06/03/14

PORTUGUESES - "REDENTORES DOS LUGARES SANTOS" (II)

(continuação da I parte)

Peças e paramentos, que existem nos lugares da
Terra Santa mandados do Reino de Portugal

"No Santo Sepulcro - Quatro lâmpadas de prata, que estão continuamente com luz na pedra do Anjo, junto ao Santo Sepulcro, e têm por título "Príncipe de Portugal".
Mais uma lâmpada de ElRei de Portugal no Santo Sepulcro.
Mais outra lâmpada dourada, que serve nas funções de ElRei de Portugal, dentro do Santo Sepulcro.
Mais duas lâmpadas de prata dos Reis de Portugal, que servem no Santo Monte Calvário.
Mais outras duas lâmpadas de prata do mesmo senhor em quanto príncipe, que estão na capela do Santo Sepulcro.
Uma bacia de prata, que leva três almudes de água, em que esta se benze no Sábado Santo, dádiva de ElRei de Portugal.
uma preciosa armação, com que se adorna o Santo Sepulcro, dádiva de ElRei D. João V.
Um pontifical, que serve com a dita armação, e é do mesmo género e preciosidade.
Um pontifical roxo com ricas alvas, que mandou o cardeal da Cunha.
Uma armação de damasco carmesim com galões de oiro, que mandou o mesmo Cardeal para a capela do Anjo.
Finalmente mais um relógio de parede, que mandou um benfeitor de Portugal.

No Conveito de S. Salvador em Jerusalém - Uma alva riquíssima, de que se serve o padre guardião nos pontificais, dádiva do Cardeal da Cunha.
Várias casulas e outros sagrados paramentos, que mandaram particulares benfeitores.

No Convento de Belém - Uma lâmpada, que arde continuamente na gruta do Sacro Presépio, dádiva de ElRei de Portugal.
Uma custódia de prata doirada, que serve na novena da festa da Expectação, dádiva de ElRei de Portugal.
Quatro lâmpadas de latão, que servem no mesmo templo.
Dois candeeiros de prata, que servem nas funções do Natal.
Um ornamento branco bordado de oiro, que serve no pontifical da noite de Natal e na festa da Epifania, com as armas de Portugal na capa, casula, dalmáticas, frontal, pano de estante, e véu de ombros.
Dpois livros grandes de coro, que mandou ElRei de Portugal no ano de 1732.

No Convento da Santa Casa da Nazaré - Um turíbulo e uma naveta de prata com as armas de Portugal; o sobredito foi mandado no ano de 1730, com um pasteiro para o coro.
Três casulas e cinco frontais de brocado com galões e franjas de oiro, e com trajas do mesmo, em que se vêm debuxadas as armas de Portugal.
Mais uma capa, dalmáticas, pano de estante e véu de ombros, tudo do mesmo brocado, e com os mesmos escudos. Foi obra de esmolas de várias pessoas particulares de Portugal, e levado no ano de 1732.
Três lâmpadas de prata para a mesma Santa Casa com as armas de Portugal.
Há ali mais oitenta cóvados de damasco para uma armação da Santa Gruta, que mandaram vários devotos de Portugal no ano de 1733.
Três casulas de damasco com galões de oiro; uma para o convento de Chipre, outra para o hospício de Safa, e outra para o de Roma.

CONTA DAS ESMOLAS REMETIDAS PARA JERUSALÉM

Desde 1757 até 10 de fevereiro de 1775 (300.640$000)
Pela Rainha D. Maria I, desde 5 de setembro de 1777 até 19 de agosto de 1796 (274.680$000)
Total (575.320$000)

A Alemanha, ainda que não mandava aos religiosos do Santo Sepulcro subsídios pecuniários, lhes subministrava contudo alfaias e adornos para os santuários, aliviando os religiosos destas necessárias despesas. Porém a filosofia do tempo, tão abundante em especulações destruidoras da piedade, filosofia, que no governo do Imperador José II tantos progressos fez naquele Império, decidiu que fossem privados destas esmolas os santuários de Jerusalém.

Os Estados Pontifícios, e outros Principados e ilhas concorriam com o que podiam. Reduzidos, porém, ao estado de pobreza em consequência de uma guerra assladora, nada podem contribuir; e apenas podem dispensar alguma coisa de sua pobreza para a manutenção de seus teatros.

A França, esse Reino tão piedoso debaixo do domínio de seus Reis legítimos, socorria não pouco os santos lugares; os seus Reis Cristianíssimos se excediam uns aos outros em enviar a Jerusalém monumentos de sua real magnificência.  Mas desde que alguns de seus filhos perpetravam por um fernesim de impiedade o mais escandaloso regicídio, e sentaram no Trono dos Bourbons um estrangeiro, desde então até agora se perdeu a lembrança dos santos lugares nos vastos domínios daquela nação.

A Espanha, que noutros tempos enviava a Jerusalém avultadas somas, agora, que acaba de surgir de entre as ondas de uma prolongada guerra, guerra tão assoladora, como injusta, gemendo ainda sobre as suas ruínas, não concorre, nem pode concorrer para a manutenção dos cultos dos lugares santos.

Portugal somente, este Reino abençoado de Deus, que tem volvido sobre ele os olhos da sua misericórdia, somente Portugal tem sido o redemptor, e o sustentáculo dos santos lugares; e tanto que nem ainda no tempo da guerra faltaram em Jerusalém as suas conductas, que foram remediar as maiores necessidades dos religiosos. Em 1811 tendo saido de Jerusalém pr falta de substância alguns religiosos, se achavam no porto de Jaffa para embarcar para as suas respectivas pátrias, quando os foi deter a conducta de Portugal. Reconhecendo nisto um rasgo visível da Providência, bendizendo a Deus, voltaram outra vez para os seus respectivos conventos. Finalmente quase toda a subsistência dos religiosos da Terra Santa desde que Bonaparte principiou a abalar com as armas os Tronos da Europa, é devida aos portugueses, segundo a confissão dos mesmos religiosos.

D. João VI
As dádivas magníficas, que os nossos soberanos têm oferecido particularmente para o Santo Sepulcro, são o objecto da admiração das nações. D. Maria I além de outras dádivas preciosíssimas, enviou a Jerusalém em 1782 uma lâmpada para o Santo Sepulcro. Sempre que de Lisboa saiam as conductas para Jerusalém se dignava escrever aos religiosos, representantes daquela Custódia, a quem incumbia que fizessem por si e seus vassalos deprecações a Deus; em testemunho do que ainda ali se conservam as suas cartas.

Em gratidão a tanta piedade se oferecia a Deus todos os anos por ela em Jerusalém no dia 17 de Dezembro uma festa solene além dos sufrágios comuns. Esta festa se faz agora a 13 de maio por D. João VI. A notícia de sua morte, quem eu anunciei o primeiro em Jerusalém, foi recebida pelos religiosos com visíveis sentimentos de tristeza, e na igreja do Santo Sepulcro lhe fizeram sumpruosas exéquias, às quais assistiu grande parte da cidade." (Notícia das Recordações e Monumentos Ainda Existentes Nas Diferentes Partes do Mundo Feitos Pelos Portugueses, ou Erigidos em Honra D'Elles - Manuel Bernardes, Lisboa 1879)

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