30/03/14

CONTRIBUTOS PARA O ENTENDIMENTO... (II)

(continuação da I parte)

Mandava os moços da Câmara, que tivessem cuidado de se achar ao tempo do vestir e despir do Duque, e aos tempos dos recados pela manhã quando o Duque estava em despacho, e pela sexta [hora 6ª], e os repreendia quando o não faziam, e os ensinava a dar os recados, e a fazer as mesuras e cortesias devidas aos oficiais mores e fidalgos, e finalmente era Mestre das Cerimonias, e quando faziam alguma travessura, ele os castigava por mandado do Duque, ou do Camareiro-mor.

Também tinha a seu cargo, mandar aos Reposteiros, que fizessem o fogo e fossem contínuos a todos os tempos para o serviço de sua obrigação; fora dos tempos do Veador, mandava ao Reposteiro, que tinha cargo do brandão, que o acendesse a seu tempo, e o apagasse, como o Duque saia da casa, se o Duque adoecia, dormia na Guarda-roupa e lhe acudia de noite.

Era sempre contínuo no serviço de dia e de noite; acompanhava o Duque quando ia ao Paço a ElRei, aos Infantes, e a todas as visitas, e nos caminhos, e casas, e lugares onde o Duque ia à caça, e para servir o ofício era nomeado pelo Camareiro-mor.


Moço da Guarda-roupa António Mouro.

o desafio continua: de que século é este texto?
O ofício de moço da Guarda-roupa, era ajudar ao Camareiro a vestir e despir o Duque, como atrás fica no título do Camareiro-mor.

Levava as calças e as ajudava a calçar, subir, e atacar; tinha mão no roupão, enquanto o Camareiro vestia uma manga e outra do gibão; e quando lho despia, que queria vestir o pelote, o tinha, e tomava o moço da Guarda-roupa, e o dava a um dos moços, que serviam na Guarda-roupa, ou um moço da Câmara.

Em ausência do Camareiro e do Guarda-roupa, vestia, e despia, senão era em doenças largas, porque então provia o Duque.

Dormia de fora da porta da Câmara, porque dentro não dormia pessoa alguma, salvo o Camareiro-mor, acudia de noite ao Duque a todas as coisas, que se ofereciam, dar-lhe o roupão se se levantava a algumas obras da natureza, e por-lhe a toalha nos pés frios, e a toalha quente no estômago, e a cobri-lo se havia frio; e se queria ler ou rezar o livro, se se havia de levantar cedo, acordava-o, e lhe dava o açúcar rosado e o púcaro de água.

De dia e de noite, quando o Duque não estava em negócio, sempre era presente; comunicava o Duque com ele muitas coisas de substância, e de grande qualidade. Contava muitas histórias ao Duque sem prejuízo de pessoa, com que aliviava muito o Duque de suas melancolias, que nunca faltavam, e como o Duque dormia pouco, a maior parte das noites gastava nestas coisas.

Era guarda da pessoa do Duque, e da sua Casa, tinha cuidado de ver as portas, e janelas da Câmara se estavam fechadas, e corria toda a casa, e via debaixo do leito se estava alguma coisa, e esta diligência fazia todas as noites, quando o Duque se deitava, e tudo deixava a bom recado e portas fechadas, senão a da Câmara, que vinha para a Guarda-roupa, onde ela dormia, porque só esta ficava aberta.

O mesmo fazia na Guarda-roupa, e fechadas as portas, e janelas dela, se deitava com sua espada, ou montante a ilharga da cama.

Tinha a seu cargo os homens da Guarda, que eram doze, mandava cada noite dormir quatro na sala, e um deles tinha cuidado de acender a vela.

Sempre tinham doze alabardas num cabido na sala. Estes quatro eram contínuos de dia e de noite para acudirem a qualquer coisa, que se oferecia, e destes dois caminhavam sempre com as cargas da Guarda-roupa, e carregavam as arcas, e descarregavam.

(continuação, III parte)

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