24/04/22

AS CONDENAÇÕES SUPERFICIAIS E IRRESPONSÁVEIS PRÓ-NACIONALISTAS (UCRÂNIA) II

 (continuação da I parte)

II -  DUAS UCRÂNIAS OU DUAS RÚSSIAS

Os ucranianos estavam seriamente divididos em duas grandes opiniões que radicam na forma de entender a Ucrânia. Esta divisão é de tal maneira exigente que muitas famílias ucranianas têm entre si vários membros inemigados! Trata-se de considerar a Ucrânia como uma parte importante da Rússia (já os seus antigos lhe chamavam Rússia Kievana), segundo os "Pró-Rússia"; conceber a Ucrânia como um país desintegrado da Rússia (separada da Rússia Moskóvia, como diriam os seus antepassados), segundo os "Nacionalistas". Entre os nacionalistas criou-se a ideia de que cair na sua oposição significaria ser comunista ou soviético; entre os pró-Rússia criou-se a ideia de que os opositores eram nazis. Vendo bem, não é simples sair do dilema; eis o problema!

Os pró-Rússia conseguiram sempre patrocínio do lado da Rússia; os nacionalistas apoiam-se em ideias da defesa patriótica, nomeadamente o nazismo (o qual combateu o comunismo)! Os nacionalistas acabam por considerar os seus opositores ucranianos como "traidores russos"; os ucranianos pró-Rússia consideram os nacionalistas como libertinos ocidentalizados traidores às raízes.

Politicamente, os nacionalistas têm poder político vindo de grupos nazis, tais como o Batalhão de Azov e o Pravy Sektor; os pró-Rússia servem-se de vários partidos ucranianos.

É necessário repetir aos ocidentais que a divisão entre estes ucranianos é severa, séria, firme, visceral por vezes!

A 20 de Março de 2022 Zelensky, Nacionalista, aproveitou a situação "de guerra" para eliminar os seus inimigos políticos pró-Rússia (tanto de direita como de esquerda). Não adiantou aos 11 partidos afectados recorrer às naturais formas de protesto.

Crianças recebem formação nacionalista com o Batalhão de Azov; campo de férias
 

Hodiernamente a Ucrânia encontra-se nas mãos dos Nacionalistas, os quais são viscerais oponentes dos seus irmãos ucranianos "pró-Rússia"! O problema é que estes Nacionalistas no poder consideram-se os únicos ucranianos, não aceitando aqueles que consideram a Ucrânia uma unidade identitária com a Rússia! Os pró-Rússia são discretamente perseguidos de tal forma que não admiraria que em cenário de guerra civil sofram maior flagelo por mãos dos nacionalistas, nomeadamente o Batalhão de Azov, anti-Rússia e anti-comunista. As forças para-miliatares na Ucrânia são todas nacionalistas e não têm os ucranianos pró-Rússia como ucranianos; isto multiplicado pelo facto de serem batalhões armados!

Formação de crianças ucranianas no Batalhão de Azov 







 



Batalhão de Azov


"Em 2016, o Alto Comissãrio das Nações Unidas para os Direitos Humanos acusou o Batalhão de Azov de violar o direito humanitário internacional. Em causa estavam acusações de ataques a edifícios civís, pilhagem, tortura e violação." (Beatriz Santos e Rita Tavares - 23 de Março de 2022 - Jornal Desacordo)


Criança ucraniana do Batalhão de Azov pede armamento para a Ucrânia (vídeo)


Em suma, ao defendermos os Nacionalistas no poder não estamos a defender a Ucrânia enquanto os nacionalistas não aceitarem como ucranianos os seus antagónicos pró-Rússia!


Colónia de férias do B. de Azov

Há talvez uma guerra civil na Ucrânia do poder nacionalista contra os ucranianos pró-Rússia! Nada mais previsível!

Quando Marcelo (Presidente da República em Portugal) disse "somos todos cranianos" não sabia que isso não é Ucrânia, mas sim "nacionalismo" ou seja "oposição aos ucranianos não nacionalistas"!

(a continuar)


4 comentários:

Diogo disse...

Caro Ascendens,

Tenho vindo a ler várias publicações suas, de que tenho gostado bastante.
Gostaria, por isso, de lhe perguntar qual a sua opinião exata sobre o Carlismo espanhol, nomeadamente qual a relação deste com o Miguelismo português e com o Integralismo Lusitano ?
Apenas pergunto porque já vi algumas publicações suas nas quais parece criticar os tradicionalistas espanhóis.

Um forte abraço e que Deus o abençoe

anónimo disse...

Caro Diogo, obrigado por comentar.

