20/10/14

FLORES DE HISPANHA, EXCELÊNCIAS DE PORTUGAL (I)


Caros leitores, como já são vários os artigos onde se transcrevem as páginas da obra "Flores de España, Excelencias de Portugal", e como agora mesmo ia fazer mais outra transcrição deste livro interessantíssimo, perguntei-me porque motivo não havia de traduzir e transcrever uma parte do livro, o que possa. A maior dificuldade desta empreitada é da tradução. A obra está em castelhano antigo, e há bastantes frases que terão de ser "desmontadas" para que em português se lhes entenda o sentido original. Cá vamos...

FLORES DE ESPAÑA,
EXCELENCIAS DE PORTUGAL,
Em que brevemente se trata lo mejor de sus historias, y de todas las del mundo desde su principio hasta nuestros tiempos, y se descubren muchas cosas nuevas de provecho, e curiosidad.

PRIMERA PARTE

A La Magestad Del Rey Catholico
de las Espaãs

DON PHILIPPE IV
por
António de Sousa de Macedo
Su Moço Fidalgo, e Cavallero del Habito de Christo

COIMBRA
na Officina de António Simões Ferreyra,
Impressor da Universidade,
Anno de 1737
Com todas as licenças necessárias





SENHOR:

Este livro, estas Flores de Espanha, Excelências de Portugal, só a V. Majestade pedem por Mecenas, que como todas as coisas buscam seu centro e o seu mais perfeito, por força haviam estas de aspirar ao Rela amparo de V. majestade. O livro tratando do melhor de Portugal em língua castelhana, claro está que aspira a V. Majestade, em quem o nome castelhano se juntam as maiores perfeições portuguesas. As flores buscam a sombra da mais bela como seu mais perfeito, e esta se acham em V. Majestade; porque se a flor mais excelente é o lírio (como parece ter dito o Espírito Santo, Cant. 2 et 7 quando entre todas compara com ele sua esposa) bem se vê em V. Majestade, pelo que participa dos milagrosos lírio da Real Casa de França, plantados já em terra espanhola, para que se estas Flores com flores buscam o Lírio como flor mais excelente, como Flores de Espanha lhe busque como a Lírio espanhol. As Excelências de Portugal pedem a protecção de V. Majestade, como seu centro, porque é a excelência maior do Reino, e em quem estão juntas todas as que tiveram os gloriosíssimos Reis desta Monarquia seus avós, pois do modo que a boa árvore no pode produzir mau fruto, é quase impossível de claros progenitores deixarem de nascerem ilustres filhos.

Bem sei que este meu trabalho por coisas de letras será favorecido por V. Majestade, como o são todas as ciências; por matéria de Portugal lhe estimará V. Majestade, pois pelas mercês que faz a este Reino, vemos claro que tem presentes as obrigações de honrar-lhe como os senhores Reis seus passados, que com o sangue lhe deixaram isto por herança; pelo que me toca será bem recebido; porque V. Majestade como tão grande Príncipe aceitará a boa vontade igualmente que aos grandes serviços. Resta-me desejar, que se V. Majestade, dando os negócios lugar, seja por sua natural curiosidade, seja pelo amor que tem a este Reino, ou por fazer a mim mercê, puser os olhos em algo deste livro, lhe pareça bem o estilo; porque então estas Flores (Flores de Espanha, e Flores de vinte e dois anos de minha idade) poderão com toda a propriedade chamar-se flores, pois serão certas esperanças de copiosos frutos de meu engenho, que animado com as aprovações, que será o mesmo que mandado de um tal César, sairá à luz com outras obras, principalmente do tempo de V. majestade, em que, se tenho seu Real favor, como espero,

Farei que outro Alexandre em vós se veja,
Sem a dita de Aquiles ter inveja

Deus guarde a Católica Pessoa de V. Majestade, como a Cristandade necessite, e seus vassalos desejamos.

ANTÓNIO DE SOUSA DE MACEDO

(continuação, II parte)

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