15/02/14

LIBERALISMO EM PORTUGAL - O MODELO DA CRISE

Qual o motivo pelo qual se tem falado tanto, no blogue ASCENDENS, a respeito da luta antiliberal em Portugal. Uns pensam, e sei que pensam, que este blogue anda a confundir causas, outros pensam que não entendi que a crise da Igreja é outra muito mais adiantada que a do antiliberalismo, outros pensam que este é um blogue dedicado ao absolutismo português e a curiosidades históricas e patrióticas! Não, senhores!

Caros leitores, escutai: Portugal é o último Reino católico a ter em operação a sua Monarquia tradicional, portanto, a ser governado com total legitimidade dentro de estruturas legítimas, dentro dos fundamentos da única Igreja fundada por Deus. Já o Sacro Império não era, e Portugal ainda tinha D. Miguel I no Trono governando. Este Rei, tal como seu pai D. João VI e seus antepassados, era Rei da "Monarquia Tradicional" à qual os liberais quiseram difamar e empregar-lhe o neologismo de absolutismo. O absolutismo, como está mais que provado, não é nenhum sistema, já a "monarquia liberal" implicou a mudança de sistema por imposição de princípios contrários às virtudes, costumes, e doutrina sempre fundamentais entre os portugueses necessariamente católicos. A propriedade é de Deus, é dada por Ele a governar segundo a sua Lei e para Si.

A última luta do liberalismo, da maçonaria, e de todo o mais tipo de porcarias, contra o "único regime próprio" dos filhos de Deus, totalmente católico, não se deu contra o Sacro Império, mas sim contra Portugal. Presumo ter havido um imprevisto na agenda programática de "alguém", que tinha simbolicamente deixado o Sacro Império para último... mas, Portugal, D. Miguel I, terá atrapalhado. De outra forma não se explica que D. Pedro I do Brasil tenha operado tão satanicamente contra Portugal, contra a Santa Igreja, sem verdadeira escravatura da sua alma, manipulada a todo o vapor.

Em Portugal o Liberalismo vinha armado de fora com toda a experiência acumulada, e a resistência católica que se lhe fez cá, a última (o último Reino visivelmente católico), ganhou uma dimensão especial, embora se tivesse visto sozinha relativamente aos outros Reinos já ocupados. Ainda nos valeu o Papa, o quanto pôde.

Como é possível que os católicos que hoje lutam por conservar a pureza da Fé, que lutam pela defesa da Doutrina imutável (fundamento e lei dos estados católicos), que lutam pela preservação do Rito Romano (rito dos ritos da Santa Igreja), que lutam pela não corrupção preservação do catolicismo, que dão exemplos ilustrados com a história da civilização católica não conheçam o Portugal!? Conhecem eles este caso derradeiro da luta das forças do mal contra o último Reino visivelmente católico!? O que se conhece de Portugal é aquilo que os inimigos da Cristandade, hoje vencedores, nos contaram ou deixaram passar. Como é possível que os tradicionais católicos hoje no Brasil, em maior parte, ainda sejam vítimas da desfiguração que a maçonaria e o liberalismo fizeram do seu passado e das suas raízes (poderá vicejar a planta com raízes curtas, em terreno de fantasias?... será inútil não ter orgulho nos bons feitos dos antepassados fazendo muito curto o mandamento de "honrar pai e mãe ..."!?)

Eis os dois motivos fundamentais pelos quais falo da luta de Portugal contra o Liberalismo: é um paradigma, é uma peça que falta por ter sido tão providencialmente ocultada, ou melhor, que Deus permitiu que o inimigo a ocultasse e que todos a fossem esquecendo!

Agora quero dar um exemplo de como em 1821 o liberalismo em confrontação com o que restava do "Reinado Social de Nosso Senhor" já tinha todas as bases que hoje os tradicionais católicos imputam aos "modernistas":

"Paulo - Parabéns, amigo Emílio: temos a liberdade de imprensa! Parabéns à nossa Pátria, que já vai subindo ao grau de excelência, e dignidade, em que se acham as Nações mais ilustradas. Já o raciocínio, e a língua condenados, ainda antes de ser criminosos, a perpétua homenagem no estreito espaço do aflitivo silêncio, podem estender-se livremente por toda a superfície do Globo, e romper as tenebrosas barreiras da estupidez, que circunda os singelos, e miserandos Povos.

