26/01/15

DA PROVÍNCIA DE GALIZA- AGIOLÓGIO LUSITANO (II)

(continuação da I parte)


Bem claramente ao propósito do que fica dito de Braga falou João Gerundenseno seu Paralipomenon: "Bracharii a Brachada urbesicdicti, et protenduntur in oppidum Baiona, et Pontevedra, includentes Tydures qui incolae Tudenses sunt. Et quoniam Brachariorum incidimus mentionem, haec Gallae Tudenses sunt. Et quoniam in Brachariorum incidimus mentionem, haec Gallaeciorum regio, et Provincia magna est, et adeo magna quod refert Strabo continere in se triginta populos, etc." A nosso intento baste-nos saber que a Província Bracarense se estendia no temporal até Baiona, e Pontevedra, onde com suas vitoriosas armas chegou depois conquistando ElRei D. Afonso Henriques no tempo que teve desavenças com D. Afonso VII chamado Imperador de Hispanha.

Esta verdade se corrobora mais com outro sólido fundamento, porque Braga foi Côrte dos Reis Suevos, que reinaram em Galiza do ano 410 per 163, conservando sempre sua antiga grandeza. F. Prudêncio de Sandouval nos Bispos de Tuy diz: "Es cierto que los Suevos poblaran por reedificacion Lugo por estar en medio de su Reino, que llegava desde Braga por lo más de Portugal a Leon hasta el rio Cea, i aun por algunas partes a Bisuerga,Ávila, Salamanca, etc.." Donde se vê o muito a que no tempo dos Suevos se estendia a jurisdição temporal de Braga; porque pela invasão dos Godos, posto que perdeu a dignidade, e grandeza de Côrte (pelo grande valor com que contra eles se opôs, e os rebateu) contudo nela se celebraram em seu tempo alguns Concílios, que lhe não adquiriram pequena glória. A esta calamidade particular se seguiu a comuna de toda a Hispanha no ano 714, na entrada dos Mouros de África, os quais entrando pelas terras da Lusitânia, e Galiza, destruindo tudo, chegados a Braga, a investiram com o mesmo bárbaro furor, fazendo nela grande estrago, como nas mais cidades de Galiza. Mas por singular privilégio da divina providência, em meio desta misera sujeição conservou, e teve sempre Prelado.

Nesta Província Bracarense se conservam os antigos solares deste Reino, e o que mais nela teve princípio o nome do próprio Reino, pois (segundo a verdadeira opinião) do nome de Cale, lugar assentado nas ribeiras do Douro, e de seu porto, se formou o de Porto de Cale, e por decurso de tempos o de Portugal. A língua, que por muitos séculos falaram nossos antepassados era mui semelhante à Galega, como se vê de nossas antigas escrituras. Por todas estas razões trazemos nesta obra os antigos santos desta Província, como tão justamente nossos.

Isto quanto ao temporal, que ao espiritual sabida coisas é, que o Apóstolo Santiago vindo por mar de Jerusalém a Hispanha [ou seja, "Península Ibérica"] deu princípio à prégação Evangélica, como diz F. Fernando Oxea em sua história, seguindo as lições que (em d[?] do S. Apóstolo) traz o Breviário Arménio. E que nela escolheu os discípulos, que referes o P. Calisto no prólogo do livro de sua translação, a quem seguem todos os historiadores de Hispanha [Península Ibérica], suas palavras: "Novem vero in Gallaetia (dum adhuc vineret) Apostolus elegisse dicitur, quorum septem (aliis duobus in Gallaetia praedicandi causa remanentibus) cum eo Hierosolyma perrexere, etc.." Estes foram Atanásio, e Teodoro, que os sete Torcato, Desifom, Secundo, Indalcio, Cecílio, Eusiquio, Eufrásio levou consigo, os quais trouxeram depois o tesouro de seu sagrado corpo a Iria Flávia. S. Pedro de Rates não entra no número destes 9 porque tinha vindo diante (como precursor) mandado por seu mestre, o S. Apóstolo. Não obstante o número (que fica dito) Servando Bispo Aurense, diz que foram 38 os discípulos, que escolheu nesta Província, e traz os nomes de todos; muitos dos quais tiveram outros companheiros, que os seguiram no ministério da pregação,como se contem nas lâminas do Monte Santo de Granada. E depois que o Santo Apóstolo tornou a Jerusalém, ficando S. Pedro Bispo de Rates em seu lugar em Braga (como cabeça, e primaz) criou, e consagrou Bispos, os quais constituiu nas Igrejas de Galiza: "Hic vir Apostolicus (diz S. Atanásio Bispo de Saragoça) acceptis a S. Iacobo institutionibus Apostolicis. Evangelio, et ordine Missae ac celebratione Sacramentorum, venit Bracharam. Epistolas Apostolico plenas spirit scriptu ad Eclesias, in quibus Episcopos institur, ut Iriensem, Amphilochensem, Eminiensem, Portuensem, ubi S. Basileum condiscipulum posuit (qui, illi per martyrium sublato successit in Sede Bracharensi) Epitatium in Tudensi. Isti viri divini, planeque Apostolici (instar Apostolorum) non in una semper urbe morabantur sed quo rapiebat illos Spiritus Sanctus ferebantur, ut Epitatius qui non solum in Tudensi Diocaesi sed in urbe Lusitaniae Ambratia praedicant qui signis, et varietate liguarum : : : : : praedicationem illustrabant, necsoli ibant praedicantum sed multis discipulis comitati, ut fecit Cristus, Petrus, Jacobus, et Apostoli caeteri," etc. As quais igrejas referidas sempre conheceram a de Braga por Motropoi acudindo os Prelados delas (como sufragâneos) a todos os Concílios, que nela se celebram, já no reinado dos Suevos, já no dos Godos, como deles consta, e se pode ver em Loaisa. E nas repartições, que em tempo de Constantino, Ariamiro, e Vuamba se fizeram das igrejas de Hispanha, assinando-lhes sempre as mesmas sufragâneas, a saber: Astorga, Tuy, Lugo, Iria, Britonia, Porto, e Orense. No tempo dos Suevos (por erigirem Lugo em Metropolitana) lhe tiraram algumas destas, e lhe substituíram outras da Lusitânia; mas os Godos lhe assinaram outra vez as mesmas, acrescentando-lhe Dume, com que permaneceu até à entrada dos Árabes. Com esta verdade concorda o mouro Rafes, e a General de Hispanha. De mais, que a dita Igreja de Lugo, depois de feita Metropolitana (por decreto do Concílio, que nela se celebrou no ano 569) ficou sempre com sujeição à de Braga, como dele consta: "Elegerunt in Synodo, ut Sedes Lucensis esset Metropolitana subjecta tamen Bracharae". A qual posse se conservou tão uniformemente, que muitos séculos depois (ainda nos primórdios dos Reis de Portugal) vinha o Prelado de Lugo, e os mais de Galiza tomar juramento de fidelidade nas mãos do Arcebispo de Braga, assim o refere Cunha no tratado da Primazia cap. 17 e na 2 p. da história de Braga cap. 3. E é esta demarcação no espiritual tão antiga, que diz o nosso João Gerundense, que no C. Eliberitano, o primeiro de Hispanha, foi repartida ela em 5 províncias: Terraconense, Cartaginense, Bética, Lusitânia, e Galia. De Hispanha Citerior foi metrópole Tarragona; de Carpetânia, Cartagena; de Bética, Sevilha; de Lusitânia, Mérida; de Galiza, Braga; a qual divisão refere também Garibay, Vaseo, e outros historiadores da Hispanha.

(continuação, III parte)

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