NOVO VOCABULÁRIO
FILOSÓFICO-DEMOCRÁTICO
FILOSÓFICO-DEMOCRÁTICO
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N.° 5
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Cum desolationem faciunt, Pacem appellant.
(Tacito)
(Tacito)
*É tão fera a perfídia
De
um cruel, e vil Mação,
Que
a paz nos apregoa
Quando
faz a desolação. D. Tr
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Vocábulos, que mudaram de
sentido, de significação, e de ideia.
COSTUMES – Os Filósofos são os encarregados da
reformação dos costumes, e o seu Republicanismo deve ter por base a virtude. Vejamos seu plano, e
assombremo-nos à vista da série de impiedades, e disparates, a que os tem
conduzido sua malignidade, e sua loucura. Segundo eles, a reforma dos costumes
deve fazer-se, porém de um modo que se unam, e floresça com ela a liberdade filosófica,
a impunidade de todo o delito que não possa provar-se em o foro externo, a
igualdade orgulhosa, e o ímpio menoscabo de toda a Religião. As paixões
humanas, e que tantas, e tantas vezes não cedem a um Juiz inexorável, e
omnipotente, deviam, pois, tremer de medo diante de uma razão frágil,
confundida por elas como uma imbecil, e desprezada como inimiga. Sucedeu, pois,
com a Reforma Filosófica aquilo, que efectivamente sucede ao que, querendo
apagar um fogo, em lugar de um cântaro de água lhe lança um de azeite. E por
necessidade forçosa veio a parar o caso, em que na linguagem republicana o
Vocábulo Costumes se haja
identificado com o de Iniquidade; e
que falar de costumes aos Filósofos seja o mesmo que lançar pérolas aos porcos.
Ao mesmo tempo que publicam que as bases do seu Governo são todas as virtudes civis, e que sem elas está perdido o Republicanismo, jamais todavia pisou ninguém com mais descaramento todas as virtudes, que os mesmos Filósofos Republicanos, pois não só desprezam a virtude, mas ainda as aparências dela. Não é necessário ver muito para palpar esta verdade; basta uma olhada sobre um Patriota Democrático. Qual é seu traje? Qual é seu ar, e linguagem? Em seu vestido deixa ver um desejo positivo de aparecer tão feroz no exterior, como o é no coração. Um chapéu tão acatitado como sua cabeça; uma madeixa de cabelos sobre os olhos, como um cão lanzudo; uma cabeleira crespa, e revirada, como um selvagem Africano; uma bêta na barba, como os macacos; umas pantalonas para se assemelhar, quanto é possível, aos elefantes; e um sabre, que arrastando pelas pedras faz mais bulha que um coche, e que anuncia aos ouvidos a ferocidade, e barbaridades de seu dono, ainda quando não possam vê-lo os olhos: estes são os arreios, e atavios dos graves, judiciosos, e bem morigerados filhos da Filosofia. Porém, onde deixa Vm. as Liberais Lucrécias Filosóficas? Com os braços nus, como se estivessem lavando no rio, postos à venda os obscenos peitos, e coberto o resto de suas carnes com um véu lascivo, que é propriamente o mais poderoso incentivo para a impureza, se apresentam em as ruas, e as praças, nos passeios, e até em os Templos consagrados à Divindade, e à inocência, para fazerem alarde de sua desenvoltura, provocar a concupiscência, a luxúria, os adultérios, e desafiar a cólera do mesmo Deus com o desprezo, que fazem de sua Lei, e a estima, em que tem as saudáveis Reformas da Filosofia. E chama-se a isto fundar o Republicanismo sobre a virtude, a decência, e a humanidade? E não é em seu ar um Patriota Democrático o protótipo da altivez, da impudência, e da barbaridade? Seus olhos não respiram senão ameaças; suas vistas ferocidade; e seus gestos ridículos desprezo de todo o género humano. Pois que me dizem à sua linguagem? Não é ela uma miscelânea impura de injúrias, e blasfémias; de patifarias, e embustes; de calúnias, e grosserias; de ignorâncias, leviandades, e indecorosos insultos? O que nos consola é, que se (como dizem os Democráticos) seu governo não pode subsistir sem costumes, é mui provável, que prestes o leve o diabo, segundo a pressa, que eles mesmos se dão em anunciar-nos a sua destruição com a libertinagem de seus depravados costumes. É verdade que para manter o edifício, que eles mesmos desbaratam com a sua escandalosa dissolução, lançam mão do sustentáculo da tirania, julgando que esta possa encher o vazio dos costumes, da justiça, e da Religião; porém, Senhores Republicanos, não o enche; e o desengano não pode estar mui distante.