Emílio - Digna, e gostosamente devemos congratular-nos. Quando se abrem prudentemente os Diques à liberdade de pensar, escrever, e falar, que abundosa torrente de benefícios se derrama sobre os corações humanos para os fertilizar, desfazendo em uns o gelado terror, que os cobria; refrigerando outros quase mirrados pelos raios do Despotismo abrasador! Quanto é cruel, e bárbaro exigir obediência às Leis, respeito às virtudes, negando-se o conhecimento da utilidade, e da suave precisão de observá-las; do uso dos Direitos naturais, da necessidade, e da pureza da Religião, e da autoridade suprema das Leis da Conservação, e do Bem público!

(...)

Paulo - (...) Os desejos, interesses, e o empenho de cada Cidadão devem gravitar com centripta tendência para a Filantropia, de que essencialmente procedem, e que é o foco natural do bem comum." (...) o Governo nem tolerava, nem perseguia expressamente a Maçonaria; e quando chegou a persegui-la severo, foi numa época infanda, em que esse facto confundido com outras produções da intriga, e da perfídia dos Conselheiros, que abusam da Régia Bondade, não serve para argumentar da inocência, ou da malícia da sociedade Maçónica.
(...)

Emílio - Quanto à origem da S. M :. [sociedade maçónica] são diversas as opiniões, que omito referir. O certo é que as Sociedades secretas foram precisas, e tiveram princípio logo quando o Despotismo, o vício, as paixões, e a força se concordaram para fazer guerra às virtudes; porque estão os amantes, e protectores destas, sendo perseguidos, se viram obrigados a formar uma reunião oculta, onde, exercitando-as, se consolassem, e socorressem. (...) É inquestionável, que somente à ignorância (porque dela somente procede) são preciosos o Despotismo, a Prepotência, a Tirania: ser sábio, e querer Déspota; ser virtuoso, e ser cruel são impossíveis morais. [isto é referência à monarquia tradicional a quem eles resolveram dar nome de "absolutismo" com a intenção de atrair má conotação geral].

Caros leitores, isto é uma pequeníssima mostra do que vos disse. Aquilo que aconteceu mais recentemente com a Igreja já tinha sido conseguido com os Reinos católicos. O modernismo, condenado por S. Pio X, não é mais que um liberalismo aplicado ao SER, portanto, totalitário. Portugal foi o último Reino a resistir por INTEIRO ao Liberalismo: tanto por parte dos Bispos (Clero), Rei (Nobreza), e o Povo. Uma luta que vinha de fora e já tinha agentes colocados dentro (em minoria). O que se sabe hoje da resistência do Reino de Portugal ao Liberalismo!? ...

Aqueles que tentam dissociar o liberalismo dos seus efeitos e "cultura", curiosamente são os mesmos que apontam o dedo ao "modernismo" apenas pelo seu aspecto mais exterior! Esta atitude, estranhamente, é por si modernista! O liberalismo e o modernismo, não podem ser separados dos seus efeitos, como se fossem coisas independentes. Uma sociedade forjada pelo liberalismo é estruturalmente liberal, e, por isso, o tradicional católico que aí nasça começará dessa base e ficará condicionado por essa circunstância até que a identifique e a repudie. Com o repúdio ficará numa ausência civilizacional e tenderá a procurar nas civilizações europeias modelos. Contudo, como não se orgulha nem conhece as suas gloriosas raízes católicas, ignorância infundida pela "civilização liberal", procurará em povos mais distantes, com os quais nada tem que ver, alguma referência que, como tal, será sempre artificial e interpretada artificialmente. O caminho mais próprio para a pessoa que se encontra nesta situação será o de recuperar as suas raízes civilizacionais mais próximas à medida que avança na Fé.

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