15/02/14

LOUVORES A PORTUGAL - POR OLHOS ESTRANGEIROS (III)

(continuação da II parte)

- P. Chapelain de M. R. Grognard escreve sobre Portugal, em dedicatória ao enviado extraordinário de Portugal, D. Diogo de Carvalho Cerqueira, em 1682:

"Não custa a conhecer a nação portuguesa, se se reparar na história de suas empresas, nas suas victorias, glória e conquistas.

São os portugueses ordinariamente mais propensos à navegação, ao comércio, à guerra, do que as belas letras, apesar de serem eles dotados dum espírito subtil. O que para isso mais contribui, é o exemplo de seus avós, que por aqueles meios estabeleceram suas casas e serviram ao Rei para aumentar a glória e forças do estado. Tem-se visto que souberam fazer para as consolidar e conservar tão belas conquistas nas costas de África, Ásia e no novo mundo. Comerceiam com todos os povos do setentrião e enriquecem-se em pouco tempo."

São mais corteses que os castelhanos, cujo orgulho lhes pareceu sempre intolerável. São também homens muito espertos, civis e próprios para tudo.

As conquistas deste Reino estendem-se a mais de cinco mil léguas de costa, e como os portugueses têm querido tornar-se por toda a parte senhores do comércio, todas as quatro partes do mundo, todas as suas praças estão à borda do mar, onde seu Príncipe, que é conhecido em todas as quatro partes do mundo, tem vários Reis por vassalos e tributários com a comodidade de fazer vir para a Europa as mais raras e preciosas mercadorias do Oriente.

(...)

Pode-se dizer que não há nação na Europa que seja tão poderosa, tão rica e tão estimada como o é a portuguesa nas Índias orientais, quer isto provenha da pesca das pérolas, e das conquistas que soube ganhar e conservar tão gloriosamente, quer de sua maneira de proceder, mais afável que a dos espanhóis, e de sua habilidade admirável em todas as coisas.

Castela deve sua liberdade aos Reis de Portugal, cujas armas mais contribuíram do que as dela a expulsar os mouros dos Reinos de Granada e de Andaluzia, e a desviar as conquistas que seus miramolins poderiam empreender, se os portugueses não se tivessem oposto a seu furor, etc.

O Reino é muito povoado, e todos os portugueses aguerridos. Daqui saíram grandes exércitos, e a nação povoou colónias muito notáveis, mesmo antes da conquista da Índia, e apesar de ter disto Portugal em todos os séculos um campo de batalhas ou de revoluções. Seus Reis sustentaram só com as forças do país guerras contra os mouros e castelhanos, e outros vizinhos que tinham um número quase infinito de soldados. Ampliaram aos limites do país, o levaram a cabo empresas, que uma parte da Europa nem mesmo teria ousado empreender. Povoaram as costas de África, as Índias Orientais, o Brasil, e para ali continuaram a mandar anualmente mais de seis mil homens..... Enquanto a marinha, Portugal é a primeira nação no universo. os navios são tão bem construidos, e a habilidade dos marinheiros ajuda tão bem a coragem dos soldados e os projectos dos generais, que com justa razão a esquadra de Portugal é o terror das Índias, e por isso ali conserva praças afastadas umas das outras, e no meio de tantos Reis inimigos. A causa disto é que o número dos navios em serviço da Coroa é extraordinário; e se todas estas esquadras se unissem à frota que anda a cruzar por aqueles mares ás ordens de S. M. Portuguesa seria uma frota capaz de fazer tremer uma infinidade de povos."


- O autor é italiano, não sei quem é, e critica o que se escreveu sobre Portugal a respeito das invasões napoleónicas. Em 1816 escreve assim:

"Napoleão resolveu mandar em 1810 para Portugal um exército de 115.000 homens sob o comando de Massena. E se ele pôde destacar aquele número de soldados para fazer a conquista de Portugal, se durante os dez meses daquela invasão não houve algum outro acontecimento notável na Península, nem os espanhóis fizeram algum movimento para se aproveitarem da divisão do marcheal Massena e da de Soult, que tinha recebido ordem de se apossar de Badajoz e ocupar a parte meridional do Tejo em Portugal, era evidente ser Napoleão senhor da Espanha nos anos de 1809, 1810, 1811, como o era do resto do continente. por isso em vez de considerar debaixo dum ponto de vista secundário os acontecimento de Portugal, e dar toda a importância aos movimento da Alemanha, devia o autor considerar naquela época a causa de Portugal, como a causa do continente inteiro.

