12/12/13

DIA DE NOSSA SENHORA DE GADALUPE

Imagem milagrosa de N. Senhora de Guadalupe (México)
Honra-se neste dia especialmente a Nossa Senhora, sob o título de "Virgem de Guadalupe".

Como quase sempre os meus artigos são complementos ao que por aí anda, e assim quero realçar alguns aspectos esquecidos por abafados que andam.

Por mais emoção que isso cause nos "espanholátricos", seria desejável que deles, aqueles que dizem que João Paulo II não é Papa, ou que nada ou pouco vale a documentação dele apresentada como Magistério Pontifício, não digam que Nossa Senhora de Gauadalupe é "Imperatriz da América" (titulo dado por João Paulo II no ano 2000)! Menos recente é o título de "Padroeira da América latina" que deve significar entre várias coisas: a parte das Américas que falam português e castelhano. Este título coloca em reflexão o valor e alcance dos dos santuários nacionais e padroeiras nos vários países americanos em questão. É certo que Nossa Senhora de Lujan (padroeira da Argentina) é, nada mais nada menos, que Nossa Senhora Aparecida (padroeira do Brasil), levada por um comerciante português. Contudo já não podemos dizer que Nossa Senhora Aparecida seja uma importação (ou quase) de Guadalupe. Há nisto diferenças significativas que, por vontade de Deus, foram marcadas e dadas ao mundo, e que não competem ao homem adulterar-lhes o significado.

Mas como fica então o caso do Brasil relativamente ao México!? Houve algum sinal de "importação" da padroeira do México relativamente à Padroeira do Brasil?

Sem dúvida que o primeiro fenómeno mariano nas Américas, foi o de Nossa Senhora de Guadalupe. Se a devoção de Nossa Senhora de Gadalupe tivesse sido influente na cristianização do Brasil, porque mandaria Deus, depois, tudo o que foi e é Nossa Senhora da Aparecida até fazer desta a sua padroeira!? A reposta é óbvia: o fenómeno de cristianização do Brasil pouco ou nada tem a ver com o que aconteceu no México, e a única relação entre os dois fenómenos de cristianização talvez tenha sido encontrado e sublinhado apenas no séc. XX, quando o Papa Pio XII, em 1945, atribuiu por primeira vez o título de "Padroeira das Américas" a Nossa Senhora de Guadalupe. Para lá de ser mariano, evidentemente, não há qualquer encadeamento entre a Padroeira do México com a Padroeira do Brasil.

Quando o Papa Pio XII deu tal título, estávamos no auge da força franquista e no início do retorcer doutrinal em Espanha, levado a cabo pelos próprios responsáveis eclesiásticos, o que se veio a notar mais tarde no decorrer do próprio Concílio Vaticano II. Neste tempo, era natural haver na Europa regimes fortes que tentavam resistir e elevar-se aos ataques declarados dos inimigos das nações, o patriotismo foi fomentado como uma das medidas óbvias entre as várias nações. Nem tudo o que se produziu neste tempo foi necessariamente santo, porque o inimigo não era apenas objectivo, frontal, externo, evidente, e nestes casos quase nunca a história regista a acção daquele inimigo mais interno de todos que corrompe interiormente os homens. Onde o diabo vê nascer uma resistência trata logo, com antecipação, de recrutar para ela elementos que sabe como trazer dominados. Quero eu dizer com isto que o fenómeno a que eu chamo "espanholatria" é um dos frutos da deturpação de válidas resistências na Espanha, e que a própria hierarquia espanhola também tratou de transformar a sua fé mais em "amor pátrio" do que em "amor à verdade". A "hispanidad", que em princípios se apresenta louvável e desejável, na prática, como podemos hoje confirmar, transporta erros lamentáveis que resistem a qualquer tentativa de emenda ou de diálogo franco com a verdade. A influência de toda esta força, segundo parece, terá elevado desta forma a "raça espanhola" a um lugar tão ambicioso que não estranha haver dela as influências num período em que Pio XII já começava a estar rodeado de inimigos não sabendo eles quem eram (história conhecida por muitos...). Evidentemente que há fundamentos para o título atribuído pelo Papa, fundamentos que são mais que motivações hegemónicas daqueles que sobre ele exerceram diplomacias.

