31/12/15

1 de JANEIRO - AGIOLÓGIO LUSITANO (I)

a) S. Félix Ermita: Em Rates o ditoso trânsito de S. Félix primeiro Ermita, discípulo daquela insigne pedra fundamental da Igreja Bracarense S. Pedro seu primeiro Bispos, o qual com sua presença, e assistência santificou os incultos desertos de entre Douro e Minho, abrindo larga estrada para que muitos o seguissem, e imitassem no caminho da perfeição, e vida monacal, a quem os naturais daquela comarca (porque a ele lhe foi revelado com luzes do céu, onde jazia o despedaçado corpo de seu santo mestre, a que deu sepultura com singular religião) levantaram templos, e consagraram altares.

- do comentário:
Damos princípio ao Agiológio dos Santos de Portugal com S. Félix (dado que lhe não sabemos dia próprio) por ser o primeiro fundador, e pai da vida eremítica e monacal neste Reino. E suposto que a Igreja Católica chama a S. Paulo de primeiro Ermita, florescendo pelos anos de 300, contudo parece que o faz seguindo a mais universal notícia que há dos que viveram na Thebaida, Egipto e outras províncias Orientais, e não como definição Eclesiástica precisa, de que não houvesse outro nenhum antes em alguma parte do mundo; pois os antigos Breviários deste Reino, não só manuscritos, mais impressos nas lições de S. Pedro de Rates, e com eles todos os Autores que trataram sua vida (que são inumeráveis) afirmam que sendo martirizado a cruéis estocadas, deixando os ministros da maldade o S. corpo envolto em seu próprio sangue, e assim esteve alguns dias, até que um santo Ermita por nome Félix, que habitava naqueles desertos, olhando com atenção da diversas partes, viu por muitas vezes como resplandecentes raios de claridade desciam do céus sobre uma delas, e que ali parava sempre aquela luz. E notando que isto não era o caso, baixou da montanha, em demanda do lugar, onde o resplendor parava, e chegado, viu que aquela claridade divina cercava o corpo do S. Prelado. Maravilhado de tão manifesto testemunho do céu, que certificava quão amigo de Deus era S. Pedro entendeu, que aquela visão lhe mandava desse sepultura a seu santo corpo, e assim lha deu o melhor que pode, não e achando neste piedoso ofício mais que um sobrinho seu, que lhe fazia companhia na vida Eremítica.
O motivo primário que S. Félix teve para se apartar a fazer vida solitária que não constasse foi para mais livremente vocar a contemplação, evitando o túmulo do século, ou se por fugir o ateado fogo da persecução contra os novos professores da lei de Cristo se retiraria do povoado a esta alta montanha, para nela viver, oculto, aguardando que Deus desse paz a sua Igreja. mas de qualquer modo que fosse perseverou muitos anos nesta Angélica vida, e algumas centúrias antes que S. Paulo, pois o nosso Santo floresceu pelos anos 46 e S. Paulo no de 300, como fica dito.

S. Pedro de Rates
S. Félix foi sepultado na mesma Igreja que os fiéis levantaram sobre a sepultura do santo mártir, onde se vê ainda hoje a do santo Eremita, aquém os Portugueses chama S. Fins, e por esta causa as mais das Igrejas antigas que há desta inovação são dedicadas a ele, porque foi sempre costume dos naturais deste Reino dedicarem particulares Igrejas a seus próprios Santos. Porém com a translação das preciosas relíquias de S. Félix Diácono de Girona ao antigo Convento de Chelas junto a Lisboa que os Martirológios trazem ao 1 de Agosto) se perdeu, ou pelo menos confundindo a devoção do nosso S. Felix festejando-o no mesmo dia por se lhe ignorar o próprio. Mas na Ermida de S. Fins situada num alto monte que conserva o próprio nome, de que se descobre amor parte da terra de Fão até Matosinhos está a imagem deste Santo em hábito de Eremita, e dizem per tradição os naturais daquela comarca, que é daquele Santo, que deu sepultura a S. Pedro de Rates, e assim lhe fazem a festa neste dia. Tratam de S. Félix todos os Autores que escrevem de S. Pedro de Rates, que por não alega-los duas vezes se podem ver na vida do dito Santo em 26 de Abril. Por ora só citarei a D. Francisco de Padilha, que na história Eclesiástica de Hespanha, I. C. 16, lhe chama primeiro Eremita. E também António Brandão Cronista mor deste Reino na pág. 3 da Monarchia Lusitana (I 8 c. 32 e I 9 c. 9)
Resta agora darmos notícia desta igreja de Rates, a qual é sagrada, de três naves, de largura, e altura competente, e ao presente é Comenda da Ordem de Cristo; e antigamente foi mosteiro, cujo sítio est´um seco vale desviado de Vila do Conde légua e meia, e por seu respeito se fundou ali a vila de Rates, a qual em outro tempo foi mui principal, pois dela se denominaram os Ratinhos. Esta assolaram por vezes os Castelhanos nas entradas que fizeram neste Reino, e como a terra é geralmente pobre, é hoje coisa de mui pouca importância.
De que Ordem fosse este mosteiro, é mui fácil de averiguar; suposto que os Cónegos Regulares querem que seja da sua; não sei com que fundamento. Que fosse do Patriarca S. Bento não há dúvida, porque disto temos duas provas evidentes. A primeira de Marco Máximo no seu Chornicon pag. 209, o qual referindo os Prelados que se acharam no III Concílio de Toledo traz entre eles: "Sancrus Stepanus Abbas Ratensis Ordinis S. Bebedicti" (de quem trataremos em seu dia 13 de Fevereiro). A segunda do arquivo real 3 do Rei D. Dinis (fol. 94) onde se vê a doação que a Rainha D. Teresa fez aos monges da Caridade da Ordem Clunicense no ano 1100 que nele habitavam, donde consta claramente, que esta Rainha o reedificou no modo que hoje persevera, e dela é o vulto, que ali se conserva em nicho, vestindo ao modo antigo, com cetro na mão, e na da Rainha D. Mafalda como querem nossas Crónicas.
No cartório de S. Cruz de Coimbra temos também outras duas provas desta verdade. A primeira no livro velho dos óbitos, onde: 5 Kal. [?] Prior de Rates, e Monachus de Caritate. E. 1300. A Segunda é do livro santo  (pág. 71) em que se relatam as muitas demandas, que o mosteiro de S. Cruz teve sempre com os Monges da Caridade, que moravam em S. Justa de Coimbra: onde a palavra Monges numa e noutra parte, exclui a de Cónegos, além de que não parece haviam de ter demandas tão travadas, se não foram de tão diversas Religiões.
 

b) Abade santo de Vilar: Em Vilar de Frades território de Barcelos o admirável rapto de um S. Abade daquele convento (cujo nome dado que a nós oculto, está escrito no livro da vida) varão de angélica pureza, e estremada santidade, o qual meditando um dia naquelas palavras do Salmista: Mille anni ante oculos tuos tamquam dies hesterna, quae praeteriit. Levado da contemplação da pátria celestial, para de todo se entregar a ela, partiu de seu convento ao romper d'alva para um ameno, e deleitoso bosque vizinho, no qual de repente, eis que lhe aparece uma ave de notável formosura, que cantava suavíssimamente, a qual voando de uma a outra parte o levou após si, até penetrar o interior do deserto, onde parou; e ele sentado à sombra de uma árvore, roubado, e suspenso de tão suave melodia esteve por espaço de setenta anos, que Deus o conservou naquele estado (...).

