12/02/17

CONTRIBUTOS PARA O ENTENDIMENTO... (III)

(continuação da II parte)
 
 

Moço das Chaves Gomes Vaz
 
O ofício de moço das chaves era fazer o ofício de moço da Guardaroupa inteiramente em sua ausência, e em presença o ajudava.
 
Tinha a seu cargo, quando o Duque acordava, e chamava, entrar na Câmara com o moço da Guardaroupa, abrir as janelas, e concertar a cama, se estava alguma coisa descomposta, e chamava ao Porteiro da Câmara, e lhe dizia, que chamasse os Roupeiros, e barredeiro [varredeiro?] para fazerem fogo, e barrer [varrer?] a casa.
 
Ao tempo do vestir levava sempre a camisa da Guardaroupa, dobrada numa toalha junto da cama; o Camareiro tomava a camisa com a toalha, e ele se saia com a salva na mão com o moço da Guardaroupa.
 
Ao tempo, que o Camareiro, e moço da Guardaroupa entravam com as calças, entrava também o moço das chaves presente, e ajudava às vezes ao moço da Guardaroupa a subir as calças, e ataca-las.
 
Como o Duque abotoava o jubão, saía o moço das chaves à Guardaroupa, limpava as calças, e o segundo as ajudava a limpar; ao primeiro destes dois dava o serviço de água às mão, e ao segundo o prato do Penteador, e aos outros, que limpassem o vestido. Esta ordem se guardou sempre.
 
Tinha a seu cargo a arca da roupa branca do serviço ordinário, e os vestidos, e calçado [do qual faziam parte também as "calças"]. Estas coisas não eram carregadas ao Guardaroupa, porque dava o Duque muitas vezes varejo, e as repartia.
 
Tinha mais a seu cargo a prata do serviço; a saber, um Açafate, ou prato do Penteador, outro prato, ou jarro de água às mãos, um gomil grande dourado, duas salvas, oito castiçais de velas, outro castiçal de palmatória, um brazeirinho, uma caçoila, dois castiçais de pivete, uma lanterna de prata, e assim os perfumes, e os panos da Guardaroupa, lençóis, e toalhas.
 
Tinha cuidado de mandar armar a Guardaroupa, o pano, e lençol, e nela de uma parte se punha sempre o prato com um penteador, uma toalha sobrada, e dois pentes, e se cobria com outra toalha grande, e da outra parte da Guardaroupa estava o vestido, ou roupão coberto com outra toalha, e no meio um gomil grande dourado por ornamento, porque o Duque se lavava com um jarro; este concerto faziam os que serviam na Guardaroupa por ordem do moço das chaves: e nos dias solenes mandava armar outro pano novo broslado com toalhas de rendas de ouro, ou de outra sorte boa, e alcatifas novas daqueles dias, que eram Natal até dia de Reis, e Páscoa, e alguns dias, e Pentecostes, e quando vinham hóspedes.
 
Estava sempre com muita limpeza, porque como estava armada na antecâmera, casa pública, por onde passava o Duque sempre, e todas as pessoas, que o vinham visitar, e toda a sua fidalguia estava nela ordinariamente assentados, era necessário, que estivesse com toda a limpeza do mundo; e era tão venerada, que nenhuma pessoa se subia no degrau, senão quando se repartiam as peças do vestido, ou as punham nela.
 
Tinha a seu cargo mandar todas as noites acender seis velas, que eram de quarta de arretel cada uma, depois foram menos grossas, duas se punham na Guardaroupa, e as quatro na Câmara.
 
Depois que se o Duque deitava, mandava acender uma vela grossa, que se punha no meio da porta da Câmara, onde o Duque dormia, qua alumiava a Câmara, e Guardaroupa, que durava toda a noite. Todas as noites punha a cabeceira da cama do Duque na grade do leito, um retábulo de Nosso Senhor Jesus Cristo crucificado detrás da Cortina, que tinha uma cada um gancho, com que se pendurava.
 
E assim um montante à cabeceira junto da cadeira, e da parte da ilharga do leito contra a parede uma cadeira rasa, e sobre ela uma faia de malha, e um sombreiro de casco. Estas três coisas levava ordinariamente com o Duque por onde ia, e caminhava; e assim dois cadeados direitos com armelas de parafuso, para se porem nas portas da Câmara, onde o Duque dormia, se não tinha fechos.
 
Quando o Duque vinha de fora, ou havia necessidade, mandava pôr um cruzeiro de prata, e uma salva com perfume, ou caçoila na Câmara, ou Casa,  onde o Duque havia de estar.
 
Caminhava sempre com o Duque, uma hora, que faltava, lho estranhava o Duque muito.
 
Quando o Tesoureiro não ia ao Duque, levar sempre o dinheiro para a despesa ordinária.
 
Comia numa casa junto à Guardaroupa, e na Guardaroupa dormia, e ali era sua pousada.
 
Eu António Mouro servi este cargo de moço das chaves muitos anos, antes que fosse moço da Guardaroupa, e este serviço fazia ordinariamente, e muitos outros fora deste ofício, como eram visitações, a Grandes de Castela, e outros muitos Senhores, e assim me mandava a negócios de importância, e de muita qualidade.
 
E servindo este ofício, e o de moço da Guardaroupa, servi doze anos de Tesoureiro, e em todos estes cargos se ouve o Duque por muito bem servido.
 

Os Moços que Serviam na Guardaroupa
 
Todos tinham obrigação de dormir na Guardaroupa, e servir nela em tudo o que era necessário, de noite dormiam, e de dia aguardavam.
 
A cada um dava o Duque cargo particular. Um tinha cargo das armas, arneses, faias de malha, da pessoa do Duque, e assim arcabuzes, rodelas, montantes, leques, e outros géneros de armas.
 
Outro tinha cargo da Livraria, e dos instrumentos matemáticos, e assim da casinha, em que o Duque despachava.
 
Outro da arca da Cetaria, e da arca da ferramenta, e dos Varredeiros, e da limpeza da casa, mandar sacudir as alcatifas, lambeis da Guardaroupa, varrer, esfoliar as casas, varandas, e parte do Terreiro ao longo das casas, e todos estes se aceitavam por portarias do Camareiro mor.´
 
(a continuar)

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