07/01/16

1 de JANEIRO - AGIOLÓGIO LUSITANO (II)

(continuação da I parte)

Convento beneditino de Ganfei
f) Fr. Álvaro, Recoleto: Neste dia em Sta. Maria de Mosteiro o falecimento de Fr. Álvaro, que sendo primeiro Monge, e Prior do convento de Ganfei da Ordem de S. Bento, desejoso de maior aspereza, e rigor de vida, tomou o hábito Recoleto neste observante convento, no qual viveu vinte anos com exemplar exercício de muitas virtudes, e rara penitência, e nele perseverando até ao fim, acabou o curso de sua peregrinação santamente.

g) Fr. António Pereira, Franciscano: No mesmo dia em S. Francisco de Beja a bemaventurada morte de Fr. António Pereira, religioso mui observante, e penitente, que sendo de oitenta anos de idade, ao partir desta vida lhe acharam cingido um áspero cilício, e as pontas dos peitos furadas, e de cada uma delas pendurado um relicário de peso considerável, em cuja hora de lhe fizeram nos pés, e mãos umas rosas encarnadas formosíssimas, à maneira de chagas. Divulgada tão extraordinária maravilha, concorreu grande parte do povo a seu enterro, que aclamando por santo, lhe levaram o hábito, e panos menores em retalhos, como preciosas relíquias.

Igreja do Convento do Carmo
h) Fr. Jerónimo de Brito, Carmelita Calçado: Em Lisboa no convento do Carmo morreu o Senhor Fr. Jerónimo de Brito, nobre por geração, mas muito mais por suas virtudes, as quais assim no pouco, como na Ordem lhe granjearam grande nome. Era singular devoto da Virgem S. N. pelo que nos sermões se esmerava em suas prerrogativas, e excelências, e para o céu mostrar quão agradável lhe fora tão santo exercício, achando-se seu corpo todo desfeito, depois de três anos que fora sepultado, só a língua (que se empregava em louvores da Sereníssima Rainha dos Anjos) ficou inteira, e incorrupta, a qual se guarda ainda hoje no mesmo convento, como relíquia de estima, entre as muitas daquele vistoso, e precioso Santuário. 

i) D. Maria de Abranches: It~e no convento de N. S. da Graça da mesma cidade a memória de Dona Maria de Abranches, que estando na flor da idade admitida para dama da Princesa D. Joana mãe do Rei D. Sebastião, e com grandes esperanças de crescidos aumentos, tocada da do espírito divino por ocasião de um devoto sermão, como verdadeira disciplina de Cristo, dando as costas ao mundo, e a tudo o que dele podia esperar, se entregou toda a seu divino serviço, empregando o melhor de sua fazenda na fundação do religioso cenóbio de Santa Mónica de Lisboa, no qual viveu alguns anos com notável exemplo de virtude, e tanto que querendo professar nele para mais agradar ao celestial esposo em tão perfeito estado, o inimigo do género humano por estorvar tão santos intentos, levantou entre a serva de Deus, e as religiosas tão desfeita tormenta de desgostos, e discórdias, que postas de parte as muitas obrigações, que pediam o contrário, ela por aquietar tanta tempestade, se saiu do convento com grande mágoa de seu coração, e no século perseverou por alguns anos no mesmo modo, e rigor de vida que antes, como perfeita religiosa, até que o soberano esposo a chamou para as eternas bodas, rica sua alma de virtudes, e copiosos merecimentos.

j) Sór Mecia de Paiva, Agostinha: Em S. Mónica de Évora da mesma Ordem de S. Agostinho o precioso óbito de Sór Mecia de Paiva, grande sofredora de trabalhos, opróbrios, e afrontas, e de igual oração, em que Deus a regalava, e lhe revelava mui ocultos mistérios, à qual dando-lhe a Prioressa a beijar o menino Jesus neste dia da Circuncisão, ela disse repetidamente com muitas lágrimas: "Madre eu hei-me de partir com este Senhor". e assim a maneira do S. velho Simeão com tão sacrossanto relicário nos braços, soltou o espírito em seguimento deste seu divino esposo (para o gozar sem fim na pátria celestial) com grande consolação de sua alma, e uma santa inveja de toda a comunidade.

m) Maria da Cruz, 3ª Ordem: Na célebre vila de Olivença da s mais notáveis do Alentejo, esta viva a lembrança da fervorosa amante de Jesus Maria da Cruz, que por extraordinário modo a trouxe Deus à Ordem da Penitência do Seráfico Pai S. Francisco, em que perseverou 22 anos, dando-se a todos exercícios de penitência, e mortificação, privando-se de tudo o que noutro tempo lhe dava gosto, lançando cinza, e água fria no comer para o achar mais desabrido, vestindo-se de burel, e áspero cilício à raiz da carne, a qual com rigorosas penitências reduzia a obediência do espírito. Permanecendo pois (por divino favor) até ao último neste exemplar teor de vida no estado da Angélica, e virginal pureza, lhe comunicou o celestial esposo notáveis raptos, que por muitas horas à vista do pouco lhe duravam tão cheios de superabundantes consolações, que saia deles cantando com muita devoção mil jaculatórias ao doce Jesus. Chegada a ditosa hora de seu feliz trânsito, que dias antes lhe fora revelado, em que o Senhor lhe quis acrescentar os merecimentos com novo purgatório de excessivas dores, disse cheia de espírito a seu Confessor; que se estivera encravada numa Cruz, não padecera mais tormentos dos que então padecia. Recebidos logo devotamente os últimos Sacramentos, e entoando amorosos cânticos ao amado Jesus lhe entregou o espírito, ficando seu rosto (em testemunho da glória de sua alma) formosíssimo. Publicada a morte acudiu ao mosteiro de S. Francisco grande concurso de gente, onde depois de lhe beijarem pés, mãos com veneração como pessoa santa, e cotarem do hábito com grande fé por relíquias, se lhe deu honorífica sepultura.

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