27/01/16

1 de JANEIRO - AGIOLÓGIO LUSITANO - COMENTÁRIOS (II)

(continuação da I parte)

Mosteiro de S. Salvador, em Vila de Frades
b) Foi o Mosteiro de S. Salvador de Vilar de Frades, fundação de S. Martinho Damiense, debaixo do hábito e regra de S. Bento. Está situado na margem do rio Cávado, em lugar mui fresco, e delectável no Arcebispado de Braga, e assim podemos com verdade chamar a D. Godinho Viegas seu reedificador, posto que nome de fundador lhe dá o Conde D. Pedro tit. 52. Floresceram em seus claustros grandes servos de Deus nos primeiros séculos da Religião, entre os quais se avantajou a todos o Abade santo de que falamos, o qual teve sua sepultura no claustro, e nela de meio relevo esculpida sua figura com o Passarinho na mão em memória de tão maravilhoso sucesso. Porém desamparando este domicílio os Monges por causa das pestes, fez dele doação o Arcebispo de Braga D. Fernando da Guerra (ano 1439) ao Venerável M. João fundador da Sagrada Congregação de S. João Evangelista neste Reino, anexando-lhe o mosteiro de S. Bento da Várzea, que dista meia légua de Barcelos, com mais doze igrejas. Depois o Arcebispo D. Luís Pires lhes anexou mais Sta. Maria de Góis, e ultimamente o Papa Nicolau V o Mosteiro de Manhete, também da mesma Ordem de S. Bento, fundações todas três de S. Martinho.

Igreja do Mosteiro de S. Sa.vador, em Vila de Frades (Portugal)
Tomando posse deste Convento Mestre João, vendo os muitos milagres que Deus obrava por este seu servo com a terra de sua sepultura, e a pouca decência com que estava, determinou colocar as santas relíquias na Igreja para serem dos fiéis mais veneradas (o modo, e ano diremos em 21 de Setembro, em que se fez esta translação) mas o mesmo foi transferirem-se elas à Igreja, que perder-se totalmente esta tão notável memória, como sucedeu a outras muitas, de que a cada passo nos havemos de queixar. Tratam deste santo Abade o livro intitulado Speculum Exemplorum (dist. 9 c. 65), e dele o refere o Báculo Pastoral (c. 45 pág. 234 exemplo 2), e o Pe. João Rebelo nas adicções à cartilha de M. Inácio (fol. 131), D. Rodrigo da Cunha no Catálogo dos Arcebispos de Braga (I p. c. 73), Fr. Leão de S. Tomás Geral que foi da Religião de S. Bento nos prologómenos que fez às Constituições desta província (c. 3). Finalmente anda esta história manuscrita no tratado que nos deixou o Pad. e Paulo religioso desta Congregação, dos varões ilustres em virtude, que floresceram em seu tempo.

Clausto do Mosteiro de S. Salvador, em Vila de Frades
c) O corpo de B. D. Garcia Martins descansa na Igreja de Lefta, a qual tomou o nome do rio, que por ela passa, tendo seu nascimento além do Monte Corua. Fpoi antigamente mosteiro de Templários. Nela viveram depois Clérigos, Freires de Malta em comunidade; e hoje é Comenda, e Bailiado da mesma Ordem, edifício magnífico, que tem couto de jurisdição civil; a terra, e sítio é fresquíssimo, e tem com as Igrejas anexas mais de quinhentos vizinhos. Neste mosteiro recebeu ElRei D. Fernando por mulher a Rainha D. Leonor como diz a sua Crónica.

Faleceu este santo Cavaleiro pelos anos 1306. Consta de seu Epitáfio em Latim bárbaro daqueles tempos, e é o seguinte:

E. M.CCCXLIIII IN IESU XPI.
fide decessit in Reyno Fratri Domini Garcia Martini, gloria nostra Comendatori dos cinco Reynos de Hespania in coelico.

Os cinco Reinos de Hespanha de que foi Comendador, são Castela, Leão, Portugal, Aragão, e Navarra. Enganaram-se os Cronistas desta Ordem, dizendo que faleceu no ano 1286, pois do epitáfio consta o contrário. Além disto temos três escrituras originais, as quais todas mostram viver em Junho de 1302. A primeira do livro DelRei D Dinis (fol. 20) o qual faz doação a D. Garcia da Igreja de S. Pedro de Baças no Arcebispado de Braga. A segunda se acha no l. 5 do mesmo Rei (fol. 32) onde D. Garcia confessa que o dito Rei fizera recompensa a ele e à sua Ordem das terras que lhe tomara para fundação de Vila Real no termo de Panoias. A terceira, e última e do terceiro livro da leit. nou. do cart. de e de Lisboa (fol. 83) em que se refere uma composição entre ele, e o Bispo D. João sobre controvérsias, que traziam cerca de várias Igrejas, e com isto nos parece que temos provado contra os Autores que (mal advertidos) afirmam morrer o Beato D. Garcia no ano 1286 que são a maior parte dos que abaixo alegamos.

A temperatura que contem os epitáfio num monumento de pedra, que sustentam três leões no meio da Igreja, o qual cobre um pano negro com Cruz da Ordem. E sua imagem se vê de pintura no altar de S. João da invicta cidade de Malta entre outros Santo da Religião. É o nosso invocado dos moradores da comarca de Lessa, que o vêm ainda hoje visitar, e venerar o seu sepulcro com nome de Homem Santo, ou Homem Bons de Lessa se bem que antigamente era muito mais frequentado, pois a Infante D. Filipa, filha do Infante D. Pedro, e neta do DelRei D. João I, indo em romagem a Santiago de Galiza, foi também visitar as relíquias deste S. Cavaleiro, acompanhada de muita nobreza, e da maior parte dos Prelados do Reino, e ali com devoção se deteve uma novena, por causa de um célebre milagre, que o Santo obrou neste tempo num aleijado, de que se passaram autênticos instrumentos.

Tratam sua vida Abraão Bzevio no Annaes Ecclesiasticos (tom. 13 ano 1286), Jacome Bozio nas Crónicas Gerais da Ordem (em italiano, l. 10) e no Compêndio dos Santos (da mesma pág. 99), D. Fr. João Agostinho de Funes na Crónica de Malta (l. 1 c. 26),  Fr. Domingos Maria nos Triunfos da mesma Religião (l. 2 c. 4), Jerónimo de Marulha, dos Mestres da Ordem (pág. 23), António de Sousa de Macedo no livro intitulado "Flores de Hespanha" (c. II excel 2) Faz dele também menção em dois lugares de suas antiguidades o Doutor João de Barros (pág. 18 e 48). O mesmo traz M. António no seu Sumário que nos deixou, de entre Douro e Minho, ambos em livros m. s. se bem inadvertidamente contra a torrente de tantos escritores lhe chamam Joanne, sendo seu verdadeiro nome Garcia, como fica dito.

(continuação, III parte)

3 comentários:

Mem de Sá disse...

Aí temos Vilar de Frades com o seu belo mosteiro, no norte do país, e aqui temos Vila de Frades, no sul, com vila romana e antigo altar cristão (observe que semelhante ao nosso presente altar tradicional): https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_de_S%C3%A3o_Cucufate .

Mem de Sá disse...

Muito obrigado por responder aos meus comentários, que não têm sido poucos, eu sei! Isso anima muito o leitor.

Chegou a receber a minha mensagem?

Saudações.

anónimo disse...

Mem de Sá,

obrigado por comentar. O costume aqui é: responder aos comentários.

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