- do comentário:
Foi o Mosteiro de S. Salvador de Vilar de Frades, fundação de S. Martinho Damiense, debaixo do hábito e regra de S. Bento. Está situado na margem do rio Cávado, em lugar mui fresco, e delectável no Arcebispado de Braga, e assim podemos com verdade chamar a D. Godinho Viegas seu reedificador, posto que nome de fundador lhe dá o Conde D. Pedro tit. 52. Floresceram em seus claustros grandes servos de Deus nos primeiros séculos da Religião, entre os quais se avantajou a todos o Abade santo de que falamos, o qual teve sua sepultura no claustro, e nela de meio relevo esculpida sua figura com o Passarinho na mão em memória de tão maravilhoso sucesso. Porém desamparando este domicílio os Monges por causa das pestes, fez dele doação o Arcebispo de Braga D. Fernando da Guerra (ano 1439) ao Venerável M. João fundador da Sagrada Congregação de S. João Evangelista neste Reino, anexando-lhe o mosteiro de S. Bento da Várzea, que dista meia légua de Barcelos, com mais doze igrejas. Depois o Arcebispo D. Luís Pires lhes anexou mais Sta. Maria de Góis, e ultimamente o Papa Nicolau V o Mosteiro de Manhete, também da mesma Ordem de S. Bento, fundações todas três de S. Martinho.

Igreja do Mosteiro de S. Sa.vador, em Vila de Frades (Portugal)
Tomando posse deste Convento Mestre João, vendo os muitos milagres que Deus obrava por este seu servo com a terra de sua sepultura, e a pouca decência com que estava, determinou colocar as santas relíquias na Igreja para serem dos fiéis mais veneradas (o modo, e ano diremos em 21 de Setembro, em que se fez esta translação) mas o mesmo foi transferirem-se elas à Igreja, que perder-se totalmente esta tão notável memória, como sucedeu a outras muitas, de que a cada passo nos havemos de queixar. Tratam deste santo Abade o livro intitulado Speculum Exemplorum (dist. 9 c. 65), e dele o refere o Báculo Pastoral (c. 45 pág. 234 exemplo 2), e o Pe. João Rebelo nas adicções à cartilha de M. Inácio (fol. 131), D. Rodrigo da Cunha no Catálogo dos Arcebispos de Braga (I p. c. 73), Fr. Leão de S. Tomás Geral que foi da Religião de S. Bento nos prologómenos que fez às Constituições desta província (c. 3). Finalmente anda esta história manuscrita no tratado que nos deixou o Pad. e Paulo religioso desta Congregação, dos varões ilustres em virtude, que floresceram em seu tempo.

Clausto do Mosteiro de S. Salvador, em Vila de Frades
 
c) B. D. Garcia Martins Maltes: Em Lessa junto da cidade do Porto, partiu para as eternas moradas o B. D. Garcia Martins, cavaleiro da mui ilustre milícia, e sagrada Religião de S. João Hierosolimitano [gentilício de Jerusalém], o qual sendo Português, e homem de vida santíssima, mereceu por suas heroicas proezas na guerra, e virtudes na paz, ser nela Bailio, e Grão Comendador, não somente em Portugal, mas em outros quatro Reinos de Hespanha, cujo santo corpo sepultado na Igreja do convento da dita Ordem em Lessa, foi por largo tempo, com grande frequência, e devoção visitado, e venerado dos fiéis daqueles contornos, ordenando a divina providência, honrá-lo depois da morte com a prerogativa de muitos milagres em testemunho de sua abalizada santidade.

- do comentário:
O corpo de B. D. Garcia Martins descansa na Igreja de Lefta, a qual tomou o nome do rio, que por ela passa, tendo seu nascimento além do Monte Corua. Fpoi antigamente mosteiro de Templários. Nela viveram depois Clérigos, Freires de Malta em comunidade; e hoje é Comenda, e Bailiado da mesma Ordem, edifício magnífico, que tem couto de jurisdição civil; a terra, e sítio é fresquíssimo, e tem com as Igrejas anexas mais de quinhentos vizinhos. Neste mosteiro recebeu ElRei D. Fernando por mulher a Rainha D. Leonor como diz a sua Crónica.
Faleceu este santo Cavaleiro pelos anos 1306. Consta de seu Epitáfio em Latim bárbaro daqueles tempos, e é o seguinte:

E. M.CCCXLIIII IN IESU XPI.
fide decessit in Reyno Fratri Domini Garcia Martini, gloria nostra Comendatori dos cinco Reynos de Hespania in coelico.

