27/09/14

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XVIII)

(continuação da XVII parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

Cap. XVIII
Os Exemplos dos Santos Padres

1. Pondera bem os heróicos exemplos dos Santos Padres, nos quais resplandeceu a perfeição verdadeira e a Religião, e verás que pouco, ou quase nada, é o que fazemos. Ai de nós! Que é a nossa vida, se a compararmos com a deles?
Os Santos e amigos de Cristo serviram ao Senhor em fome, em sede, em frio, em nudez, em trabalho, em fadigas, em vigílias, em jejuns, em orações, em meditações santas, em perseguições, em muitos opróbios.

2. Quantas e quão graves tribulações padeceram os Apóstolos, os Mártires, os Confessores, as Virgens, e todos os mais que quiseram seguir as pisadas de Cristo! Eles aborreceram as suas vidas neste mundo para as possuir eternamente no outro.
Que vida de privações fizeram os Santos Padres no ermo! Que contínuas e graves tentações padeceram! Quão frequentemente foram atormentados pelo inimigo! Que contínuas e fervorosas orações ofereceram a Deus! Que duras e ásperas abstinências fizeram! Que grande zelo e fervor puseram no seu adiantamento espiritual! Que fortes pelejas passaram para superar os vícios! Que pura e recta intenção tiveram em Deus!
De dia trabalhavam, e passavam as noites em oração. E, ainda trabalhando, não cessavam de orar mentalmente.

3. Todo o seu tempo era bem gasto. As horas lhe pareciam breves para dar-se a Deus, e pela grande doçura da contemplação, chegavam a descuidar-se da necessária refeição do corpo.
Renunciavam a todas as riquezas, dignidades, honras, amigos e parentes; nenhuma coisa queria do mundo. Tomavam apenas necessário para a vida, ainda que lamentando ter de servir ao corpo. Assim, eram pobres das coisas da terra, mas riquíssimos de graça e virtudes.
Exteriormente, mostravam dolorosa indigência, mas, interiormente, opulentos de graça e recriados com a consolação divina.

4. Estranhos para o mundo, eram íntimos e particulares amigos de Deus.
Tinham-se a si mesmo por nada e o mundo os tratava com desprezo; mas eram dignos de estima aos olhos de Deus.
Mantinham-se em doce humildade e simples obediência; portavam-se com paciência e caridade e, por isso, cada dia mais aproveitavam enriquecendo o espírito e alcançando a divina graça.
Foram dados por exemplo a todos os religiosos e mais nos devem incitar no caminho do bem do que a multidão de tíbios que nos desanimam e afrouxam os nossos exercícios.

5. Como foi grande o fervor de todos os religiosos no começo dos seus sangrados intuitos! Quanto amor à oração, quanto zelo à virtude! Que pontual observância, que humilde respeito à obediência aos preceitos dos superiores florescia geralmente em todos! Os sinais que deixaram ainda agora dão testemunho de que foram varões verdadeiramente santos e perfeitos. Pelejando tão valorosamente, venceram o mundo.
Hoje, é tido já por muito não quebrantar a regra a levar com paciência o jugo livremente aceito.

6. Ó tibieza e descuido do nosso estado! Como tão depressa decaímos do nosso primitivo fervor ao ponto que já nos aborreça a nossa vida por causa do nosso desânimo e frouxidão!
Permita Deus que em ti não desfaleça de todo o desejo de progredir em virtudes, tendo teus olhos nos exemplos de varões tão devotos.

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