28/03/17

HISTÓRIA DOS MILAGRES DO ROSÁRIO (II)

(continuação da I parte)
 
Com lição dos livros Santos, e milagres se converteram muitos pecadores, que depois foram grandes santos.
 
Todos estes proveitos, e outros muitos nascem dos milagres, que Deus obra pelos merecimentos e virtudes de seus santos, e juntamente da lição deles, porque como a história não seja outra coisa senão uma viva pintura, em que vemos tão clara e distintamente as coisas passadas como as presentes, porque quando as lemos como passarão, fazemo-las presentes à nossa memória, e cozendo-as com a consideração de nosso entendimento as digerimos, e com elas nos sustentamos. Desta maneira, contra o glorioso Padre St. Agostinho, que dois fidalgos principais, e dos mais nobres daquela terra, lendo a vida, e milagres de S. Antão, que santo Atanásio escreveu, renunciado todos os bens, e se foram a fazer vida religiosa, e santa. E este mesmo livro acabou derribar de todo ao mesmo S. Agostinho, e lhe fez deixar o mundo. Pois quem não sabe já que aquela grande conversão do nosso padre Inácio de Sta. Mónica, foi ocasião de tão grande conversão de gente, como todos sabem, que se faz no mundo, pelos que militam debaixo de sua bandeira? E quem não tem lido a maravilhosa conversão da Madre Teresa de Jesus (como ela mesmo escreveu) tão nova, e admirável na terra, levantada para levantar a perfeição tanta gente, e foi começando por livros de santos? e lendo seus milagres? que com brasas acesas, e metidas no peito abrasam aos que com vagarosa consideração nele os encobrem, como diz S. Gregório, que nos ajudam muito para renovar a alma os exemplos dos santos Padres, e contemplando suas obras, nos ascendemos no desejo da virtude, o mesmo santo, que bem o tinha experimentado, diz que muitas vezes mais nos aproveita ler os exemplos, e milagres dos santos que palavras, e pregações. Ad amorem Dei, et proximi, plerumque corda audientium plus excitant exempla quam verba. E esta mesma razão dá o mesmo santo Doutor de tomar trabalho de escrever a história dos milagres de seu tempo no prólogo de seu Diálogos, quando diz: Et sicut non nulli quos ad amorem patriae plus exempla, quam praedicamente succedunt. E esta mesma razão moveu a outros santos, a escreverem muito de propósito as histórias dos exemplos, e milagres de outros como foi S. Sofrónio o seu prado espiritual; Severo Sulpinos, Beda, S. João Clímaco, João Casiano, Pedro Damiano, Cesareu Heitorbachense dos milagres de seu tempo, e outros muitos, que tomaram o mesmo trabalho, movidos de zelo, de aproveitar as almas. E do glorioso padre S. Domingos se lê, que tinha também um livro, no qual tinha muitos exemplos, para com ele mover aos homens a seguir o caminho da virtude, e deixar o dos pecados. Este mesmo intento temos neste trabalho de escrever os milagres de nossa Senhora [e nós que os vemos já escritos divulgamos como quem os quisesse escrever], além da particular obrigação, que tínhamos de o fazer, havendo já composto o livro, do Rosário. E como quase todos os autores, que dele tratam, fazem história de seus milagres, nos parecia também que a devíamos fazer, principalmente havendo muitos que eles não escreveram, e outros que depois se fizeram, como se verá no discurso de sua história. E porque uma das coisas que nelas se deseja, é saber o tempo em que eles aconteceram, aqui daremos brevemente conta ao leitor.
 
(continuação, III parte)

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES