28/09/23

RESUMO OFICIAL - O REI D. MIGUEL

Folheto enviado pela Senhora Infanta de Portugal D. Filipa de Bragança por ocasião da chegada dos restos mortais de El-Rei D. Miguel e de Sua Esposa a Rainha Senhora D. Adelaide a Lisboa (5 de Abril de 1967):



"Nascido em 26 de Outubro de 1802, no Palácio Real de Queluz, filho do Príncipe D. João, futuro D. João VI, e da Princesa D. Carlota Joaquina, parte em 1807 para o Brasil, com a família Real, em consequência da primeira invasão francesa. Estabelece-se a Corte no Rio de Janeiro, onde é criado com seu irmão mais velho , D. Pedro; revela desde criança sentimentos de extrema bondade, nobreza e valentia, bem como um evidente gosto pelos exercícios de destreza. Em 1821 regressa a Lisboa com seus Pais e a Corte, após a revolução de 1820. D. Pedro, que fica no Rio de Janeiro como representante de D. João VI, acaba por proclamar o independência do Brasil.

Em Lisboa o Rei está completamente dominado pelos revolucionários, partidários das ideias saídas da Revolução Francesa e é obrigado a jurar a Constituição, mesmo antes dela estar redigida.

A grande maioria da população reage contra o caminho que as coisas levam e quer continuar a viver dentro das instituições tradicionais. Com D. Pedro declarado estrangeiro, pela sua revolta contra Portugal, o Infante, enérgico defensor daquelas instituições, é para os tradicionalistas a esperança de melhores dias. Assim surge a Vilafrancada, golpe militar pelo qual D. Miguel, delirantemente apoiado e seguido pela tropa e por quase toda a população, liquida o movimento constitucionalista (27 de Maio de 1824). Os seus inimigos aproveitaram bem a ocasião e, movidos pelos diplomatas estrangeiros, levam D. João VI para uma nau inglesa fundeada no Tejo e consegue que D. Miguel seja exilado. Morto o Soberano em Março de 1826, só daí a dois anos é permitida a volta do Infante a Portugal, depois de D. Pedro ter sido ilegitimamente declarado herdeiro da coroa e abdicado a favor de sua filha D. Maria da Glória, de sete anos de idade. O Povo, mal D. Miguel desembarca em Belém, aclama-o como Rei legítimo: pede-lhe que ocupe o trono, visto D. Pedro ser estrangeiro. "Rei chegou, rei chegou, e em Belém desembarcou" canta-se com entusiasmo em Lisboa (22 de Fevereiro de 1828). D. Miguel nega-se a aceder aos pedidos que afluem de todo o país e responde que só os Três Estado têm poder para decidir quem é Rei. Reunidas as Cortes Gerais, que não são convocadas há mais de um século, é por elas proclamado soberano legítimo de Portugal.

Sobe assim ao trono D. Miguel pela via da legalidade perfeita e de acordo com a vontade da maioria esmagadora da Nação. Os liberais porém não queriam, procuraram defender a causa das "ideias novas" e de Dona Maria da Glória. Depois é o próprio D. Pedro que, obrigado a abdicar no Brasil, vem para a Europa dirigir o movimento.

Consegue apoio da França e da Inglaterra e desembarca perto de Vila do Conde com 7.500 homens, estrangeiros e portugueses. D. Miguel tem um exército valoroso e a maioria da população a seu lado. Mas as hesitações dos chefes das tropas legitimistas abrem aos liberais o caminho da vitória; dominam estes o Algarve, depois Lisboa. A campanha corre cada vez pior para as forças de D. Miguel. E a Quadrupla Aliança, da França, Inglaterra e Espanha com D. Pedro, leva o Rei a capitular. É a chamada "Convenção de Évora-Monte. D. Miguel, no meio da dor dos seus soldados que o idolatram e do Povo que lhe quer profundamente, embarca para o exílio, em Sines, no dia 1 d Junho de 1834. Antes, distribui o pouco dinheiro que lhe resta pelos soldados mais necessitados e manda entregar as joias da Coroa, e até joias pessoais, a D. Pedro.

Chegado a Génova, logo declara não renunciar aos seus direitos ao Trono de Portugal; apenas capitulou diante da força estrangeira para evitar maior derramamento de sangue ao Povo português. E começa o longo calvário do seu exílio. Em 1851 casa na Alemanha com a Princesa D. Adelaide de Loewenstein, que depois de viúva professa e acaba por morrer em odor de santidade. Do matrimónio nascem sete Filhos: o Príncipe D. Miguel e seis infantas. No seu lar, cristianíssimo, cultivam-se aquelas virtudes que exemplarmente sempre o distinguiram. A sua bondade e nobreza, o amor pelos que sofrem e pelos pobres tornam-no sinceramente venerado. Em Portugal, apesar dos anos e da distância, a sua memória e o afecto que lhe dedicam os portugueses não esmorece, transformam-se num verdadeiro culto. A 14 de Novembro de 1866 - no dia em que faz sessenta e quatro anos que foi baptizado - morre serenamente, longe da Pátria, aquele que foi um dos Reis a quem o Povo mais fundamente quis."

Ainda, na carta que acompanha o folheto, diz:

"Rei profundamente católico e piedoso, o Senhor Dom Miguel, defendeu com o maior ardor e valentia a causa de Deus e da Santa Igreja em Portugal.
No momento histórico do regresso de meus Avós à Pátria que tanto amaram chegou a hora de homenagem e da reparação. (...) solenes exéquias que se realizarão em S. Vicente de Fora, promovidas pelo Governo e presididas por Sua Excelência Reverendíssima o Senhor Cardeal Patriarca no próximo dia 6 de Abril, pela 11 horas."

1 comentário:

Anónimo disse...

Fonte: Fillipa de Bragança, fundação Mário Soares

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