"IMPORTÂNCIA DA PIEDADE - A piedade é uma virtude necessária para bem se cumprirem os deveres de religião. Sem ela, o homem pode obedecer a Deus como simples servo; com ela obedece como filho. Sem a piedade, a oração pode passar como um fardo; com a piedade a oração pode tornar-se uma fonte de consolações.
Sem a piedade, os exercícios de devoção não passam de mero ritualismo; com a piedade, tornam-se como diz Tanquerey, uma doce conversação com o Pai celeste.
Isto não quer dizer que as pessoas piedosas não experimentem aqueles dolorosos estados de alma, a que os místicos chamam a aridez e a secura.
Mas a eficiência da piedade é tão grande, que mesmo os estados de aridez e de secura são aceites pelas pessoas verdadeiramente piedosas com conformidade interior, e são suportados com paciência, por vezes até com alegria.
Filha ou irmã da caridade, a piedade é a mãe da bondade e da doçura, qualidades tão necessárias àqueles que se dedicam aos trabalhos de apostolado.
Se me propusesse fazer mais desenvolvimento o elogio da piedade, comentaria neste lugar aquela apssagem de São Paulo na 1.ª Carta a Timóteo, capítulo IV, versículo 8: Pietas ad omnia utilis est, promissionem vitae habens, quae nunc est, et futurae.
Para gozar um pouco de verdadeira felicidade que pode haver sobre a terra, é preciso ser verdadeiramente piedoso. A paz da alma, a alegria interior, a tranquilidade da boa consciência, o sentimento de união com Deus, são frutos e recompensas desta virtude.
Aténo paganismo a virtude da piedade foi conhecida, louvada e exemplificada, Virgílio, o delicado cisne de Mântua, quando se refere na Eneida ao herói troiano que se salvou do cerco e do incêndio da sua cidade fazendo-se ao mar antes que os gregos dela se apoderassem, chama-lhe pius Aeneas, o piedoso Eneias. Piedoso, porquê? Pelo amor, pela dedicação, pela coragem com que afrontou os perigos que o ameaçavam, não se esquecendo, na precipitação da fuga, de levar consigo os deuses veteres penates, o velho pai às costas, e o pequeno filho pela mão! Além de ter preparado com previdência a segurança o embarque dos seus companheiros. Piedade quer dizer amor a Deus, amor da família, amor dos seus semelhantes, Piedade, virtude filha da religião, manifestação superior da caridade." (do discurso proferido pelo DR. José de Almeida Correia no II Congresso Nacional Mariano em Évora - 1945)
Achei este texto oportuno, contudo ele seria mais justo lido no sentido contrário: deveria culminar na piedade elevada pelo sobrenatural. Pode parecer que o autor está a partir da forma mais elevada para terminar na "piedade meramente humana" se assim se lhe pode chamar. Ainda ressalvo o sentido de "amor" no texto, repetindo o que acabei de dizer para o sentido de "piedade". De resto, o texto é um bom resumo.
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