27/02/12

RETRATO DE CALVINO, DOS SEUS DISCÍPULOS E COOPERADORES (V)

"6.º Que as declarações de Calvino e dos seus partidários tiveram por efeito imediato precipitar Genebra num abismo tão profundo de licença e confusão, que os ódios, vinganças, sedicções e todo o género de revoltas chegaram a naturalizar-se no país.

Tais são, em resumo, as consequências que deduz este autor protestante na obra que publicou por ocasião do aniversário da morte de Calvino.

A estes traços biográficos, que nos legaram muitos protestantes contemporaneos e adictos de Calvino, acrescentaremos um facto notabilíssimo referente aos seus milagres e referido pelos seus próprios partidários.(1) Provocado e impelido este inovador pelos católicos a que provasse a sua missão com milagres como faziam os Apóstolos resolveu romper a dificuldade resuscitando um morto. Proporcionou-lhe ocasião propícia de fazer tal prodígio um certo Bruleus que tinha abandonado o seu país natal para se estabelecer em Genebra e que, estando na miséria desejava conciliar-se com Calvino e assim obter algumas das esmolas que este tinha por encargo distribuir. Calvino prometeu então socorre-lo com a condição, porém, de que ele e sua mulher se prestassem a servir-lhe de instrumento em um assunto que exigia grande prudência e confiança.

Obrigado [enganado] Bruleus pela miséria, aceitou estas condições, e para comprazer aos reformador fingiu-se doente. Os ministros recomendaram-no às orações e caridade dos fiéis; a enfermidade, contudo, foi-se agravando, e Bruleus desempenhou maravilhosamente o seu papel fingindo-se morto. Avisado sigilosamente Calvino, saiu, sob pretexto de passear, acompanhado por grande número de amigos, e dirigiu-se, aparentando casualidade, para o lugar em que jazia o pretenso defunto.

Os gritos e lamentos de uma mulher que  com a maior desesperação arrancava os cabelos, deteve-o: interroga, dirige-se à casa, e cai de joelhos com todo o seu séquito perante o leito de morte. Roga a Deus em alta voz que se digne fazer ostentação do seu poder devolvendo a vida àquele homem, e que manifeste a sua glória aos olhos de todo o povo aprovando com este prodígio a missão de reformar a sua Igreja, que tinha confiado a Calvino.

Concluída a oração, levanta-se o falso taumaturgo com modos hieráticos, aproxima-se do morto e tomando uma das suas mãos, manda-lhe em nome de Deus que se levante. Segunda e terceira vez repete esta intimação, elevando cada vez mais a sua voz; o morto, porém, não respondia. Aproxima-se sua mulher, sacode-o fortemente, mas em vão: era frio cadáver!

Então a viuvá começou a derramar lágrimas verdadeiras e prorompeu em não fingidas lamentações, lançando contra Calvino uma torrente de imprecações e referindo publicamente a miserável força que intentara representar."

(aqui a continuação)

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