Por ocasião da batalha de Barrosa, dada perto de Cadix a 5 de março de 1811 desenganaram-se os ingleses da possibilidade de formar um exército hispano-inglês. Daquela época por diante não pensara os ingleses entrarem sozinhos na Espanha,e depois da retirada de Massena em maio de 1811 só houve o exército Anglo-Luso, que figurasse no referido país. A este de longe a longe se uniu algum pequeno e insignificante corpo espanhol, mas em geral os espanhóis operavam somente como guerrilhas; e depois de 1809 pode-se dizer que mui pequena parte tiveram nos brilhantes sucessos de guerra. Nenhuma, por exemplo, na batalha do Buçaco a 27 de setembro de 1810, e em todo o tempo da invasão Massena.
Nenhuma nos assaltos de Ciudad-Rodrigo, e de Badajoz no ano de 1811;
Muito pouca e débil na batalha de Albuera a 16 de maio de 1811;
Quase que nenhuma na de Salamanca a 21 de julho de 1812;
Muito pouca na de Victoria a 21 de julho de 1813;
Nenhuma no assalto de S. Sebastião;
Pouquíssima em diversas batalhas de Pamplona e dos Pirenéus;
Muito pouca em diferentes refregas em torno de Baiona;
Muito pouco na batalha de Orthez a 13 de fevereiro de 1814;
Pouca na de Tolosa a 10 de abril de 1814.

Por conseguinte o autor da história representa-a debaixo de falsas cores quando omite falar dos triunfos de lord Wellington em Portugal, e dos esforços dos portugueses, que foram o primeiro passo decisivo para o livramento do continente. Quando faz figurar um exército anglo-hispano, que nunca existiu, e passa em claro o exército anglo-luso.

Lord Wellington, quando chegou a Portugal, escreveu aos ministros ingleses, dizendo-lhes que lhe parecia surpreendente a insurreição de Portugal, pois aos espanhóis ainda restavam algumas tropas e todos seus arsenais, ao passo que aos portugueses nada que tal nome merecesse.

A história de Portugal em quanto a este ponto desafia o cálculo e a sagacidade dos mais hábeis políticos. Esta nação em todos os tempos se mostrou belicosa e propensa a defender sua pátria, e todas as vezes que tem sido bem dirigida, tem obrado prodígios na guerra; duas vezes esteve sem oferecer resistência em 1589 e 1807, e duas vezes se insurgiu contra o inimigo que a molestava, e em ambas foi bem sucedida."


- M. Guingret, chefe de batalhão francês, oficial da Ordem Real da Legion d'Honneur, em 1817 escreve:

"É Portugal um dos países mais montanhosos e mais pitorescos; regado e fecundado por alguns rios majestosos, ornado de bosques e florestas, sendo também cortado por pequenos ribeiros e torrentes, que engrossam prodigiosamente com as menores chuvas. nele se vêm lugares os mais pitorescos e risonhos junto de vistas da maior aridez.

Apesar da antiga reputação de bravura dos espanhóis, e de nos terem por bastante tempo causado muito mal, todavia não mostram contra nós uma coragem tão activa, como a dos portugueses. Nos últimos tempos as tropas deste rivalizavam em valor com a melhor infantaria inglesa."

Citarei o sangue frio de alguns artilheiro portugueses no cerco de Almeida, que tendo tido a felicidade milagrosa de sobreviverem à explosão, continuaram a disparar suas peças, em quanto os destroços da praça ainda voavam, e ameaçavam esmigalhá-los. Gostámos de admirar a coragem, mesmo em nossos inimigos.

Almeida
Em geral todos os chefes inimigos que comandaram praças na Espanha, ou em Portugal, adquiriram muita glória. Quase todos desenvolveram grande coragem, mostraram uma dedicação rara, e deram provas do mais nobre desinteresse durante suas defesas. Parecia que quanto menos esperavam socorro, tanto mais pertinácia mostravam. Um comportamento militar tão belo em nossos inimigos, realça a glória dos chefes franceses que foram encarregados de lhes tomar as praças.

