Bento XIV |
Faz anos, no facebook houve uma pequena mas significativa conversa entre o responsável do blog ASCENDENS e um senhor que entretanto estava a descobrir o lado de cá da Tradição da Igreja, digamos. Homem honesto intelectualmente, o que certamente lhe permitiu chegar ao caminho da Verdade. A conversa foi da canonização da Madre Teresa, à qual ele defendia como santa canonizada. Infelizmente, depois de cuidadosa e demoradamente concordadas as premissas do assunto o senhor não quis fazer o juízo.
Depois de algum tempo publicámos aqui um artigo para abrir uma série deles sobre o fenómeno em torno das canonizações recentes e sua natureza. Este primeiro artigo foi publicado mas, por afazeres não houve ainda continuidade. O artigo está feito com base num estudo realizado por um conhecido padre, do qual por justiça havemos de dar o nome depois.
Afinal, as canonizações são ou não válidas? Visto que há canonizados recentes que não satisfazem às exigências anteriores. Quanto a isto, pela experiência de uma década podemos dizer que há divisões entre aqueles que se dizem tradicionalistas. Ora, isto não é assunto pouco grave.
SEDEVACANTISTAS
Para estes o problema existe dependendo desde quando consideram vacante o Trono de S. Pedro. Por mais estranho que pareça, existe hoje uma categoria de sedevacantistas desprezados pelos das outras categorias que são aqueles que passaram a considerar a vacância desde o momento da eleição do Papa Francisco. Sobre estes não temos as informações aqui para o assunto. Quanto aos outros, os quais consideram a vacância desde Paulo VI ou João XXIII o problema das canonizações recentes não se coloca sequer "não eram papas, logo não houve canonizações".
SELECTIVOS
O nome teve de ser dado por nós, pois parece não haver quem lhe tenha dado algum. Os selectivos aceitam a autoridade papal de Francisco, Bento XVI, João Paulo II etc., contudo recusam-se dar culto aos que consideram não canonizáveis. Ou seja, fazem uma selecção dentro da lista de canonizações.
SEDEPRIVACIONISTAS
Os sedeprivacionistas consideram que o Poder Papal está em parte congelado, ou seja, que os Papas durante a crise ficam com o poder limitado, não sendo assistido para ensinar ou governar nos assuntos da Fé e da Moral. Sendo assim, também não nas canonizações.
OFICIALISTAS
Estes são o comum dos nossos tempos. Não colocam entraves às recentes canonizações, contudo aceitam também a "descanonização" de santos antigos, como foi o caso de S. Jorge.
PRUDENCIAIS
Também é nome dado por nós e é a nossa opinião. É um posicionamento prático e moral, principalmente. Reconhecendo ou não tendo certezas quanto ao Papa, recusam-se a achar inequívocas as novas canonizações quanto ao novo conceito de santidade e quanto à redução das regras e procedimentos rigorosos que a Igreja tinha vindo a apurar ao longo de séculos; ou pelo menos recusam-se prudencialmente enquanto a Igreja Militante não tenha forma de desambiguar verdadeiramente a situação. Trata-se de considerar que há dois tipos de requisitos prévios que faltam para que a canonização possa realmente acontecer, portanto.
Infelizmente, é necessário alertar os leitores que os católicos são OBRIGADOS a prestar culto público aos canonizados. Tal não é facultativo.
"Aquele que ousasse afirmar que o Sumo Pontífice teria errado nesta ou naquela canonização, e que este ou aquele santo por ele canonizado não deveria ser honrado com culto de dulia, qualificaríamos, se não como herege, entretanto como temerário, causador de escândalo a toda a Igreja, como injuriador dos santos, favorecedor dos hereges que negam a autoridade da Igreja na canonização dos santos, como tendo sabor de heresia, uma vez que ele abriria caminho para que os infiéis ridicularizassem os fiéis, como defensor de uma preposição errónea e como sujeito a penas gravíssimas."
DE SERVORUM DEI BEATIFICATIONE - Bento XIV
8 comentários:
Distinção muito elucidativa e muito oportuna. Obrigado, caro ASCENDENS.
Caro Reaccionário,
entretanto alguém comentou por fora: mas poderíamos rezar por uma canonização hoje já, esperando que a mesma se concretizasse quando a Igreja estivesse normalizada.
Resposta: Sim, desde que se tenha isso verdadeiramente presente quando se reza. Mais necessário milagre é a Igreja normalizar que uma canonização ser feita; estranho seria pensar o oposto: achar que por meio de canonizações verdadeiras a Igreja normalizaria!
Cumprimentos
Portanto, não se trata de reconhecer ou não a falibilidade das canonizacões, mas de reafirmar o real conceito de santidade?
Saudacoes!
M. Maria, obrigado por comentar.
não sei se entendi a pergunta! Pode reformular, sff? Obrigado
Gente che di cosa sia la Chiesa ha capito nulla o quasi.
"Sim, dirá talvez alguém, mas se o Papa estivesse de um lado, e a Igreja de outro, que aconteceria?
Suposição absurda.
Se numa carroça uma roda fosse para um lado, e a outra para o outro lado, que aconteceria?
Mas é impossível: as duas rodas têm o mesmo eixo.
E se no homem a cabeça quisesse ir para um lado, e os pés para o outro, que aconteceria?
É impossível: todos têm a mesma alma. Digamos a mesma coisa do Papa e da Igreja. Eles têm a mesma alma motora; são dirigidos pelo mesmo Espírito Santo.
E não somente tal suposição é absurda, e denota em seu prolator uma ignorância profunda; mas o contrário é oposto a fé.
É de fé que a cabeça da Igreja, como tal, nunca pode ser separada, nem da Igreja Docente, nem da Igreja Discente, isto é, nem do episcopado, nem dos fiéis.
Supor que tal separação seja possível seria negar a intervenção do Espírito Santo na Igreja, em virtude da qual o corpo místico acha-se estreitamente ligado em todas as suas partes: a cabeça com o corpo, o corpo com a cabeça e os membros entre si.
Seria desligar Jesus Cristo de seu Corpo Místico; seria destruir a simetria perfeita e organização que o Apóstolo chama o Corpo de Cristo: "Ita multi, nunm corpus sumus in Christo" (Rm 11,5)."
O Cristo, o Papa e a Igreja - Pe. Júlio Maria de Lombaerde
Caro Marcos Silva, obrigado por comentar.
Faz anos que escutamos sedevacantistas e nunca apresentaram UM argumento que não fosse um "defeito" argumentativo!
O blog ASCENDENS tem um artigo (resumo doutrinal em várias partes) a respeito do Papa:
http://ascendensblog.blogspot.com/2012/03/doutrina-catolica-sobre-o-papa-i.html
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Juramento da Coroação Papal:
"Eu prometo não mudar coisa alguma da tradição recebida nem daquilo que encontrei entre mim, guardado pelos meus predecessores que agradavam a Deus, usurpar, alterar, ou permitir qualquer inovação nisto."
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