06/03/14

HISTÓRIA DOS "ILUMINADOS" (IV)

(continuação da III parte)

Por estas qualidades do mais íntimo adepto de Weishaupt, é fácil julgar as que exigia dos outros candidatos para deles se fiar. Além das que descreve em sua carta a Tibério, acham-se outras nos escritos originais, que nos põem no estado de apreciar o zelo. Tal é entre outros, o Marquês de Constança, que debaixo do nome de Diomede, desde os primeiros anos da seita, tinha viajado o Tirol e Milão como apóstolo do Iluminismo. Tais o Conde de Savioli, o Barão de Magenhoff, de quem Weishaupt fezz seu Bruto, e seu Sila; e o Conde Pappenhem com o nome de Alexandre. Tais, sobre tudo, foram diferentes professores de colégios ou mostres de escolas, a quem o fundador preferia, como os mais aptos para seduzir a mocidade, e corromper desde a infância o coração do homem.Os progressos desta Ordem, na primeira época, e os meios de que Weishaupt se serviu para aumentar o número de seus adeptos, se pode ajuizar pelo extracto seguinte achado entre os papeis do Catão Zawck:

"Nós temos em Atenas (Munich) 1º uma loja regular de Iluminados Maiores, própria para o nosso objecto; 2º uma grande loja maçónica; 3º duas consideráveis igrejas, ou academias do Grau Minerval.
Também temos em Tebas (Freysinga) uma loja Minerval, assim como em Mégara (Landsberg) em Burghausen, em Straubing; e em Éfeso [Inglstadt). Em pouco tempo estabeleceremos uma em Coríntio (Ratisbona).
Nós comprámos (em Munich) uma casa; e tomámos também nossas medidas, que os profanos não só não falam de nossas assembleias; mas nos dão mostras de grande estima, quando nos veem ir publicamente isto é muito para uma cidade como Munich.
É nesta casa, ou loja que temos um gabinete de história natural, instrumentos físicos, uma biblioteca, e tudo isto se vai aumentando pelos donativos dos irmãos.
O jardim é destinado à botânica.
A Ordem procura para os irmãos todos os jornais científicos. - Por diferentes brochuras impressas, temos excitado a atenção dos Principais, e do Povo sobre certos abusos mais notáveis. Todos os dias empregamos novas forças contra os Religiosos, e temos visto bons frutos de nossos trabalhos. (Um dos coriseos da Revolução da França gritavam no meio da assembleia: "Se quereis destruir o Trono, começai pelos Religiosos." Parece não termos necessidade de maior prova, para conheceremos o que são úteis às Monarquias, onde se acham estabelecidos; e que seus inimigos são os conspiradores contra o Trono, e discípulos do ímpio Weishaupt.)
É absolutamente proibido alistar os R. C. (Rosa-Cruz) e devemos da-los por suspeitos.
Já sabereis a íntima aliança que fizemos com a loja de ... e com a Loja Nacional de Polónia ..."


Outra nota da mesma mão sobre os progressos políticos da Ordem:

"Pelas intrigas dos irmãos, todos os Religiosos foram banidos das Cadeiras da Universidade de Ingolstadt.
A Duquesa viuvava para a educação dos seus filhos, segue o plano feito pela nossa Ordem, e segundo nossos princípios. Esta Casa está debaixo de nossa inspecção; todos os professores são membros da Ordem. Cinco destes membros foram bem providos, e todos os seus discípulos serão nossos candidatos.
Pela protecção dos irmãos, Pylade está feito Conselheiro fiscal Eclesiástico: procurando-lhe este lugar, nós pusemos à disposição da Ordem o dinheiro da Igreja. - Também temos pelo uso deste dinheiro reparado já a má administração de nossos ... e o tiramos das mãos dos usurários.
Os irmãos da igreja têm sido por nossos cuidados promovidos em Benefícios, Curados, e Cadeiras de Professores. Arminio, e Cortez já estão professores de Ingolstadt.
É pelos nossos cuidados, e protecção, que a Côrte mandou vigiar dois de nossos adeptos, que já estão em Roma.
As escolas germânicas são governadas pela nossa Ordem, e têm por Perfeitos nossos irmãos.
Também governamos a Sociedade da Caridade.
A Ordem tem procurado a grande número de irmãos os primeiros lugares da Magistratura, e administrações.
Quatro Cadeiras Eclesiásticas são ocupadas por nossos irmãos.
Em pouco tempo, nós seremos mestres das casas destinadas para a educação dos nossos eclesiásticos. As medidas estão tomadas, e por isso poderemos munir toda a Baviera de sacerdotes convenientes ao nosso objecto.
Pelos nossos esforços, e por diversas maneiras, chegamos ao fim não comente de manter o Conselho Eclesiástico, mas de o sujeitar aos colégios, a quem se deu todos os bens, que administravam os Religiosos. Nossos Iluminados Maiores fizeram sobre este objecto seis Assembleias, muitas das quais ocuparam uma noite."


