15/12/15

MEMÓRIAS ECLESIÁSTICAS DO REINO DO ALGARVE (Cap. XV, II parte)

(continuação da I parte do Cap. XV)

Viviam os nossos Portugueses, e Mouros Africanos no Algarve sujeitos àquele Império Árabe, quando no porto de Lisboa arribou uma grossa armada de belicosas gentes, que iam em socorro da Cidade Santa de Jerusalém, a qual Guido de Lusigiano perdera no ano de 1186 (é tão diversa a lição dos Autores em pontos de Cronologia, que não me atrevo a deduzir a verdade, dando mais valor ao cuidado, e diligência daquele, ou deste Escritor. Como é impossível deixar muitas vezes de firmar os anos, em que algumas acções, se fizeram, sigo já a uns, e já a outros, segundo a persuasão de que me convenço, lendo os Autores, de cujas notícias me aproveito, em quanto o Cl. Pereira de Figueiredo não faz públicas as grandes aplicações que tem escrito da nossa Chronologia Portugueza), tomando posse dela Saladino no ano seguinte. uma furiosa, e rija tempestade de duros ventos, e grossos mares obrigou ao Imperador Frederico, chamado Barbaroxa (Luíadas de Camões, Canto III, oitava LXXXVI), a fazer a arribada àquele porto. As graças que o Papa Inocêncio III concedeu aos soldados que ajudassem aquela conquista, tinham excitado o espírito, e esforço das gente que adoravam a Cruz, e Insígnias do Salvador, a derramarem seu sangue, e restaurarem aqueles lugares, onde se completou a nossa Redenção.

Silves
ElRei D. Sancho, que então governava o Reino, estava naqueles dias em Santarém; e acudiu a fazer prestes os refrescos, e víveres para a armada, distinguida a todos os oficiais com aquelas honras, que a autoridade sofre. Continuaram os ventos a serem ponteiros, e rijos, e os mares agitados feriam as serras, não dando lugar àquelas naus a prosseguirem a viagem, e derrota do seu destino. ElRei lembrado do grande benefício, que de outra semelhante armada conseguira seu valoroso pai na tomada de Lisboa, não perdia ocasião de tentar os ânimos daqueles capitães para fazerem alguma empresa entre os Mouros nas conquistas deste Reino; e como a causa era tão semelhante aos intentos, e interesses com que empreendiam a glória, e honra do Senhor; e os exemplos da vitória, e prémios, que a outra armada estrangeira tinha conseguido sobre Lisboa, estavam ainda frescos, e excitavam a ambição da sua honra, facilmente deram o seu consentimento.

Ajustou-se em conselho, que se dirigisse a guerra sobre a Cidade de Silves, antigo porto, e asilo dos Africanos, que feitos piratas infestavam os mares, causando algumas ruínas nas nossas possessões, donde cativavam muitas almas, que às vezes perdiam a Fé pela liberdade, conseguindo estes roubos a glória de atrevidos, e ricos.

(a continuar)

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