Todo o Mundo pode cortejar o retrato com os originais patriotas. Se lhe falta algum perfil, ou este ainda não é perfeito Patriota, ou é com mil diabos o tigre, (*) que se finge morto, para apanhar melhor os crédulos Macacos.
(*) Quando o Tigre não pode dar caça aos Macacos, porque trepam às árvores, e se encarpiam no mais alto delas, estende-se ao comprido, estira-se mui bem, e começa a jungir-se morto. E eis-aqui o temor daqueles posto em contrates com a sua natural curiosidade. Esperam um pouco a ver se o defunto se move, e quando se desenganam de que está como um tronco, descem pé ante pé das árvores, estendem o pescoço, dão um passinho, aproximam-se alguma cousa mais, escutam, porém de longe: e de improviso dão uma carreira, e voltam a tomar o andaime. Tornam a descer, chegam-se alguma coisa dantes, e tornam a fugir de novo. Alguma coisa mais confiados chegam a apalpá-lo. Porém nada: teso; e nem se quer se dá por entendido. Seguro alfim da constante ficção do Tigre, perdem de todo o medo, e soltam as rédeas à sua curiosidade. Um levanta o pescoço, outro mexe nas mãos, e quiçá lhe descobre as garras, aqueles lhe dá um piparote nas orelhas, este outro lhe levanta com muito tento a pálpebras, e não falta algum que, estendendo-se deveras, arremeda perfeitamente o morto, em quanto os outros andam dançando em cima dele. A tudo isto não move o Tigre pé nem mão; até que, assegurado o golpe, salta como um raio, e dá um abraço fraterno a quantos Macacos pode abarcar.
(* Eis-aqui o fiel retrato de um Pedreiro, quando à sombra do Trono quer maquinar a ruína do mesmo, e quer envolver os crédulos áulicos, que todo o tempo gastam em macaquices, e misuras!... Bastante realidade teve esta alegoria no Paço da Bemposta em 1826!....!) D. Tr.
Ao mesmo tempo que publicam que as bases do seu Governo são todas as virtudes civis, e que sem elas está perdido o Republicanismo, jamais todavia pisou ninguém com mais descaramento todas as virtudes, que os mesmos Filósofos Republicanos, pois não só desprezam a virtude, mas ainda as aparências dela. Não é necessário ver muito para palpar esta verdade; basta uma olhada sobre um Patriota Democrático. Qual é seu traje? Qual é seu ar, e linguagem? Em seu vestido deixa ver um desejo positivo de aparecer tão feroz no exterior, como o é no coração. Um chapéu tão acatitado como sua cabeça; uma madeixa de cabelos sobre os olhos, como um cão lanzudo; uma cabeleira crespa, e revirada, como um selvagem Africano; uma bêta na barba, como os macacos; umas pantalonas para se assemelhar, quanto é possível, aos elefantes; e um sabre, que arrastando pelas pedras faz mais bulha que um coche, e que anuncia aos ouvidos a ferocidade, e barbaridades de seu dono, ainda quando não possam vê-lo os olhos: estes são os arreios, e atavios dos graves, judiciosos, e bem morigerados filhos da Filosofia. Porém, onde deixa Vm. as Liberais Lucrécias Filosóficas? Com os braços nus, como se estivessem lavando no rio, postos à venda os obscenos peitos, e coberto o resto de suas carnes com um véu lascivo, que é propriamente o mais poderoso incentivo para a impureza, se apresentam em as ruas, e as praças, nos passeios, e até em os Templos consagrados à Divindade, e à inocência, para fazerem alarde de sua desenvoltura, provocar a concupiscência, a luxúria, os adultérios, e desafiar a cólera do mesmo Deus com o desprezo, que fazem de sua Lei, e a estima, em que tem as saudáveis Reformas da Filosofia. E chama-se a isto fundar o Republicanismo sobre a virtude, a decência, e a humanidade? E não é em seu ar um Patriota Democrático o protótipo da altivez, da impudência, e da barbaridade? Seus olhos não respiram senão ameaças; suas vistas ferocidade; e seus gestos ridículos desprezo de todo o género humano. Pois que me dizem à sua linguagem? Não é ela uma miscelânea impura de injúrias, e blasfémias; de patifarias, e embustes; de calúnias, e grosserias; de ignorâncias, leviandades, e indecorosos insultos? O que nos consola é, que se (como dizem os Democráticos) seu governo não pode subsistir sem costumes, é mui provável, que prestes o leve o diabo, segundo a pressa, que eles mesmos se dão em anunciar-nos a sua destruição com a libertinagem de seus depravados costumes. É verdade que para manter o edifício, que eles mesmos desbaratam com a sua escandalosa dissolução, lançam mão do sustentáculo da tirania, julgando que esta possa encher o vazio dos costumes, da justiça, e da Religião; porém, Senhores Republicanos, não o enche; e o desengano não pode estar mui distante.
