que havia em Jerusalém, e os levaram a Damasco com o Guardião, que se chamava Fr. Tomás de Múrcia, e metendo-os em rigorosos carceres, aí morreram todos à pura fome.

No de 1547 pelos Turcos foram degolados Fr. Junipero de Sicília, Fr. João Mantua, e Fr. João de Calábria pela confissão da Fé.

No de 1568 foram degolados doze Religiosos no santo Monte Sião.

No de 1577 degolaram os Turcos em Jerusalém a Maria Lusitana da Terceira Ordem, porque lhes prégava a Fé dia do Domingo de Ramos.

No de 1599 foi morto, feito em pedaços, e queimado Fr. Cosme de Espanha da Província de Granada, natural de Málaga, porque numa sexta-feira entrou no templo a pregar a Fé aos Turcos.

Finalmente de nove anos a esta parte, pelo que disse o Reverendo padre Definidor Fr. Apolinário da Natividade Religioso fidedigno, que esteve nos santos lugares da Terra Santa muitos anos, e chegou a esta Côrte de Lisboa no ano passado, lhe lembrava de quatro pessoas, que pela confissão da Fé deram suas vidas com resolução maravilhosa; a saber, dois Religiosos de S. Francisco, um Moronita nacional do Monte Libano; e agora no ano de 1704 um Clérigo Português, que foi visitar os santos lugares, natural da Ilha de S. Jorge, chamado Lázaro Nunes de Souza. E não só estes numerados, mas muitos mais inumeráveis, que cada ano padecem, e têm padecido por todos os contornos da Terra Santa, e de toda a Palestina pela mesma causa da Fé, e consevação daqueles tesouros do Céu, em que o Filho de Deus obrou nossa Redenção; como o curioso poderá ver mais largamente nos Anais dos Menores, e nos Padres Quaresmino, Zea, Castilho, e outros muitos, que tratam desta matéria.

Com advertência porém, que os Religiosos, que vivem nos santos lugares, e todas as mais pessoas que os forem visitar, não podem pregar contra a lei, e seita dos Mouros; só sendo preguntados, qual é melhor lei, se a de Cristo, ou a de Mafoma [Maomé]? Devem perder mil vidas, e dizer que só a Lei de Cristo é boa, e verdadeira. O Sumo Pontífice tem proibido com pena de excomunhão, que ali não préguem contra Maomé, porque se assim o fizerem, não haveria já hoje Religiosos naqueles santos lugares para os quardar: porque os Turcos em lhe falando mal da sua seita, a defendem com a espada na mão, tirando a vida, não só aos que prégam, mas também a quantos acharem Cristãos. Deus nos tenhoa na sua, para que sempre o confessemos, houvemos, e sirvamos." (Relaçam Summaria, e Noticiosa dos Lugares Santos de Jerusalém ..., Lisboa 1709)

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