Os cinco Reinos de Hespanha de que foi Comendador, são Castela, Leão, Portugal, Aragão, e Navarra. Enganaram-se os Cronistas desta Ordem, dizendo que faleceu no ano 1286, pois do epitáfio consta o contrário. Além disto temos três escrituras originais, as quais todas mostram viver em Junho de 1302. A primeira do livro DelRei D Dinis (fol.20) o qual faz doação a D. Garcia da Igreja de S. Pedro de Baças no Arcebispado de Braga. A segunda se acha no l. 5 do mesmo Rei (fol. 32) onde D. Garcia confessa que o dito Rei fizera recompensa a ele e à sua Ordem das terras que lhe tomara para fundação de Vila Real no termo de Panoias. A terceira, e última e do terceiro livro da leit. nou. do cart. de e de Lisboa (fol.83) em que se refere uma composição entre ele, e o Bispo D. João sobre controvérsias, que traziam cerca de várias Igrejas, e com isto nos parece que temos provado contra os Autores que (mal advertidos) afirmam morrer o Beato D. Garcia no ano 1286 que são a maior parte dos que abaixo alegamos.
A temperatura que contem os epitáfio num monumento de pedra, que sustentam três leões no meio da Igreja, o qual cobre um pano negro com Cruz da Ordem. E sua imagem se vê de pintura no altar de S. João da invicta cidade de Malta entre outros Santo da Religião. É o nosso invocado dos moradores da comarca de Lessa, que o vêm ainda hoje visitar, e venerar o seu sepulcro com nome de Homem Santo, ou Homem Bons de Lessa se bem que antigamente era muito mais frequentado, pois a Infante D. Filipa, filha do Infante D. Pedro, e neta do DelRei D. João I, indo em romagem a Santiago de Galiza, foi também visitar as relíquias deste S. Cavaleiro, acompanhada de muita nobreza, e da maior parte dos Prelados do Reino, e ali com devoção se deteve uma novena, por causa de um célebre milagre, que o Santo obrou neste tempo num aleijado, de que se passaram autênticos instrumentos.
Tratam sua vida Abraão Bzevio no Annaes Ecclesiasticos (tom.13 ano 1286), Jacome Bozio nas Crónicas Gerais da Ordem (em italiano, l. 10) e no Compêndio dos Santos (da mesma pág.99), D. Fr. João Agostinho de Funes na Crónica de Malta (l.1 c.26),  Fr. Domingos Maria nos Triunfos da mesma Religião (l.2 c.4), Jerónimo de Marulha, dos Mestres da Ordem (pág.23), António de Sousa de Macedo no livro intitulado "Flores de Hespanha" (c. II excel 2) Faz dele também menção em dois lugares de suas antiguidades o Doutor João de Barros (pág.18 e 48). O mesmo traz M. António no seu Sumário que nos deixou, de entre Douro e Minho, ambos em livros m. s. se bem inadvertidamente contra a torrente de tantos escritores lhe chamam Joanne, sendo seu verdadeiro nome Garcia, como fica dito.
 

d) Sór Catarina Vaz, franciscana: Em S. Clara de Vila do Conde a muita religiosa Sor Catarina Vaz, tão observante da regra, amiga do choro, e pontual nas comunidades, que vindo uma noite tarde a matinas por haver adormecido, a tempo que na claustra ouviu entoar aquele verso: Te ergo quae sumus tuis famulis subveni, quos pretioso sanguine redemisti. O qual por louvável costume desta santa província as religiosas cantam de joelhos com as mãos postas; quando subitamente viu romperem-se os céus, e prostrarem-se os angélicos espíritos diante do trono da Majestade divina, repetindo o mesmo verso com grande reverência, donde ficou o santo costume na dita Ordem de dizer-se ele com maior solenidade. Faleceu pois esta serva de Deus de idade de centro e seis anos, gastados todos em louváveis, e santas obras, estando rezando as horas canónicas com outra religiosa de aprovada vida, a qual ela disse, dando princípio a hora sexta: "Madre façamos pausa, que é chegada a de Deus". E levantando as mãos, e olhos ao céu com grande serenidade espirou (para entrar de posse na glória perdurável) com admiração das circunstantes.