Todo o Mundo pode cortejar o retrato com os originais patriotas. Se lhe falta algum perfil, ou este ainda não é perfeito Patriota, ou é com mil diabos o tigre, (*) que se finge morto, para apanhar melhor os crédulos Macacos.
(*) Quando o Tigre não pode dar caça aos Macacos, porque trepam às árvores, e se encarpiam no mais alto delas, estende-se ao comprido, estira-se mui bem, e começa a jungir-se morto. E eis-aqui o temor daqueles posto em contrates com a sua natural curiosidade. Esperam um pouco a ver se o defunto se move, e quando se desenganam de que está como um tronco, descem pé ante pé das árvores, estendem o pescoço, dão um passinho, aproximam-se alguma cousa mais, escutam, porém de longe: e de improviso dão uma carreira, e voltam a tomar o andaime. Tornam a descer, chegam-se alguma coisa dantes, e tornam a fugir de novo. Alguma coisa mais confiados chegam a apalpá-lo. Porém nada: teso; e nem se quer se dá por entendido. Seguro alfim da constante ficção do Tigre, perdem de todo o medo, e soltam as rédeas à sua curiosidade. Um levanta o pescoço, outro mexe nas mãos, e quiçá lhe descobre as garras, aqueles lhe dá um piparote nas orelhas, este outro lhe levanta com muito tento a pálpebras, e não falta algum que, estendendo-se deveras, arremeda perfeitamente o morto, em quanto os outros andam dançando em cima dele. A tudo isto não move o Tigre pé nem mão; até que, assegurado o golpe, salta como um raio, e dá um abraço fraterno a quantos Macacos pode abarcar.
(* Eis-aqui o fiel retrato de um Pedreiro, quando à sombra do Trono quer maquinar a ruína do mesmo, e quer envolver os crédulos áulicos, que todo o tempo gastam em macaquices, e misuras!... Bastante realidade teve esta alegoria no Paço da Bemposta em 1826!....!) D. Tr.
HONRA – Este Vocábulo explicava em
linguagem antiga um dos mais sublimes sentimentos humanos; e tomado em seu
verdadeiro significado era a fonte, e o estímulo das grande acções, e de
heroicas empresas. A vileza, o interesse, o orgulho, e o egoísmo nem se quer
ousavam aparecer em sua presença. Ela fazia doces os revezes, fáceis os
trabalhos, e desprezíveis os perigos; e bastava que ela mandasse qualquer
empresa, para desde logo ser gloriosa. Ela era quem distinguia o homem de bem
do velhaco, e do tunante; e a que estremava as almas nobres, e sublimes das
baixas, e vulgares. Seu esplendor era tal, que chegou a impor aos Democráticos,
por mais incapazes que sejam dela. Tremeria a barba de coragem à igualdade
democrática, se visse fazer alguma distinção entre o homem de honra, civil, e
generoso, e o vil, malvado Sansculote,
que não conhece mais honra que seu proveito. Sem embargo, não se hão atrevido
os Democráticos a combater abertamente a honra, se bem que, lá para si a tem
como uma das preocupações rançosas: e assim o que hão feito, é sepultá-la ocultamente
entre as ruínas da Nobreza, dos afazendados, e da gente bem educada. É verdade
que ainda se servem da palavra honra,
ainda se tem em conta de homens de bem, incapazes de vilaniar; porém também é
certo, que ao mesmo tempo que fazem estas protestações, riem-se às gargalhadas
delas, e dos tontos, que ainda as creem; pois são-no tanto, que nem se quer
advertem, que obras são amores, etc.
Se a Democracia moderna fôra capaz de honra,
ou se os Democráticos pudesse apreciá-la, e respeitá-la, bastaria isto só, para
que os levasse o diabo a eles, e à sua Democracia. Porque se tivessem um
vislumbre de honra, como haviam de poder urdir a infame trama de tantas
traições, não só em todos os Reinos, Exércitos, Côrtes, e Aldeias, mas até em
sua mesma Pátria? Como haviam de servir-se dos meios mais vis para derrubar, e
atraiçoar amigos, e inimigos, e neutrais, e aliados, e a quantos eles
suspeitam, que chegaram a incomodá-los? Como poderia um Democrático (só por
exaltar-se a si mesmo, ou engrandecer a outro, que tem tão honradas máximas
como ele) atraiçoar a sua Religião, o seu Soberano, a sua Pátria, e até sua
própria família, pai, mãe, irmãos, amigos, e parentes? Como poderia ver com
olhos enxutos roubar tudo, transtornar, e destroçar tudo, regar, e ensopar as
ruínas com o sangue de inocentes, deixando tudo envolto em pranto, dor,
amargura, e desolação? Como quebrantar descaradamente, e à face de todo o Mundo
as palavras mais solenes, os pactos mais sagrados, as promessas mais justas, e
até os Juramentos mais Santos; e tudo isto por puro capricho, e porque assim
convém às suas vistas? Como assegurar solenemente a um Povo, que se respeitará
seu Culto; e logo depois de derrubar Templos, e Mosteiros, perseguir os
Sacerdotes de Deus, anular os Votos Religiosos, e violentar as consciências com
sacrílegos Juramentos? Como prometer-lhe que a Religião será protegida, e
querer em troca disto proibir a prégação, mofar do Sagrado Viático, das
Procissões, das Solenidades Sagradas, e forçar o Religioso Cidadão a que troque
os dias consagrados ao Deus da sua Religião em os prescritos pela Idolatria
Democrática? Como jurar, respeitar as propriedades, e despojar solenemente o
Clero das suas, os Seculares das que tem em os Montes Pios, e sucar até à última pinga de sangue com enormes, e bárbaras contribuições? Como jurar a um
Povo a liberdade, e constrangê-lo ao mesmo momento com ignominiosas cadeias,
atando-o ao Carro tirânico de uma escravidão insuportável? Como sancionar, e
promulgar a liberdade de Imprensa, e andar depois à mira de todo o Escrito,
que não ataca a Religião, que não adula a tirania, que não corrompe os
costumes, as Santas Máximas, a probidade, e a razão? Como (no geral) pondo
lentamente as Rendas do Governo nas mãos de ímpios, ateus, e libertinos, que há
muito deviam estar nas galés, ou na forca? Porém se não houvesse ateísmo,
libertinagem, traições, embustes, faltas de fé, de palavra, de Juramentos, ou
faltassem iniquidades inauditas, tramoias, e enredos infernais, como havia de
haver sobre a terra uma só Cidade, Vila, ou Cabana, que fosse ou quisesse ser
Republicana? Sim, pois o Republicano é inseparável da impiedade, da traição, da
aleivosia, da tirania, da falta de fé, dos roubos, dos enganos, e de quantas
maldades podem pensar-se; honra é, e
deve ser o seu mais capital inimigo; e por tanto um Republicano honrado vem a ser em toda a extensão da palavra um
verdadeiro fogo áqueo.
(* Se quiséssemos arriscar algumas
conjecturas, quantos destes não poderíamos apontar que trazendo sempre na boca
a palavra honra, e inculcando-se
sempre como homens de bem, ocultam no coração o mais pestífero veneno, e um
ódio figadal contra aquele mesmo, de quem recebem tantos benefícios! Quantas
destas árvores parasitas se não encontram, que com um ar de gravidade, afectada
honra impedem a vegetação das verdadeiras plantas realistas! Mas quando chegar
o dia, em que se separe a palha do grão, e em que se arranque a zizania do meio
do trigo, talvez então se nos apresentem, como na verdade são, traidores e
perjuros muitos, a quem hoje o respeito, e a decência não permite que se lhes
levante o véu, que oculta suas bifrontes caras!...!) D. Tr.
GENEROSIDADE – Palavra, de que os
Revolucionários fazem tanta pompa, como a que António de não tirar a vida de
Cícero, o qual confessou neste sentido a generosidade de António com aquelas
memoráveis palavras: Siquidem a latrone
beneficium majus accipi non potest: e certamente, este é o maior benefício que um homem pode receber de um ladrão.