Real Mosteiro de Nossa Senhora de Guadalupe
(Espanha)
Considero então que o título de "Padroeira da América Latina" veio por diplomacia espanhola a título de hegemonia, ao mesmo tempo que se tentava em vão elevar Isabel de Castela às dignidades mais gloriosas, e considero que este título é um pouco forçado, embora permitido por Deus, é um título recente. Mas o mais interessante é que João Paulo II não contradisse este título e, antes pelo contrário, o eleva muito mais a "Imperatriz da América"... Não adiantaria dizer que isto se deveu a estratégia de propagação da Opus Dei que se monta igualmente no "cavalo" da "hispanidad" quanto baste. Adianta dar o fundamento sobre o qual se assentaram os títulos: foi esta a primeira aparição de Nossa Senhora nas Américas. Contudo, como já devem saber os leitores, segundo as determinações universais, temos na verdade mais de uma América (sim Américas), ou seja, temos na verdade não um continente, mas pelo menos dois continentes, e Nossa Senhora de Guadalupe apareceu no do norte. Por outro lado a descoberta da América, como hoje se pode já comprovar, é uma fraude (visto que as Antilhas e outras partes estavam já cartografadas antes da "descoberta da América"), à que se lhe soma a questão da descoberta não ter sido feita segundo algum critério linguístico (portanto, cai por terra o argumento da "América Latina" relativamente à "descoberta da "América".) ... Parece-me óbvio estarmos perante um caso tolerável, mas longe de justo e definitivo.

Dizem-me os mexicanos que o nome original não seria "Guadalupe", mas algo parecido. E esta anotação que me fazem tem até algum paralelo com algo típico: seria uma palavra indígena, foneticamente semelhante a "Guadalupe", mas que os espanhóis (que acreditam sempre que se coisa boa então é deles) interpretaram como lhes era mais familiar: "Guadalupe".

Como este é um artigo mais de anotações, quero aproveitar para mostrar-vos um texto de Isabel Dumond Braga:

"O santuário de Guadalupe, situado na Estremadura do Reino de Castela, atraiu desde a Idade Média muitos peregrinos portugueses, além de ter conseguido captar a simpatia e a protecção régias, que se traduziam na concessão de privilégios e de dádivas, para além de visitas pessoais de alguns monarcas lusitanos. Tal aproximação aos mosteiros remonta a D. Fernando.
As populações da raia, e particularmente do Alentejo, devido à proximidade geográfica do santuário, deslocava-se aí com alguma frequência, evitando, em muitos casos, uma deslocação maior como por exemplo a Compostela. Tal facto levou, na época medieval, a uma certa rivalidade entre os dois cultos.
No séc. XVI, a situação não se alterou. Os registos de peregrinos, depositados no mosteiro, permitem-nos afirmar que a zona do Tejo em muito contribuiu para a difusão do culto de Santa Maria de Guadalupe em Portugal. Com um itinerário documentado, seguindo por Évora, Estremoz, Elvas, Badajoz, Talavera (antes Talaverula), Mérida e Guadalupe, os peregrinos afluíam sobretudo para cumprirem dados votos.
Tal como aconteceu para outras épocas e para outros santuários, o principal motivo que levava as populações alentejanas a deslocarem-se em peregrinação a Guadalupe foi a falta de saúde. (...) problemas diversos tais como reumatismo, as febres de origem diversa, a peste e outros males (...)."


Em continuação, esta autora vai mostrando como a devoção a Nossa Senhora de Guadalupe no seu santuário original está ligado profundamente aos motivos de recuperação da saúde física, e mais tarde aos perigos, nomeadamente relacionados com os resgates e viagens. Registam-se ao longos dos séculos muito milagres concedidos por Nossa Senhora de Gadapule (no santuário original). Não admira que Cristovão Colon, que morou no Alentejo tivesse ele mesmo devoção a Nossa Senhora de Guadalupe.

Torno à queixa mexicana que diz que não teria sido "Guadalupe" o nome que Nossa Senhora deu a conhecer a João Diogo. Mas, porque a tradição o reforça, vamos tomar o nome como certo, e vamos pegar nas outras duas padroeiras nacionais das quais já falei. Apenas uma delas é "superior" às outras pela originalidade, ou seja, Guadalupe original não é no México mas sim na Espanha, e Nossa Senhora de Lujan é a Aparecida do Brasil, pelo que se conclui que a Aparecida é a única original do sítio entre todas estas.

Enfim... no meio de tanta questão e interesse, louvemos Nossa Senhora.

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