- do comentário:
Convento de Sta. Clara, em Vila do Conde

Na foz do rio Ave da banda do Norte, quatro léguas do Porto, está a Vila do Conde, ilustre pelo mosteiro de Feriras da Ordem de S. Clara, que a enobrece, ao qual deram princípio D. Afonso Sanches filho DelRei D. Dinis fora do matrimónio (o que teve as diferenças com o Príncipe D. Afonso) e sua mulher D. Teresa Martins filha do Conde D. João Afonso de Meneses, Senhor de Albuquerque, nesta de D. Sancho III Rei de Castela (ano 1318). Estes Príncipes pretendendo fazer um Castelo para defesa daquelas partes (como Senhores que eram da dita vila) sonharam que o fizessem com a escada para o céu, e entendendo o que Deus lhes queria significar com este sonho, fundaram este Convento, a quem deixaram esta vila, e outros lugares deporte, que possuíram as Religiosas dele muitos anos. No que floresceu de seus princípios o rigor da regular observância, e penitência, acompanhada de grande pureza de vida, e santidade, de maneira que mereceram suas religiosas ser-lhe revelada a salvação de seus fundadores, e que tiveram quinze anos de Purgatório.


Acha-se escrito nas memórias deste Convento que estando uma noite a Abadessa com algumas freiras em oração depois de matinas, ouviram bater nas sepulturas destes infantes, perguntou a Abadessa que queriam, e responderam: que eles eram os fundadores, que as vinham avisar da parte de Deus, que logo saíssem fora do convento com o preciso que tinham, porque às quatro horas da manhã entrariam nele os Castelhanos inimigos cruéis deste Reino, como na verdade aconteceu; pelo que na própria hora se passaram as Religiosas para o Mosteiro de S. Clara do Cabeçal no Porto, onde residiam dois meses, que os inimigos estiveram nele.


E porque não sabemos se teremos outro lugar de falar nestes infantes nos pareceu bem copiar aqui o epitáfio de seus sepulcros que é o seguinte:

Aqui jaz o muito esclarecido Príncipe D. Afonso Sanches, filho DelRei D. Dinis de gloriosa memória, Rei de Portugal, com a muito excelente Senhora sua mulher D. Teresa Martins, neta DelRei D. Sancho de Castela, primeiros fundadores deste Convento.




 
Referem a celestial visão de Sôr Catarina Vaz com grande estima de sua santidade: Fr. Lucas Waddingo (ad anno 1318, n.44), Gonzaga (pág.3, tít. Prou. Portug. convent. 14), Barezus (pág.4 Cron. . 4 c.40, ano 1565), Valerius de sanct. Foem. Ord. Min. l.4 c.41).



e) Pe. Afonso de Castro, Jesuíta: Em Trenate na Índia Oriental o insigne martírio do Pe. Afonso de Castro natural de Lisboa, a quem S. Francisco Xavier recebeu em Goa na Companhia, e em Maiorca lhe pregou na sua Missa nova, o qual depois de gastar nove anos na conversão das ilhas Maiorcas, em grande serviço de Deus, e proveito das almas, desejoso de dar o sangue por Cristo, se foi à de Ternate, onde preso dos Mouros, depois de o despirem, o ligaram todo com cordas, e lhe penduraram um grande pau ao pescoço, e desta maneira o tiveram cinco semanas, trazendo-o pelas ruas públicas, o que o santo mártir por sua honestidade em extremo mais sentia, além de que o persuadiam, já com ameaças, já com afagos, já finalmente com promessas, a deixar a lei de Cristo, as quais nunca puderam ter entrada em seu invencível peito:pelo que vendo-se os bárbaros frustrados de seu maldito intento, determinaram tirar-lhe a vida com cruel morte; e assim levado ao sacrifício este manso cordeiro, ia dizendo mil amores, e requebros ao cutelo com que havia de ser degolado, pedindo que lho afiassem, pois esta era a morte que sempre desejara; e então posto de joelhos, as mãos, e olhos no céu, depois de recebidas muitas feridas, que sofreu com grande paciência, esperando a última com não menos constância, lhe cortaram a cabeça, e logo aquela vitoriosa alma livre das prisões do corpo, voou gloriosa à triunfante bem-aventurança.
 
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(a continuar)

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