Em 2012/2013 fizemos uma pormenorizada investigação a respeito da sucessão do Trono de Espanha. A este respeito publicámos as apenas a primeira parte de um artigo ( https://ascendensblog.blogspot.com/2018/05/informacao-carlista-i.html )... por vários motivos nunca procurámos terminá-lo. Sim, demos com aquele que por sangue teria o direito ao Trono hoje, segundo as mesmas regras acreditadas pelos carlistas! Disto os actuais carlistas nada dizem, supostamente pelo motivo seguinte: trata-se de um jovem que não "milita" o "tradicionalismo".

Nunca seguimos as teses do "tradicionalismo espanhol" pelo motivo de este corromper o que seria a linha lusa! Ou seja, os arautos da "Hispanidad", na tentativa de exaltarem valores e legados, reproduziram também os erros que acidentalmente foram sendo absorvidos. António Sardinha, português não converso, na sua estada em Espanha acabou por converter-se mas, acabou por reproduzir os mesmos erros vindos de Espanha, uma vez que não tinha absorvido o legado luso que pertenceria! Em certo momento desta nossa certeza sobre Sardinha (logo nos primeiro contacto, faz anos) ficou logo essa impressão que o próprio contemporâneo Alfredo Pimenta lhe tinha já notado. Há que dizer que desconhecíamos Alfredo Pimenta quando demos pela "falta de visão" de Sardinha.

Não existiu vez alguma um "miguelismo" que não fosse APENAS "tentativa de demonstrar e defender que D. Miguel era/é o legítimo ao Trono". A qualidade de ser "tradicional católico" vem de ser "português" e não de ter reconhecido ou não este ou aquele como sucessor verdadeiro ao Trono! Daqui que também podemos dizer que o carlismo deveria ser tomado pela questão da sucessão e não pela questão da tradição (mesmo que possa haver alguma coincidência entre ambas). Sim, carlismo e miguelismo deveriam ser antes de mais ou até exclusivamente tomados como defesa da legitimidade.

Por fim, o Integralismo Lusitano é por vezes uma antiga leitura "espanhola" do passado português! O exemplo do mal chamado "absolutismo" é demasiado notório. Os espanhóis absorveram o conceito/palavra "absolutismo" por via da maçonaria e, para colmatar daqui o vazio, compuseram um novo conceito "monarquia tradicional", que nem é realmente monarquia nem é tradicional do Cristianismo! Ora, a nossa linha lusa deve ser bebida em continuidade até D. Miguel a quem os da linha aspanholada querem chamar "tradicionalista e não absolutista" e a linha lusa continuará a dizer que "absolutista" é "tradicional monarquia" contada pela linha maçónica/iluminista! Não adiantará que em Portugal se tenham feito grupos com o apoio do Carlismo para impor aqueles que ferem a DISCRETA tradição portuguesa.

Volte sempre!

Anónimo disse...

Caro Ascendens,
Muito obrigado pela sua resposta ! A minha opinião pessoal sobre o assunto é que cada povo/país deve preservar a sua tradição católica.
Por isso, eu se fosse espanhol seria "carlista", embora reconheça, como o Ascendens, que essa não é a tradição portuguesa e, por isso, não queria um "carlismo " ou uma "hispanidade" em Portugal ! Que cada um preserve é conserve o que é seu acho de salutar !
Um forte abraço e que Deus o abençoe !

anónimo disse...

Caro "anónimo"

A sua posição é simpática, mas pode ser mal lida por algum leitor menos avisado! Por isto, permita, é benéfico fazermos já um breve desenvolvimento do assunto.

Não existe verdadeira Tradição fora da Verdade! A Tradição a que nos referimos é superior à meramente humana! As coisas que se transmitem e não são em conformidade com a Verdade (o Bem, a Justiça etc.) não podem fazer parte da Tradição - pq a Tradição tem em si que Deus se revelou e fundou a sua Igreja etc.. Em suma, a Tradição é necessariamente católica, pelo que se vê que tem referências muito mais altas que a simples transmissão de coisas às gerações seguintes!

Aliás, a questão tradicionalista nasce de uma disputa teológica/moral/espiritual no catolicismo dos finais do séc. XVIII (ou inícios do XIX!?). Esta designação nasce com uma disputa, no catolicismo! Mais tarde, a ideia foi alargada a outras realidades meramente humanas que acabaram por despegar-se da essência, digamos (em caso estão fenómenos ligados à conservação folclórica e etnográfica).

O Carlismo não é tradicionalismo algum. Tanto o Carlismo como o Miguelismo e outros do género são fundamentalmente um POSICIONAMENTO na questão da SUCESSÃO ao Tono de Espanha e Portugal. Dizem os carlistas serem "tradicionalistas"... isto é confuso! Deveriam dizer que a questão carlista insere-se na Tradição! Não existe um tradicionalismo espanhol, português, francês... existe sim um Tradicionalismo católico que se aplica a natureza das coisas: daqui sim, resulta haver Tradicionalismo espanhol (leia-se "o Tradicionalismo aplicado à Espanha") etc..

Volte sempre

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