26/08/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XCVIII)

(continuação da XCVII parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO

Thomas de Kempis

IV Livro
O Augustíssimo Sacramento do Altar


Cap. XII
Quem Houver de Comungar o Corpo de Jesus Cristo, Deve Preparar-se com Grande Diligência

1. Cristo – Eu sou amigo da pureza, e a origem de toda a santidade. Busco o coração puro e ali é o lugar do meu descanso.
Preparar-me uma sala grande e adornada e celebrarei em tua casa a Páscoa com os meus discípulos.
Se queres que venha a ti e fique contigo, lança fora o velho fermento e limpa a morada do teu coração.
Desterra de tudo o que é do século e o tumulto dos vícios. Assenta-te como o pássaro solitário no telhado e recorda as desordens da tua vida na amargura do teu coração.
O amigo prepara sempre para o amigo o melhor aposento, e assim é que dá a conhecer com que afecto o recebe.

2. Sabe, porém, que não podes, por mais esforços que faças, preparar-te dignamente, ainda que para isso empregasses um ano inteiro sem te ocupar de outras coisas.
No entanto, por minha graça e minha bondade, é-te permitido sentar à minha mesa, como se um rico convidasse e fizesse comer com ele a um pobre mendigo que não tivesse outra coisa a pagar senão humildade e agradecimento.
Faz o que está da tua parte e fá-lo com muita diligência. Recebe, não por preencher um costume, ou cumprir um dever rigoroso, mas com reverência, temor e amor, o corpo do teu amado Deus e Senhor, que se digna vir a ti. Eu sou quem te chama à minha mesa, quem te manda que venhas. Vem e recebe-me; eu suprirei o que te falta.

3. Quando eu te inspiro movimentos de devoção, dá graças a Deus, não porque sejas digno desse dom, mas porque tive misericórdia de ti.
Se não sentires devoção e te achares apático, preserva na oração, suplica, clama e não descanses, até que me mereças receber uma migalha da minha mesa, ou uma gota de águas saudáveis da graça.
Tu precisas de mim e eu não preciso de ti. Não és tu que vens santificar-me, a mim; sou eu que venha a ti fazer-te melhor e santificar-te.
Tu vens para que eu te santifique, para te unires a mim, para receberes uma graça nova e te abrasares no ardente desejo de adiantar na virtude. Não desprezes, pois, esta graça, mas prepara com toda a diligência o teu coração e recebe em teu seio aquele a quem amas.

4. Mas não basta apenas excitar a devoção antes de comungar; deves cuidado de a conservar, depois da comunhão. Nem é menos necessário, depois, o recolhimento e a vigilância, como o é, antes, a devota preparação; porque o cuidado que depois se tem é a melhor disposição para receber novamente maior graça. ao contrário, indispõe-se para ela o que logo se entrega com excesso às seduções do mundo exterior.
Guarda-te de falar muito, recolhe-te a algum lugar retirado e goza a companhia do teu Deus.
Tu possuis Aquele que o mundo inteiro não pode roubar-te. Sou eu a quem te deves entregar sem reservas, de sorte que, desembaraçado de todos os cuidados, não vivas mais em ti, mas em mim.

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