Quando uma Nação há sido conquistada, e iludida com mil promessas de liberdade;
quando sua Religião há sido maneateada em favor dos Judeus, e dos Ateus; quando
se há instalado um Governo odioso, e se vê precisada a obedecer aos decretos
mais tirânicos dos mais infames, e vis mandarins que há na Sociedade; quando em
fim se lhe há tirado até o alívio de suspirar, e de chorar seus males; então
sim, é quando a generosidade
Republicana está em todo o seu auge. Podem-se desterrar todos, degolar, e
fuzilar; mas como o não fizeram a todos, eis-aqui a grande generosidade dos
Revolucionários! Faz-se à Nação um dom
generoso da vida de tantos inocentes, que sem perigo algum se lhe poderiam
matar, e a quem se lhes concede a vida para que tenham o gosto de viver escravos,
e de ir de boa mente pagando milhões, e milhões, que são republicanamente de
muito mais proveito, que milhões de fuzilados.
Para definir em breve a palavra generosidade em ambas as línguas,
pode-se dizer que a generosidade em sentido antigo significa: fazer um benefício, que não há obrigação de
fazer: e em sentido Democrático: abster-se de fazer uma maldade, para cuja
execução tenho as forças suficientes.
E esta é a mesma generosidade sem
diferença alguma, que a do sentido Ciceroniano.
VERDADE – Sem titubear foi definida
por um verdadeiro patriota: é a que um
galante homenzarrão diz jamais.
Nota. Os únicos homens falantes, ou elegantes que
há no Mundo são os Patriotas Republicanos, e se não pergunte-se-lhes a eles
mesmos.
CALÚNIA, MENTIRA – Fundamento, e coluna
principal de toda a Revolução, e pelo mesmo princípio, progresso e apoio de
toda a bem ideada República Democrática. Sem este sustentáculo todas vem à
terra de repente. Ora, pois, o que não procura sustentar a República não é bom patriota. O que não é bom patriota não é um homem galante e liberal, e eis-aqui a razão principalíssima, porque
um liberal elegante não pode nunca
falar palavra que seja verdade.
(* Vastíssimo campo se nos oferecia se
acaso quiséssemos analisar as calúnias, que esta cáfila infame de Liberais tem espalhado desde que começou
a mania Revolucionária no meio de nós! Começando pela Divindade, e acabando
pelos Sacramentos da Igreja, principiando pelos Monarcas, e terminando pela
última Autoridade que cheira a Realeza, nada tem escapado a este Vandalismo,
que mais assolador que o de Totila, e Átila tem devastado tudo, profanando os
Santuários mais respeitáveis, perante quem os Séculos humilhavam à sua frente.
Seria infinita, e quiçá fastidiosa a enumeração das calúnias, que à maneira de
nuvem espessa tem obscurecido a nossa atmosfera política, a ponto de ser
impossível ver os objetos tais quais eles são. Medita-se de noite em as escuras
cavernas, o que se há de dizer de dia, fingem-se comunicações, remetem-se
Cartas, e por este modo espalha-se muitas vezes a perturbação no seio das
Províncias, e os Malhados folelos, cujas goelas são mais elásticas que as de
pato tudo engolem com tanto que se lhes fale da próxima vinda do seu Patrono, e
de uma nova Divinal, que nestas
noites de Inverno ele tem confiado aos cuidados, e desvelos do Profundo
Político, o "Chalaça" para que seja mais perfeita, mais e mais liberal do que a primeira: uma vez que as notícias
sejam temperadas com estes adubos, e remetidas pelos canais fidedignos da
Veneranda Ordem Maçónica, que ainda os há, e trabalhando até de muletas sem serem coxos etc., etc.
está tudo corrente, e acreditado; e ainda que as noticias sejam entre si tão
coerentes como a quadratura com o círculo, não tem dúvida, tudo vai bem, assim
deve acontecer; e ainda que os cálculos e promessas tenham falhado tanto, como
os dos Sebastianistas, assim mesmo esperam pela sua realidade, e continua o
prestígio, ou a varinha de condão, (por nos explicarmos à moda das nossas
velhas) com que os Pedreiros Mestres vão iludindo o Povo Mação, e conservando-o
debaixo de sua obediência, a fim de que se não rebele contra eles, e destrua a grande Sociedade, que dentro da
Sociedade do Estado conspira efectivamente, e aspira sem cessar por empolgar os
Bens, e o Governo. De maneira que, aqueles que nos arguem de crédulos e
fanáticos, são eles mesmos os mais estúpidos, mais fanáticos, e mais cegos
observadores das ordens que dimanam do seu Oriente; e se os apertamos para que
nos deem razão da sua credulidade, não nos darão outra senão a que davam os
discípulos de Pitágoras: ipse dixit: disse Nosso Venerável, e tanto basta.
