07/08/15

O "CARDEAL ALPEDRINHA" - D. JORGE DA COSTA

"D. Jorge da Costa, natural de Alpedrinha [Fundão], bispado da Guarda, onde nasceu no ano de 1406, começou a elevar-se sob protecção da Infanta D. Catarina, filha de D. Duarte, e obteve cargos ou dignidades dentro e fora do Reino, tais e tanto, que de nenhum outro eclesiástico a história geral da Igreja faz menção a semelhante respeito.

Nas memórias eclesiásticas da Igreja do Algarve, lê-se: "subiu este célebre varão, por sua muita autoridade, e respeito, às mais altas dignidades da Igreja, de sorte que não há memória entre os homens de que algum outro gozasse ao mesmo tempo, ou sucessivamente, de tantas dignidades e empregos, nem de tamanha privança como ele teve com ElRei D. Afonso V. Na colecção da Academia Real de História, falando deste Cardeal (ano de 1725, Catálogo Histórico dos SS. Pont. e Cardeaes a pag. 8), se diz, que voltando a Portugal, de seus em Paris, foi Arcipreste da Colegiada de Santarém, Mestre Capelão da Infanta D. Catarina filha DelRei D. Duarte, e irmã de D. Afonso V. Deste rei foi confessor, e do seu conselho: Deão das Sés de Lisboa, Braga, Guarda, Porto, Lamego, Viseu, Silves, e Burgos, com o seu chantrado. Teve oito abadias da Ordem de S. Bento, dez dos Cónegos Regulares de Santo Agostinho, seis da Ordem de S. Bernardo, em que entra a de Alcobaça. Foi Dom Prior de Guimarães, Bispo de Ceuta, Silves, Porto, Viseu e Évora, Arcebispos de Braga e de Lisboa, além de outros grossos benefícios, que teve fora deste Reino. Em 18 de Dezembro de 1476, por súplica DelRei D. Afonso V, foi pelo Papa Sisto IV criado cardeal dos títulos Pedro, Marcelino, depois teve o título de Santa Maria Trans Tiberim, Inocêncio VIII lhe deu o título de Bispo Albanense [de Albano] no ano de 1481; Alexandre Vi o fez Bispo Tosculano em 1501, e em 1503 lhe deu o Bispado portuense, e o título de Cardeal de Santa Rufina. Fez grandes benefícios a seus irmãos, parentes e criados.

No Agiológio Lusitano (tomo II, dia 9 de Março, pag. 116), nos comentários se acrescenta a todos estes empregos, os que teve fora do Reino, a saber: um benefício em Roma na igreja de Santa Maria Trans Tiberim, que é título de Cardeal de rendas, e coleção de benefícios; uma abadia em Veneza, e outra, única, que há em navarra, a vila cercada de Aspanica com a sua renda e jurisdição; e outro sim foi decano do Colégio Apostólico, legado de Veneza e Ferrara, não fazendo menção de muitas igrejas particulares, e opulentíssimas em rendas, e de outros benefícios que teve, e deu neste Reino e fora juntamente em sua vida sem haver quem lho contradissesse, se bem que alguns anos antes que morresse, tinha renunciado quase tudo: o Arcebispo de Lisboa em D. Martinho da Costa, e o de Braga em D. Jorge da Costa, seu meio irmão, e o do Porto em D. Diogo da Costa, e por morte deste em D. Pedro, ambos seus sobrinhos, a abadia de Alcobaça em D. Jorge de Melo, etc.

Todas aquelas rendas gastava ele, diz o autor de Évora Gloriosa, no culto divino, e no remédio dos pobre, sendo o seu palácio o asilo dos mendigos, e o propiciatório dos necessitados.

Teve votos para Papa. E em sua vida mandou fazer a sepultura, em que se havia de enterrar, na capela de Nossa Senhora de Populo, em Roma, na qual pôs este modesto epitáfio:  

Georgius Episcopus Albanensis
Cardinalis Olysiponensis,
Dum se mortalem animo volvit, vivens
Posuit:

Morreu em 19 de Setembro de 1508 aos 102 anos de idade."

(História da Igreja Católica em Portugal, Tomo VI. José de Sousa Amado, 1873)

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