Passámos por Mangualde, pequena, mas bonita povoação. As plantas e árvores indígenas, que embelezam este lugar, concorrem a torná-lo mais delicioso aos olhos do estrangeiro. Começamos aqui a encontrar monumentos de utilidade pública, monumentos muito raros na Espanha, onde ainda menos existiam antes do reinado de Carlos III.

Além dos monumentos de utilidade pública, as diversas fábricas, e as boas livrarias que se acham tão frequentemente nas cidades, e até nas vilas, onde os principais habitantes têm sempre porção de excelentes obras em várias línguas; os instrumentos de matemática, física, astronomia, marinha, que vemos frequentemente em Portugal e cuja forma se ignora mesmo na Espanha, tudo isto parece atestar que a nação portuguesa está muito mais adiantada que a Espanha. (...)

(...)

Avistámos então o convento do Buçaco, do qual tínhamos distinguido uma parte da torre no dia da acção. Os religiosos deste mosteiro tinham recolhido e tratado com a maior humildade os feridos do nosso exército que tinham ficado no campo de batalha, a distância fora do alcance do socorro, que nós lhes tivéssemos desejado dar. Em muitos lugares de Espanha os frades te-os-iam matado em vez de diligenciarem sua conservação.

(...)

É com injustiça que se atribui a expulsão dos franceses da Espanha aos espanhóis: devem principalmente o livramento de sua pátria às forças de Inglaterra, e ás de Portugal.

Estavam os espanhóis mergulhados num sono apático, quando uma perfídia inaudita lhes roubou Fernando VII. O despertamento foi terrível. A indignação transformou de repente na Península o espírito de fanatismo em furor guerreiro. Numerosos exércitos se formaram; fortificaram-se à pressa muitas cidades e conventos, por toda a parte ouviram-se cânticos patrióticos, misturavam-se com os hinos consagrados à Divindade. Com o sentimento profundo da justiça de sua causa todos os espanhóis levavam no coração a confiança da victoria. No entanto não puderam resistir à superioridade, que o hábito de vencer tinha dado a nossos soldados. Os exércitos espanhóis vencidos logo que eram atacados; desapareciam diante do nós como areias assopradas pelo vento. Sanguinolentas derrotas, a queda de Saragoça afrouxaram os enérgicos esforços dos povos de Espanha. Esta nação vilipendiada renunciou então em parte ao plano de defesa activa que tinha abraçado ao principio, e opôs sua inércia natural à invencibilidade dos franceses."

No entanto os destroços dos exércitos espanhóis, numerosos corpos milicianos comandados por generais patriotas; bandos de guerrilhas, à frente das quais se achavam contrabandistas, aventureiros e mesmo antigos chefes de salteadores conseguiram manter continuamente a maior parte das províncias num estado de guerra vantajoso à causa da nação. os espanhóis têm coragem, porém exagerou-se muito o valor que mostraram na última guerra. Os elogios excessivos que lhes prodigalizaram não são devidos mais que á sua perseverança, virtude inerente à sua vaidade."


- Da coleção de viagens de André Holben (1557):

"Encontrámos depois cinco navios que pertenciam ao Rei de Portugal: tinham ordem de esperarem junto das ilhas os navios que voltavam das Índias para os comboiarem para Portugal. Ficámos com eles, e os ajudámos a comboiar um navio que chegava da Índia até uma ilha chamada Terceira. Um grande número de navios, procedentes todos do novo mundo, se tinham reunido nesta ilha. Uns dirigiram-se para a Espanha, outros para Portugal. Deixámos pois a Terceira em companhia de perto de cem navios, e cheguei a Lisboa a 8 de outubro de 1548, depois de uma ausência de dezasseis meses.


- Victor Eugene Hardung, no "Cancioneiro d'Evora publié d'aprés le manuscrit original et accompagnè d'une notice litteraire-historique", 1875, diz:

"A memória, ou folhas volantes foram ao princípio os únicos arquivos nos quais os trovadores, os menestreis e os minnesingers alemães conservavam suas poesias e melodias. Quando o número sempre crescente já não permitia reter a memória delas desta sorte, e que alguns espíritos esclarecidos encontravam bastante interesse em ler e estudar as produções destes cantores populares, começaram a recolher os textos dispersos, e organizaram coleções mais ou menos vastas.

