16/09/11

A INQUISIÇÃO EM PORTUGAL (I)


Mais uma vez me sirvo do opúsculo "Algumas Questões da História da Igreja", mandado publicar em 1946 para complemento da formação dos seminaristas do Seminário maior da Guarda.

Antes de ir ao assunto, o da inquisição em Portugal, dou a ler o prefácio deste livrinho:

"Não dando, ordinariamente, os compêndio de História Eclesiástica - por isso mesmo que são compêndio - grande desenvolvimento a certas questões que, pela sua excepcional importância, bem o merecem, vê-se o professor forçado a suprir, por meio das suas prelecções, essas deficiências e a preencher essas lacunas, para que os alunos, obtendo um conhecimento geral de toda a matéria, o adquiram mais completo acerca dos referidos assuntos, de maior e mais reconhecido interesse. Essas prelecções, porém, perder-se-ão em grande parte, se não forem escritas. Este o motivo por que o humilde professor que coligiu, de várias fontes, alguns apontamentos adequados ao citado fim, os quais já por mais duma vez mandou dactilografar, resolve agora fazê-los imprimir, para uso e comodidade dos seus discípulos, do Seminário da Guarda, aos quais, gratamente, tem dado uma grande parte da sua vida e do seu melhor esforço.
Não se trata, pois, duma publicação propriamente dita, mas dum opúsculo de carácter particular.

Que Deus abençoe esta pobre iniciativa; e que aqueles a quem são destinadas estas reduzidas páginas, compreendam a intenção do obscuro mestre e relevem a sua insuficiência. (Guarda, 2 de Fevereiro - festa da Purificação de Nossa Senhora - de 1946)"

Aos poucos, em oportunidades diferentes, colocarei o colocarei todo o conteúdo do opúsculo, se Deus quiser.

Vamos à inquisição em Portugal:

"El-Rei D. Manuel pediu à Santa Sé o estabelecimento, em Portugal, do tribunal do Santo ofício, alegando que os cristãos novos relapsos, perseguidos pelas inquisição de Castela, se refugiavam em Portugal; e que não só estes, mas os que aqui viviam já, necessitavam de ser fiscalizados, para serem punidos os que o merecessem."

"Os judeus eram, na verdade, um elemento de perturbação entre os povos cristãos, Alimentavam ódios profundos contra todos os que não pertenciam à sua nacionalidade, e valiam-se das suas habilidades comerciais para saciarem os seus rancores.

Arredando, p. ex., as grandes propriedades, monopolizavam os géneros, para depois os venderem por alto preço."

"Era contínuas as afrontas dos judeus às crenças dos cristãos. Em Gouveia, p. ex., apareceu enforcada na forca da vila uma imagem de Nossa Senhora; e em 1528 foi ali também despedaçada uma outra imagem da SS.ma Virgem, com a qual o povo tinha grande devoção. Três cristãos novos foram enviados à corte, como réus deste nefasto sacrilégio.

D. João III pediu, por sua vez, que em Portugal fosse instituído o tribunal da inquisição, para pôr termo, dizia, aos conflitos entre as justiças seculares e eclesiásticas e desarmar as iras do povo contra os judeus. E não era apenas uma ameaça aos cristãos novos, mas uma barreira a possível invasão do protestantismo, que na Europa central estava causando as maiores ruínas.

(continua)


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