Quantos problemas ou enigmas, esta nota do adepto Catão não prepara à solução na história da Revolução Francesa? Com que cuidado não vemos aqui a seita embrenharse no mesmo Santuário! Que meios não emprega para penetrar nos Conselhos, na Magistratura, e na administração pública! Ela nãoo só faz servir os tesouros da Igreja e do Estado; mas também se apodera da tenra mocidade, educando seus noviços com despezas da fundação pública; faendo subsistir seus viajantes á custa dos Príncipes, de quem meditam a ruina. - Ainda há nestanota enigma do outro género. Vê-se Catão Zwack aplaudir-se de ter fundado em Munich uma loja de pedreiros-livres, e os triunfos que tem conseguido os Iluminados sobre os maçons Roza-Cruz. - Donde nasce pois este desejo de imitar os pedreiros-livres, e a guerra declarada que fazem aos mais famosos adeptos da maçonaria? Suas questões nos conduz a expor o meio profundamente concebido por Weishaupt, a fim de propagar suas conspirações. Sua intrusão nas lojas ma´nicas nos levam à segunda época dos pedreiros-livres-iluminados. Desde os primeiros dias do Iluminismo, Weishaupt julgou tirar grande partido para suas conspirações, se ele fizesse uma aliança com o grande número de pedreiros-livres, espalhados por toda a Europa. Escrevia ele ao adepto Ajax em 1777:

"Eu vos participo que antes do Carnaval vou para Munich, onde me farei receber pedreiro-livre. Não vos admireis deste passo que dou: nosso sistema em nada diminuirá; pois por este meio aprenderemos a conhecer um novo segredo, e por ele nos faremos mais fortes que os outros."


Com efeito, ele recebeu os primeiros graus maçónicos na loja de Munich, chamada de S. Teodoro. Weishaupt viu nesta loja entre momices a igualdade e a liberdade fazerem as delicias dos irmãos. Suspeitando mistérios ulteriores, os pedreiros-livres lhe diziam, ainda que inutilmente, que toda a discussão religiosa e política era banida das lojas; porque outro tanto dizia ele aos seus noviços sobre o objecto de sua Ordem; pois conhecia o quanto era útil semelhante afirmação. O adepto Zwack, instituído por um maçon chamado Marotti, recebeu conhecimentos mais profundos, e foi iniciado nos supremos graus da Maçonaria. Weisaupt, escrevendo ao mesmo adepto, lhe diz ter adquirido sobre este objecto outros conheciments, de que faria uso em seu plano, mas que os reserva para os graus superiores. Seguro para futuro de suas novas descobertas, e do uso que delas poderia fazer, para baralhar seus mistérios com os dos maçons, e adquirir por este meio tantos milhões de irmãos, derramados desde o Septentrião até ao Meio-dia, isto é, segundo sua frase, por todo o Universo, ele ordenu a seus areopagitas, que se fizessem pedreiros-livres, fazendo todas as disposições para ter as mesmas vantagens em suas diversas Colónias. O fundador bávaro possuía os segredos dos maçons; e os maçons ignoravam os segredos dos Iluminados. - Tal foi a época, em que os Rosa-Cruz viram com susto elevar-se uma nova sociedade em prejuízo das antigas maçónicas, pois que os Iluminados não poupavam a injúria (uso dos propagadores do erro) para desacreditarem os maiores discípulos dos maçons, assoalhando que só o Iluminismo é que possuía os verdadeiros segredos da Ordem. Weishaupt imaginou todos os meios de triunfar do combate e da intriga, excitada entre seus adeptos e os pedreiros-livres. Indeciso do uso que faria de sua vítima, escrevia a Zwack nestes termos: 
 
"Eu queria mandar vir de Londres uma Constituição para os nossos irmãos; e ainda agora seria este o meu voto, se estivéssemos seguros do Capítulo (maçónico) de Munich. - Eu não posso escrever nada fixo sobre isto, sem que primeiro veja a face, que tomam os negócios [assuntos]. Pode ser que ainda me resolva a fazer um novo sistema maçónico, ou que ligue os pedreiros-livres a nossa Ordem, fazendo um só Corpo destes dois sistemas." (Cart. 57, A Catão. Março 1778)

(Philon Knigge):
Para o determinar nestas incertezas, era necessário a Weishaupt um homem, que desse menos tempo apesar as dificuldades, e que as resolvesse apenas imaginadas. O demónio das Revelações e da impiedade lhe enviou um Barão hanoveriano, chamado Knigge. Ao ouvir este nome, os mesmos pedreiros-livres alemães reconheciam o perverso, que tinha empestado suas lojas maçónicas, e a que nada poupava para consumar a depravação de seus ímpios e sacrílegos rosa.cruz. Em sua cólera e indignação, eles chegavam a perdoarem, e terem para com Weishaupt uma espécie de indulgência; fazendo cair sobre Knigge todo o seu ódio, e todo o opróbrio de sua sociedade, infernal viveiro do Iluminismo. Porém a veracidade dos factos só mostram que nesta intrusão, Philon Knigge foi um digno instrumento, de que se serviu Spartacus-Weishaupt. O que um executou, o outro tinha meditado havia longo tempo. Estes dois homens, um para dar leis ímpias e revolucionárias, outro para propagar os mistérios da seita, e para arranjar em suas conspirações legiões de adeptos.

Adolph von Knigge
(Paralelo de Knigge e de Weishaupt):
Se Weishaupt em suas ferozes meditações parece qual Satanás ocupado dos projectos, que concebeu contra o género humano; Knigge nos fazlembrar um desses génios malfazejos, que com a rapidez da peste corre a toda a parte, que o rei dos infernos lhemostra para contaminar, e semear a maldade. Em suas meditações, Weishaupt combinava vagarosamente suas conspirações, comparava seus princípios, calculava tudo; e para assegurar seu golpe, às vezes deferia a execução de seu sistema.  Porém Knigge com sua ligeireza faz mais, que delibera: apenas vê que se pode fazer mal, nada o suspende para o fazer. Um prevê os obstáculos que poderia encontrar, e procura evitá-los; o outro só teme perder o tempo, que é necessário para reflectir. Um não quer ver causa que retarde seus passos; o outro nada julga capaz de suster.


(continuação, parte V)

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