18/02/15

HARMONIA POLÍTICA DOS DOCUMENTOS DIVINOS (VII)

(continuação da VI parte)

REPUTAÇÃO
Para Com os Estrangeiros

15. Ou são notoriamente menores, ou maiores, ou iguais em poder. Favorecer aos primeiros, é obrigá-los, pois não podem atribuir o favor senão à generosidade do Príncipe. Aos maiores, ou iguais (principalmente sendo gentes do Norte) nem se há de fazer injustiça nem graça; porque vingativos e soberbos, nem sofrem injúria nem reconhecem benefício, antes avaliam a cortesia por temor, e assim aquele que devera provocar gratidão provoca o desprezo; uma gravidade afável os conservará; e pecará menos quem inclinar a severo. Recebendo-se agravos, examinem-se as forças: se se pode tomar satisfacção, justifiquem-se as armas precedendo bons termos; mas não se dilate a emenda, por não ocasionar insolências.

16. Assim o fizeram os Sereníssimos Reis de Portugal em várias ocasiões que notaremos quando tratarmos da Fortaleza.

17. Sendo a força inferior, é inútil com eles a razão; menos prejudica dissimular que não vingar o que se mostra sentir; o primeiro se atribui a remissão, o segundo a atrevimentos.

D. João III
18. Em outro lugar [da obra] veremos um exemplo desta Política em nosso Rei D. João III. É verdade que a dissimulação se deve limitar, como abaixo diremos.

19. Mandar Embaixadores serve para criar homens que tenham visto muito (qualidade precisa para conselheiros de Príncipes); mas não conduz para a Reputação. Quem os manda, mostrasse dependente; sendo contínuos, são menos estimados: e recebendo afrontas, causam empenhos. Para alcançar notícias (que verdadeiramente são necessárias), e acudir a os negócios ordinários, é melhor com menor título uma pessoa inteligente; principalmente nas partes do Norte, onde as resoluções dos Conselhos saem logo a público, e se negoceiam mais por brindes, e tratos que a gravidade de Embaixador não permite. Só a concluir uma negociação gravíssima deve ir um Embaixador extraordinário, estando preparado pelo menor ministro; não concluindo logo, não se deve deter; se deste modo não persuadir, menos fará com se dilatar. São também necessários para dar pezames, ou parabéns, com muita ostentação, e pouca detença.

20. Os Sereníssimos Reis de Portugal não costumavam ter nas Côrtes Estrangeiros Embaixadores Ordinários; negociavam melhor empregando em navios essa despesa.


SENHOR

21. A Restituição de V. A. Real a este Reino foi não só justa, mas também milagrosa; contudo maior segurança terá V. A. R. na Reputação de suas acções, que nas maravilhas com que o vimos favorecido do Céu. Saúl advertido que poderiam mais por David os aplausos do Povo, que por ele a eleição de Deus. O mesmo Cristo cuidadoso de sua fama perguntava aos discípulos que opinião tinham os homens dele. Sei que uns Políticos modernos põem a honra na conveniência; mas o seu venerado Tácito lhes adverte que quando isso tenha lugar nos particulares, não procede nos Príncipes, cuja condição os obriga a ter por fim principal, e desejar insaciavelmente a glória. Quem diz ao Príncipe que não faça caso da murmuração, que resultar de alguma acção sua quer destruí-lo, diz-lhe que despreze as virtudes, que se mostre dissoluto, e insano. Impossível parece que se não modere quando sentir que é geralmente condenado; mas se não temer o juízo comum, quem o reprimirá nas paixões? Os particulares costumam idolatrar seus vícios, não só os dissimulam com silêncio, mas os canonizam com silêncio, mas os canonizam com aplauso, e aos que podem pecar sem castigo, o remédio é mais necessário. Que vantagem há de viver no mundo se se há de morrer na memória dos homens? Tantas vezes se morre quantas se perde a imortalidade, e o Príncipe a perde todas as vezes que a não merece; porém, merecendo-a, que coisa há maior que ter segurança quase Divina entre a fragilidade humana? Não há coisa que valha a perda da fama; Só então entesouram os Reis quando a melhoram; e é o tesouro mais durável; mas como o fogo que facilmente se conserva, se de apaga, e apagado não torna a acender com facilidade; é a Reputação flor delicada que perde a graça se se toca, ou sol pela oposição da nuvem fica escuro para nós, posto que claro em si mesmo; pelo que V. A. R. não somente evite o que pode ofendê-la com realidade, mas também o que poderia opor-se-lhe com suspeita, tendo sempre na memória o conselho da Divina Política pelo Apóstolo: "Cuidai no que é de boa fama." (Paul. ad. Philipp. 4 n 8)

(continuação, VIII parte)

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