Uma espécie de calunias nos toca muito de
perto, e nos impõe o rigoroso dever de a não deixarmos em silêncio: todas elas
e poderão tolerar, menos a de que falámos; já os nossos Leitores poderão prever
qual ela será. É tudo que eles dizem, e escrevem a respeito do nosso
Amabilíssimo Soberano o Senhor D. MIGUEL I: eles o pintam, e descrevem com
aquelas cores que Tácito, e Suetonio se não atreveram a empregar quando
descreverão o carácter de Nero. Ora, se Deus nos ajudar, havemos destruir estas
falácias com razões, e factos.
É indisputável, e demonstrado até à
evidência, que nós os Realistas, (segundo a confissão dos mesmos Pedreiros)
vivemos em um mundo inteiramente diverso do em que eles vivem: Nós cremos em
Deus, amamo-lo como Pai, tememo-lo como Juiz, reconhecemo-lo como Árbitro
Providente do Mundo; eles admitem uma Divindade fantástica, a que chamam
Natureza; materialistas, ou indiferentistas entregam-se em os braços do cego, e
fortuito acaso, ou juram bandeiras ao fado
dos Estoicos, ou de Espinosa: Nós reconhecemos a Religião de Jesus Cristo, e
acreditamos os seus dogmas, respeitámos os seus preceitos, e até os seus mesmos
conselhos nos santificam; eles não querem outra Religião que a natural, isto é,
a dos brutos, outros mistérios, e preceitos que os caprichos de uma razão sem
freio, nem consciência entregue ao furor das paixões: Nós obedecemos à Igreja
Católica Romana, como Mãe, e Mestra da verdade auxiliada, e defendida por seu
esposo contra as portas do Inferno, que nunca prevalecerão contra ela; eles não
reconhecem outra Autoridade Suprema que a do seu grande Oriente, e seus
respectivos Veneráveis. Em objetos de Política nós reconhecemos em um Monarca
uma Imagem da Divindade, a sua Autoridade é emanada da Autoridade Divina, as
suas Leis, e Decretos obrigam no foro da consciência porque a Sabedoria Eterna
nos diz = por mim reinam os Reis: per me
Reges regnant: e S. Paulo ainda acrescenta mais: quem resiste ao poder
temporal dos Reis, resiste às ordens de Deus: qui potestati resistit, Dei ordinationi resistit: e isto não só por
causa do medo, mas por causa da consciência, porque há poder, que de Deus não
emane: non solum propter iram, sed
propter conscientizam; non est enim potestas nisi a Deo: eis-aqui como nós
pensámos a respeito das Autoridades temporais; mas eles que não admitem as
ideias Religiosas, em que nos estribámos, nem admitem uma Divindade, nem a voz
da consciência, como hão de olhar para um Soberano? Que epíteto lhe dão de dar?
que crédito lhes mereceram as suas Leis? Seu próprio Nome é para eles odioso,
seu Governo é tirano; e suas Leis, ainda as mais justas, e providentes, são
meros caprichos, e despotismos na sua opinião: Nós contemplamos o Governo
Monárquico como o melhor entre todos; porque o mais simples, o mais activo, e o
que mais tem durado no mundo, em quem tarde, ou cedo vem a refundir-se todos os
outros; eles, a pesar de terem a razão, e a experiência contra si querem que o
Governo Republicano, ou Representativo, (que é o mesmo como já demonstrámos em
o N.º 2) seja o único, que governe os homens: Nós abraçados com os Séculos
queremos aquilo, que quiseram nossos Maiores, e com que foram venturosos; eles
querem uma ordem de coisas, que só existe na sua imaginação, e que apenas
aparece no mundo começa com ela a desordem. Em uma palavra, o que para nós é
virtude, é para eles vício: o que para nós é justo, e razoável, é para eles
injusto e cruel: o que para nós é saudável, e benéfico; é para eles opressor, e
tirânico: nós vivemos em as trevas, (segundo a sua mesma frase) eles vivem na
luz. Ora, dada esta diferença essencialíssima, esta oposição tão grande, como a
que se dá entre a luz, e as trevas, e tão decidida como o sim, e o não; digam-nos todos os homens sensatos, e que sabem pensar com
exactidão, que nos deve admirar que os Liberais
vivendo num Reino inteiramente contrário ao nosso, chamem tirânico, despótico,
e opressor ao Governo do Senhor D. MIGUEL?! Isto, em boa tradução, é o mesmo
que se dissessem, é o mais razoável,
o mais justo, e o mais paternal. E Deus nos livrasse, que gente
semelhante aos Liberais, cuja
linguagem se deve sempre entender às avessas, dissesse bem do Nosso Monarca: longe
de nós o ouvirmos de suas malvadas bocas, que Ele é Piedoso, Clemente, Compassivo! Se tal ouvíssemos, desde logo
diríamos: está decretada a nossa ruína! É irremediável a nossa desgraça!
