12/06/16

"OFENSAS" ou "DÍVIDAS", NO PAI-NOSSO?

Porque o "debita" (dívida), na oração do Pai-nosso, é por alguns tido por "ofensas"? Nunca vi uma fundamentação teológica para o facto de, em Portugal, e noutros lugares, ter sido imposta a "tradução" de "ofensas"; quando antes tínhamos a de "dívidas"! Terá sido um agiornamento, ou seja, que se tivesse achado que a palavra "dívidas" poderia ser confundida pelas mentes cada vez mais oprimidas pelos tempos de materialismo e omni-banca.

Caros leitores, em tempos dissemos "dívidas", sim. E então, nunca se tinha ouvido o "ofensas". Tal como se dizia "Padre nosso", só depois "Pai nosso", justamente porque esta oração SEMPRE existiu em português, ao mesmo tempo que em actos litúrgicos continuava em latim. Isto, reparem, vem do tempo em que ainda a palavra PAI era dita PADRE... por via antiga do latim. Contudo, o caso que nos trás não é este, porque, enquanto que a palavra PAI e PADRE são a mesma, as palavras "dívidas" e "ofensas" não são a mesma, nem o sentido TEOLÓGICO de "debita" cabem na palavra "ofensas".

Quem deve é devedor, tem uma dívida; quem ofende é um ofensor, tem uma ....!? ... tem uma?! .. Tem uma dívida de reparação! A teologia da dívida existe, e existe com este mesmo nome. Como vemos, nem sequer etimologicamente na nossa língua uma palavra pode equivaler a outra!

Ora, pergunto-me se aqueles que rezam "ofensas" pensam teologicamente na dívida, ou ignoram tal matéria, e a deixam pela metade! Se a "debita" tem tradução de dívida, e já foi usada assim traduzida pelos nossos antepassados, porque motivo haveríamos de REDUZIR a uma OUTRA palavra que não comporta o mesmo conceito?! ...

Examinemos um diálogo possível com um defensor das "ofensas":

- Sim, é ofensa, porque já ninguém sabe o que é isso da dívida, e ainda acabam por pensar que se trata de dinheiros.
- E "ofensas"!? ... também hoje se entende "ofensas" de forma errada e meramente sentimental: a ofensa, que é um agravo ao SER de quem seja, hoje é interpretado como desagrado ao sentimento de quem seja. Logo, se fizermos como sugeres com "dívidas", nem a palavra "ofensas" já serve (porque leva a erros, e se leva...), e servirá talvez a palavra "desagrado"... E lá vai a oração de Nosso Senhor a reboque da degradante mutilação semântica (que ideologicamente vai sempre no sentido inverso ao que a Civilização tinha apurado e usado). Outros há que mudaram a liturgia com o mesmo argumento: para que se entenda pelas pessoas de hoje, o mesmo disseram para o catecismo. Ora, como sabes, no catolicismo, é o baixo que deve ser ajudado ao alto, e não o contrário (como faz o igualitarismo e o marxismo).
- Sim, é verdade, não me tinha lembrado que existe um sentido teológico próprio para a "dívidas", e vejo agora que, portanto, não cabe a "dívidas" na "ofensas". Com o sentimentalismo, e subjectivismo crescente na Igreja, muitos rezam já "ofensas"até com o sentido de "desagrados"... Falemos baixo para o Papa Francisco não nos ouvir... não vá ele "actualizar" "ofensas" por "desagrados".

Melhor, melhor, é rezar em latim, visto que já estamos em tempos muito evoluídos onde todos aprendemos línguas estrangeiras...

Deixo as questões teológicas, propriamente ditas, para outros que nelas têm mais obrigação... Aqui restringi-me ao suficiente.

3 comentários:

Rafaela P.S. disse...

Andaram a modificar as palavras de Nosso Senhor, a Tradição, e ainda querem ter a razão! Isto é o mais refinado antropoteísmo!

Unknown disse...

Deus entende tanto uma quanto outra. O que importa é a sinceridade do nosso coração. Eu acho que estão querendo é colocar Deus numa regra como se Ele fosse limitado as nossas palavras. Por acaso uma mãe não entende o linguajar de um filho pequeno ? Deus vê o nosso coração e sabe a intenção de cada um. Acho que devemos parar de besteira e converter mais nosso coração.

anónimo disse...

Cara Ana Rita,

obrigado por comentar.

A Oração do Pai Nosso foi-nos ensinada por Nosso Senhor em palavras. A Ele a Ana perguntará "Por acaso uma mãe não entende o linguajar de um filho pequeno?", e "corrigirá" assim: "O que importa é a sinceridade do nosso coração", e opinará assim "acho que devemos parar de besteira e converter mais nosso coração". Isso é entre si e Nosso Senhor, não connosco. A nós pertence não inventar opiniões tolas onde Cristo deu clareza, em coisas que a Santa Igreja guiada pelo Espírito Santo sempre ensinou como seguro, e repetir, e transmitir o que aprendemos de autoridade maior e incontestável.

Volte sempre.

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