18/12/14

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XLIII)

(continuação da XLII parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

III Livro
A Fonte Das Consolações

Cap.VI
Provas Do Verdadeiro Amor

1. Cristo - Filho, ainda não me amas com bastante generosidade e sabedoria.
Alma - Porquê, Senhor?
Cristo - Porque ao menor revés da sorte deixas o que empreendeste e logo procuras consolações. Quem ama generosamente, permanece firme nas tentações e não se deixa envolver pelas persuasões artificiosas do inimigo. Assim como eu lhe agrado nos sucessos prósperos, também não lhe desagrado nos adversos.

2. Quem ama sabiamente não considera tanto a dádiva de quem ama como o próprio amor de quem dá. Olha mais para o afecto do que para o dom recebido e, no seu conceito, tudo quanto lhe pode dar o Amado é inferior ao Amado. Aquele que me ama generosamente, ama-me mais do que tudo o que lhe dou e é em mim que põe a sua glória, e não nos meus dons.
Se alguma vez sentes menos afecto por mim e pelos meus Santos, e isso contra a tua vontade, não te julgues por isso perdido. Aquele afecto cheio de doçura que algumas vezes sentes é um efeito da presença da minha graça e um gosto antecipado da Pátria Celeste; nele não deves fundar-te, porque o dou e retiro quando me apraz.
O verdadeiro sinal da virtude sólida e do grande merecimento está no combate aos impulsos desordenados da alma e no desprezo às sugestões do demónio.

3. Não te perturbem as vãs imaginações que te ocorrem em qualquer matéria que seja. Conserva firme o propósito de servir a Deus e vive na intenção recta de lhe agradar. Não julgues que é ilusão, vendo que algumas vezes te elevas até ao Céu e, outras, cais nas tuas fraquezas ordinárias. Tanto não és causa delas que as padeces contra a tua vontade. Enquanto te desagradem e lhes resistires, fica certo de que não lhe servem de perda, antes sim de merecimento.

4. Deves advertir que o desígnio principal do teu inimigo é sufocar os teus bons desejos e apartar-te dos exercícios piedosos, como sejam honrar os Santos, meditar sobre os meus tormentos, sore o exame útil dos teus pecados. Quer ele impedir a tua vigilância sobre o teu coração e o teu adiantamento nas virtudes. Por isso é que excita muitas vezes, no teu espírito, maus pensamentos, tão maus que te causam horror e tristeza, levando-te a abster da oração e da leitura dos Livros Santos. Aborrece-lhe a humilde confissão dos teus defeitos e se pudesse faria com que deixasses de comungar. Não o creias, nem o atendas, mesmo quando te arme ardilosos laços e subtis enganos.
Crê que os pensamentos maus, que lança no teu espírito, são dele e não teus. Diz-lhe: «Vai-te, espírito impuro e infeliz; é necessário que sejas bem infame para não te envergonhares de representar-me lembranças de tamanha ignomínia. Aparta-te de mim, péssimo embusteiro; tu não terás parte no meu coração. Jesus reinará sempre em minha alma, onde, vibrado contra ti o Seu braço invencível, te cobrirá de confusão. Antes quero morrer e sofrer todos os tormentos imagináveis do que consentir na tua malícia. Cala-te e conserva-te mudo. Não te escutarei jamais, ainda que me oprimas e molestes.»
A quem posso eu temer, sendo o Senhor a minha luz  e a minha salvação? Quando exércitos se acampassem contra mim, ainda assim o meu coração não temeria. Senhor, Vós sois o meu socorro e o meu Redentor.

5. Peleja como bom soldado e, se alguma vez caíres por fraqueza, entra de novo no combate, ainda mais valoroso do que antes persuadido de que a minha graça te sustentará mais fortemente; guarda-te, entretanto, contra a vã complacência e a soberba. Da falta dessa vigilância vem que muitos erram e caem em cegueira quase incurável. Sirva-te de exemplo, para te fortaleceres em humildade, a ruína dos soberbos que loucamente presumiram de si.

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