Piedoso, Clemente, e Compassivo por excelência chamarão eles ao Senhor D. João
VI; mas uma lastimosa experiência nos mostrou que esses mesmo, que assim o apregoaram, foram os seus maiores inimigos, e traidores, e são os que hoje
levantam armas contra a Mãe Pátria, e os que pretendem cevar a sua crueldade em
Portugal, como já a tem saciado em as Ilhas, onde governam. Longe desta
linguagem nos assustar, é ao contrário o barómetro infalível de que as coisas
caminham à vela, e até estabelecemos uma proposição, que quase pode entrar na
categoria dos axiomas: e é a seguinte. "Quando os Liberais se queixam, e lastimam, bem vai a cousa para os
Realistas". Desçamos agora aos factos.
São tantos os que depõem a favor da
bondade, generosidade de coração, grandeza de alma do Nosso Idolatrado Monarca,
que ousamos afirmar que não há uma só pessoa, que com Ele tivesse a primeira
entrevista, a ponto de se expressarem algumas malhadas bocas: = estimo-o como homem, mas aborreço-o como Rei=!
Quando houve um Rei tão piedoso, que se Dignasse Ele mesmo levar à pia
batismal um filho, não de um Grande da sua Côrte, mas um Oficial subalterno, e
até de um pobre Soldado, como S. M. fez no Castelo de S. Jorge em Lisboa, na
Freguesia de S. Sebastião da Pedreira, e ultimamente na Praça de Cascais?!
Quando teve Portugal um Monarca tão Religioso, que vestindo a insígnia de Irmão
do Santíssimo o acompanhasse como Viático a casa do mais pobre de Seus
Vassalos, fazendo até um longo caminho, quanto vai de S. Sebastião a Campolide,
mostrando neste acto que não se dedigna um Soberano, quando desce ao seio da miséria
para melhor contemplar os males, que oprimem o seu Povo?! Quando apareceu um
Monarca, que soubesse formar uma opinião pública a seu respeito, e adquirir uma
força moral tão prodigiosa, que a sua Presença semelhante ao imã atrai todos os
corações, (que não os Pedreiros) e aos próprios inimigos infunde confusão, o
que especialmente se manifestou em Lisboa, quando a Esquadra Francesa forçou a
Barra, devendo-se só a Ele, e simplesmente a Ele, o não se ter desenvolvido a
premeditada Revolução, que em desespero desde mau Sucesso abortou em a noite de
21 de Agosto?! Quando tiveram os Soldados Portugueses um General Rei, que
tomasse tanto interesse pelas suas pessoas, a ponto de os visitar em os quartéis, comer, (e não provar) do seu rancho, acompanhá-los quando saem para o
Campo de Batalha, recebê-los quando voltam, ainda que seja debaixo de água, e
visitando-os até em os Hospitais?! Quando imperou sobre os Portugueses um
Soberano, que mais se sacrificasse pelo bem da sua Pátria, e que a despeito dos
maiores perigos, e trabalhos tenha sustentado a honra da Coroa lutando sempre
com traições, perfídias, e contratempos, chegando ao ponto de se privar do seu
mesmo Estado para serviço de Artilharia, não se poupando nem aos trabalhos, nem
às fadigas, nem às vigílias, já pelo calor, já pelo frio, já de noite, já de
dia, hoje em Cascais, à manhã na Ericeira, agora em Queluz, logo em Belém,
levando sempre após si o entusiasmo público, e sendo por toda a parte as
delícias do seu Povo?! Oh! mas há tanta gente preza! tanta vítima?! dizem.
