03/09/11

CURIOSIDADES DO ANO 66 a 1624

ANNO HISTÓRIO
Diário Portuguez 
Noticia Abreviada de pessoas grandes e cousas notáveis de Portugal. 
LISBOA 
M.DCCXLIV

Dia 1 de Maio:

I
"S. Torcato, um dos primeiros discípulos de S. Tiago, foi Bispo de Cinnania, cidade daqueles tempos situada entre Braga e Guimarães, sobre a corrente do Rio Ave onde o Santo Bispo padeceu martírio neste dia [1 de maio], ano 66.

II
No lugar de Tourega, Arcebispado de Évora, padeceu martírio neste dia, pelos anos de 303, Santa Comba e sua irmã Santa Annuminata (que vale o mesmo que sem nome, porque se lhe não sabe). Irmãs ambas de S. Jordão, Bispo da mesma Cidade de Évora.

III
O Beato Filipino nosso português natural de Lisboa da Ordem dos Menores, Leigo de Profissão, companheiro de S. António de Lisboa, e singular imitador de suas virtudes, passou neste dia a lograr o primeiro delas, ano de 1290, Jaz no Convento de Columário, na província de Toscana, onde é venerado seu corpo, e obra Deus por sua intercessão grandes e perenes maravilhas.

IV
O Cabo, chamado Verde pela cor [Cabo Verde], de que sempre estavam vestidos os seus campos e montes, foi descoberto a primeira vez por Diniz Fernandes, Escudeiro que fora de ElRey D. João o Primeiro, o qual trouxe a Portugal os primeiros negros no ano de 1445. Depois no de 1460 foram descobertas neste dia ilhas que se contêm no mesmo Cabo, quais são, S. Nicolau, S. Antão, Brava, Sal, Fogo, e Boa-Vista. O terreno é abundantíssimo de tudo o que serve ao sustento e delícia, mas o clima é pouco sadio, dura o Inverno nos três meses de Agosto, Setembro, Outubro, nos outros, o Verão. Há nestas  Ilhas muito nobres povoações, e a Cidade fundada na de S. Tiago é Episcopal e Cabeça das mais. Nesta mesma Ilha nasceu de uma negra, e de um mono um misto e monstro de ordinária estatura e natural poporção de membros: só tinha larga beta de cabelos sobre os ombros; sobre largas disputas se resolveu que não tinha alma racional, por ser bruto o seu mais nobre e principal generante.

V
No mesmo dia em quinta-feir, ano de 1539, morreu em Toledo a Augustíssima Senhora D. Isabel Infante de Portugal, Rainha de Castela, Imperatriz de Alemanha. Foi dotada de rara formosura, e de igual honestidade, e modéstia. Mostrou grandes quilates de prudência e madurez nas ocasiões em que governou Espanha nas ausências do Imperador Carlos V seu marido. A sua casa era uma escola de virtudes donde sairam muitas insignes Matronas que honraram Castela e Portugal;quais foram D. Beatriz da Silveira, D. Guiomar de Mello, D Leonor de Mascarenhas, e com maior vantagem D. Leonor de Castro Duqueza de Candia, mulher do Duque D. Francisco (depois S. Francisco) de Borja, em quem o mesmo Santo admirou sempre singulares exemplos de perfeição Cristã, e haviam ajustado ambos que por morte de um o outro abraçaria a vida Religiosa. No primeiro parto que teve a Imperatriz, viu-se em grande tribulação, e a mulher que lhe assistia lhe disse que naquele aperto era conveniente romper em altas vozes, ao que a Imperatriz respondeu na língua Portuguesa e como Portuguesa daqueles tempos, nas quais se competiam a gravidade com a modéstia "Não me digais tal, minha Comadre, que morrerei, e não gritarei"; Procedeu-lhe a morte de um mau parto. Teve três filhos, e duas filhas, D. Fernando, e D. Carlos que morreram meninos: D. Filipe, que sucedeu nos Reinos de Espanha, D. Joana, Princesa de Portugal e mãe de ElRey D. Sebastião, D. Maria mulher do Imperador Maximiliano II, que foi filha, nora, mulher e mãe de cinco Imperadores e morreu no Convento das Descalças de Madrid com grande fama de santidade. A rara beleza da nossa Imperatriz, assim como fora na vida exemplo de admiração, assim (trocada na morte) foi incentivo ao desengano, por ela (em grande parte) vemos nos altares um S. Francisco de Borja, porque sendo Condutor do Imperial cadáver, ao tempo de o entregar, viu nele uma tal mudança que logo determinou fazer outra vida trancando pela humildade e estreiteza da Religião, as grandezas e vaidades do mundo.

VI
No ano de 1624 conquistaram os holandeses a Cidade da Bahia, Metropole do Império Português na nova Lusitânia  facção a que lhe abriu a porta muito mais o nosso descuido do que o seu valor, porque a duração da paz e a frequência do comércio, haviam posto em esquecimento os cuidados e meios de defesa, e quase amortecido o ardor natural desta belicosa Nação; mas agora, seria altamente de dois golpes tão sensíveis, quais eram, a perda da Cidade, e a da reputação, (...)

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