Assim se formaram, em quanto à poesia provençal, as célebres coleções do Vaticano, cod. 3206 e 5232, os manuscritos 7226, 7614, 7693, 7698 da Biblioteca nacional de Paris, e o cod. 42 da Biblioteca laurenziana em Florença. os cancioneiros de Heidelberg, de Benedictbeuren, de Wemgarten e do cavalheiro Manessi, que transmitiram à posterioridade grande número de canções dos minnesingers, deveram sua origem à mesma necessidade.

Em Portugal, estas coleções de poesia, a que dão o nome de cancioneiros são mais numerosas do que em nenhuma outra nação, e possuem uma importância fundamental para a história literária deste país.

(...)


- Em "Coup d'oeil sur Lisbone et Madrid en 1814 ...", Ch. V. D'Hautford escreve:

"O espetáculo de Lisboa, elevando-se em forma de anfiteatro na direita do Tejo, oferece os mais belos tipos de pincel dos Vernet, e ao buril dos Woolett. A baía, que se abre abaixo de Lisboa, ancoradouro excelente para todas as sortes de embarcações, é formada pelas águas do Tejo, que neste sítio contra três léguas de largura. A multidão de navios ali ancorados, o aspecto variado dos edifícios, que se desenhavam a meus olhos, os diversos acidentes deste quadro, produzidos pela natureza e pelas artes, cobertos por uma incomensurável cortina do mais belo azul, mergulharam minha alma num desses extasis, cuja força criadora tem produzido as primorosas telas dos Vanden-Velde, Vroom, Borzoni e Salvator-Rosa admirados pela Europa em suas galerias.

Merece especial menção a maneira como em Portugal trabalham na pedra produzida neste país. nenhum outro possui melhores materiais para as construções. Esta pedra é calcaria, e o mármore nobile de Linneo. A perícia dos habitantes para a lavrarem é pouco vulgar, e as obras que saem de suas mãos, são de umas perfeição admirável.

No centro da praça do Comércio admira-se a estátua equestre em bronze, de José I, obra de Joaquim Machado de Castro, e que assegura a este escultor uma reputação imortal. Troféus e grupos emblemáticos, colocados aos lados do pedestal, executados pelo mesmo artista dão a este monumento um ar de grandeza que eu não observei nas estátuas equestres dos grandes duques Cosme e Fernando, que vemos em Florença nas praças do Palácio velho, e da igreja da Anunciada, pertencentes ambas ao cinzel de João Bologna.

Estátua de D. José I de Portugal
Bartolomeu da Costa é o nome daquele que fundiu a estátua de um só jacto, operação que merece elogios, atendendo à dimensão da figura do Rei e do cavalo. As proporções desta estátua equestre são as mesmas que as da estátua de Luís XIV na praça de Vendome; mas a figura do Rei José I é de onde polegadas mais, o que provém do capacete.

Não tendo podido ver o mosteiro de Belém, nada posso fazer para satisfação de meus leitores senão reportar-me ao elogio, que dele fazem Fregier e Aviler: o primeiro na sua obra de Stereotomia (tom. 3º, livro 4º, parte 2ª, pag. 28); e o segundo no seu Diccionário de Architectura, na palavra Haedi.

Hautefort teve o talento raro de descrever melhor Lisboa depois de uma residência somente de duas semanas, do que o fizeram outros viajantes de pois de a terem habitado por muito tempo."


- O Autor de "Revelations of Spain", T. M. Hughes, inglês, diz:

"Se o Infante D. Henrique não tivesse existido, é muito provável que também nunca tivesse havido um Cristóvão Colombo"

(...)

"É uma nação que nunca teve mais de três milhões de habitantes e reinou por algum tempo sobre metade do mundo."


- O londrino Illustred Travels, no nº25:

"A entrada do Tejo, as vistas nobres e majestosas em alguns respeitos, e sempre belas, que se gozam ao navegar pelo Tejo até Lisboa, e a primeira vista da Côrte de Portugal são aqueles objectos, que por muito tempo, uma das mais pitorescas e interessantes cidades europeias."

(a continuar)

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