02/10/15

A RESPEITO DA CARTA DO PAPA FRANCISCO E DO SACRAMENTO DA PENITÊNCIA

Depois de um mês passado, contemplada a carta (1 de Setembro de 2015) do Papa Francisco, olhados
os comentários a ela feitos, chegámos ao momento do silêncio. Tudo isto nos mostra um todo do fenómeno: desde o que o Papa disse, à forma como foi entendido e recebido, as reacções diversas, o esquecimento e lembrança posteriores (o que foi retido, o que não foi retido).

Sem comentar o que já tantas outras pessoas bem ou mal comentáram, venho agora notar o que passou mais desapercebido. Recordemos o assunto:

"Por uma disposição minha estabeleço que quem durante o Ano Santo da Misericórdia se acerque aos sacerdotes da Fraternidade S. Pio X para celebrar o Sacramento da Reconciliação, recebam válida e licitamente a absolvição dos seus pecados."

Eis agora a interpretação textual (segundo as académicas regras da boa hermenêutica do texto):

1 - A quem se dirige directamente esta disposição papal? Sem dúvida alguma, destina-se aos fiéis da Santa Igreja ("...que quem durante...").

2 - Com "válida e licitamente", ao contrário de alguns comentários que li, não se está a pretender atribuir validade ou licitude, mas sim a informar os fiéis. Não se pode interpretar o que o texto não permite: que a disposição teria pretendido atribuir validade e licitude aos sacramentos administrados pelos sacerdotes da FSSPX. Obviamente, a validade dos sacramentos administrados pela FSSPX nunca esteve em causa antes, nem agora, contudo raros no mundo são os fiéis que já sabiam disso (e ficam agora tranquilizados).

3 - A autorização do Papa:
- é dada aos fiéis católicos;
- para poderem receber o Sacramento da Penitência administrado por sacerdotes da FSSPX (os quais estão em situação irregular);
- autorização dada para o espaço de tempo que vai desde o primeiro dia do Ano Santo da Misericórdia até ao último dia do mesmo ano.

Lembro que isto, nada mais nada menos,  é a hermenêutica do texto!

Comento agora, para que algum leitor mais distraído não caia em erro: os fiéis católicos que, pelo estado de necessidade se têm valido do serviço dos Sacerdotes e Bispos da FSSPX, assim fazem supostamente com intenção de fugir de violações maiores. O estado de necessidade que cada fiel da Santa Igreja invoque, não desculpa toda e qualquer infracção, mas apenas as mínimas verdadeiramente "obrigatórias", respeitando e promovendo o inviolável. Ou seja, para lá das disposições que o Papa possa dar aos fiéis relativamente a recorrerem à FSSPX, existe também um estado de necessidade que autoriza, e noutros casos obriga todos os fiéis católicos em não poucas coisas.

4 comentários:

Anónimo disse...

caro Ascendens, não acha que o Papa tinha em principal intenção a FSSPX? Não acha!?

anónimo disse...

Abstive-me de julgar intenções, apenas mostrei o que está expresso no texto.
Pedro Oliveira.

Anónimo disse...

caro Ascendens,

é interessante a forma como descortinou o assunto. Este tema foi muito polarizado, ora pela Fraternidade S. S. Pio X, ora pelos da "Resistência". Um padre da fraternidade chegou a opinar que isto tinha sido uma forma disfarçada de fazer participar a fraternidade no Ano da Misericórdia, e os da "resistência" acusam o superior da fraternidade porque na seu comunicado teria implicitamente aceite que o Papa lhes desse validade a um sacramento totalmente válido. Afinal, a realidade é diferente, mas ficou confusa no meio das reacções a ela.

Muito agradecido pela clarificação que vem dar do texto tal como ele é. Não acha que este comunicado do Papa foi a pensar na Fraternidade?

Cumprimentos de um simples mas preocupado católico.

anónimo disse...

Caro anónimo,

obrigado por comentar. Agradeço a sua gentileza, e aproveito para convidar a todos a identificarem-se (os que não tiverem conta, pelo menos, podem colocar o nome manualmente).

Não posso comentar a intenção do Papa, não a sei! Infelizmente hoje, pelo que vemos nos meios de comunicação social, interpretam-se "intenções", tudo se faz subjectivo até que se tonrne aceite por maioria (e assim se faz "realidade"). Na tentativa que fiz no artigo: apenas tento mostrar o que o texto tem, e libertá-lo de suposições.

Sim, é impossível achar que o Papa não tenha pensado na FSSPX nessa acção... Pensou, obrigatoriamente. Não se pode pensar de outra maneira. Mas,como digo no texto, DIRECTAMENTE a mensagem vai para os católicos em geral (é simples). Os alarmes que foram dados durante um mês, afinal, não são necessários (estes pelo menos, não).

Volte sempre.

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