26/01/15

DO LIVRO DA EMBAIXADA DO PRESTE JOÃO DAS ÍNDIAS (I)

Segue uma série de transcrições do livro "Esta he hua breve relação da embaixada q o Patriarcha dom João Bermudez touxe do Emperador da Ethiopia, chamado vulgamente Preste João, ao christianissimo, e zelador da fee de Christo Rey de Portugal dom João o terceiro deste nome: dirigida ao muy alto & poderoso, de felicissima esperança, Rey também de Portugal dom Sebastião o primeiro deste nome. Em a qual também conta a morte de dom Chrsitovão da Gama: & dos sucessos que aconteceram as Portugueses que forão em sua companhia", (ano de 1565 - Lisboa, em casa de Francisco Correia, Impressor do Cardeal Infante):

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Carta do Patriarca D. João Bermudez a ElRei Nosso Senhor

Muito alto e muito poderoso Rei, vossa Alteza me disse os dias passados que folgaria de saber a verdade do que acontecera a um Capitão e gente que me ElRei vosso amo que está em glória deu para levar em socorro do Imperador da Etiópia Onadinguel chamado preste João, por desfazer os erros que algumas pessoas disto escrevem, em tanto que até o nome do dito Capitão erram, chamando-lhe D. Paulo, sendo ele D. Cristóvão seu irmão: e outros escrevem, e dizem algumas coisas que passaram na verdade, nem eles as viram. Portanto eu que tudo vi, lhe contarei brevemente o que passou nesta pequena escritura. Nosso Senhor guarde sua pessoa, acrescente sua nova idade, e prospere seu real estado. Ámen.

Foi examinada por o R. P. F. Manuel da Veiga, examinador dos livros: por o sereníssimo Cardeal Infante D. Henrique Inquisidor-geral nestes Reinos e Senhorios de Portugal.


Cap. I
Como D. João Bermudez foi Eleito Patriarca do Preste e Foi Enviado a Roma a Dar a Obediência ao Santo Padre.

Sendo Imperador nos reinos da Etiópia, a quem vulgarmente chamam do Preste João é fiel e bom Cristão chamado Onadinguel: e estando em passamento de morte um Patriarca daquela terra de nome Abunamarcosino, ano de 1535 de nossa redenção: o dito Imperador disse aquele Patriarca, que lhe rogava, que conforme ao seu costume ele antes de falecer me instituísse em seu sucessor e Patriarca daquela terra como ele até então fôra. E o dito Patriarca o fez assim, ordenando-me primeiro de todas as ordens sacras. o que eu aceitei com tal condição que havia de ser confirmado pelo Sumo Pontífice Romano sucessor de S. Pedro, ao qual todos haviam de dar a obediência. o dito Imperador me respondeu que era muito conveniente: e mais me rogava que por mim, e por ele, e todos seus reinos fosse a Roma a dar a obediência ao Santo Padre: e daí viesse a Portugal a dar conclusão a uma embaixada que tinha mandado por um homem daquela terra chamado Tegazauo, em cuja companhia veio o Padre Francicalvarez. Depois de passados pelo caminho muitos trabalhos, cheguei a Roma presidindo na Sá Apostólica o Papa Paulo III, o qual me recebeu com muita clemência e favor, e me confirmou tudo o que de lá trazia feito, a meu requerimento tornou a retificar tudo, e me mandou assentar na cátedra de Alexandria, e que me intitulasse Patriarca, e Pontífice daquela Sé.

(a continuar)

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