Porém a resposta é pronta. Sim, há muita gente preza, porque há muito mais
gente malhada, porque há muito gente tola, que se deixa iludir de vãs
promessas, que fala desbocadamente, e que por segurança pública é necessário,
que estejam à sombra: admiram-se? Suponham que estavam no tempo da Divinal, e
que se proclamou a Pátria em perigo, e que se suspendeu o habeas corpus. Há muitas vítimas! Sim, há vítimas, mas são
vítimas de seus caprichos, seus erros, e seus crimes, e se não cometeram atentados
nesta, foram muito culpados na outra, e Deus não guarda os castigos só para o
outro mundo, e não admira, que muitas destas gentes sejam vítimas, quando
dizem, que tem grande honra em ser prezas por malhadas, e até se não querem
soltar, senão quando vier o seu libertador. Tanta víctima! Ah! Malvados! E o
que fazeis vós quando governais?! Igrejas dilapidadas, Santuários roubados,
Proprietários esbulhados de seus bens, Comerciantes provados do seu ouro, os
pobres obrigados a aceitar um oitavo de papel com o título de moeda, e isto com
pena de morte, oficiais honrados, e fieis enforcados com desprezo e sem
processo, outros obrigados a arrastar pesados ferros como vis escravos, uma
Comissão Militar sempre manente, tomando conhecimento da mais leve suspeita, e
sentenciando a pena última a qualquer indivíduo, que se mostre menos afecto ao
despótico, e brutal governo de Vila Flor, e Conde d’Alva, que piores, que
Verres, vem varrido tudo, que cheirava a dinheiro, ou pedra preciosa, e tem
reduzido todos os bens a pecúnia, e todos os homens a miséria, e desgraça!
......! Eis-aqui os vosso feitos em as Ilhas, onde governais! .....e
atrevei-vos a falar de tirania, e de opressão?! Onde haverá mais vítimas, ou
quais merecerão melhor este nome?! Comparai este procedimento bárbaro, cruel, e
desumano, que lá fazem os vossos Irmãos, e por quem tanto suspirais, com o
procedimento do Nosso Soberano, e vede a diferença?! Mas talvez que a vossa
cegueira seja tanta, que não possais vê-la. Nós vos apontaremos alguns factos,
que bem provam a clemência do Nosso Príncipe. Não mereciam todas as Praças
rebeladas do extinto N. 4 pena última pelo Regulamento Militar, que não se fez
agora, e que já existe há muito anos? Sim, mereciam, e a Sentença do Conselho
assim o declara; mas o Magnânimo Príncipe lembrando-se que aquele sangue, que
ia correr, era sangue Português, deu por satisfeita a justiça, e absolveu a
maior parte. Quantos outros exemplos oferecem, a quem com olhos imparciais
contempla as suas acções, que na verdade são de um Anjo?! Viúvas beneficiadas
pela morte de seus maridos em defesa da Pátria, ou alimentadas, quando ausentes
lhe não podem ganhar o Pão, será argumento de beneficência?! Pois Ele o tem
feito sempre, e, quando não, pergunte-se às viúvas de José Maria Monteiro, do
Capitão Victoria, do Mestre de Meninos do Bairro de S. Isabel. etc. etc. Soltar
os ferros a homens talvez incorrigíveis, e alguns deles malhados, será
testemunho de um coração magnânimo?? Ninguém o negará. Pois Ele mais de uma vez
o tem feito, já na Praça de Cascais, já na torre de S. Julião, e até mesmo
quando trabalhavam nas Obras Públicas do Cais do Sodré, cujo número sobe sem
dívida acima de 500. Será testemunho de magnanimidade próprio de um Rei anuir
às súplicas de um Povo, que pede um privilégio para a terra onde vive? É sem
dúvida. Pois o Nosso Incomparável Soberano o fez em a Vila de Ericeira,
concedendo-lhe o privilégio da admissão de Cereais naquele porto. Seríamos
fastidiosos, se quiséssemos enumerar todos os actos de sua Clemência, e Benignidade
Públicas, bem como os actos caritativos de seu generoso Coração, que mais
domesticamente pratica para com todos os desgraçados, que a Ele se chegam. Mas
do que fica exposto, e que é puríssima verdade, claramente se mostra que a
calúnia só, a mentira, e aleivosia é, que pode denegrir o mérito do Melhor dos
Reis; Para os Portugueses não há hoje um nome tão caro como o Nome de "MIGUEL") D.
Tr.
(continuação, II parte)
(continuação, II parte)
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