11/08/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (XCIII)

(continuação da XCII parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO

Thomas de Kempis

IV Livro
O Augustíssimo Sacramento do Altar


Cap. VII
O Exame de Consciência e o Propósito de Emenda

1. Cristo – É necessário que no sacerdote de Deus, que deseja celebrar, consagrar ou receber este santo mistério, procure, primeiro que tudo, chegar a Ele com o coração sumamente humilde e como o mais profundo respeito, fé viva e uma intenção tal que não tenha outro fim senão a honra de Deus.
Examina a tua consciência com todo o cuidado; purifica-a, quanto possível, por uma verdadeira contrição e humilde confissão, sorte que não tenhas nem vejas nela coisa que te cause algum remorso ou te prive de chegar com liberdade a receber tão grande bem. Concebe um vivo arrependimento de todos os teus pecados em geral e dói-te, ainda mais, dos teus defeitos quotidianos. Se o tempo te permitir, confessa a Deus, no segredo do teu coração, todas as misérias a que te reduzem as tuas paixões.
 
2. Mostra, pelas tuas preces, a pena que tens de ser ainda tão carnal e mundano; tão pouco mortificado nas paixões; tão cheio de desejos desordenados; tão negligente na guarda dos sentidos; tão perseguido de perniciosas imaginações; tão inclinado às coisas sensíveis; tão pouco cuidadoso de entrar no interior de ti mesmo; tão fácil para o riso e a dissolução; tão duro para a compunção e as lágrimas; tão pronto para as lassidões e comodidades do corpo; tão vagaroso para o fervor e a austeridade; tão curioso para ouvir as novidades e contemplar coisas belas; tão indisposto para abraçar as coisas humildes e desprezíveis; tão ardente no desejo de possuir muito; tão moderado para o dar; tão avarento no reter; tão indiscreto no falar; tão inobservante do silêncio; tão pouco regulado nos costumes; tão pouco circunspecto nas acções; tão desordenado no comer; tão surdo às vozes de Deus; tão pronto para o descanso; tão preguiçoso para o trabalho; tão vigilante para ouvir anedotas e fábulas; tão sonolento para as sagradas vigílias; tão apressado para acabá-las e tão distraído para atendê-las; tão negligente nas rezas das horas diurnas; tão tíbio na celebração do santo sacrifício; tão seco na santa comunhão; tão fácil em distrair-se; tão difícil em recolher-se; tão ligeiro em irar-se; tão disposto a desprezar os outros; tão precipitado nos juízos; tão severo nas repreensões; tão alegre nas prosperidades; tão triste nos infortúnios; tão fecundo em resoluções, mas tão estéril em transformá-las em actos.
 
3. Depois de haver confessado e chorado estes e outros semelhantes defeitos, com grande dor e arrependimento, resolve, firmemente, emendar a tua vida e esforçar-se por ser cada vez melhor. Em seguida, entrega-te a mim. Com resignação completa e inteira vontade, oferece-te, para glória do meu nome, sobre o altar do teu coração, como um holocausto perpétuo, cometendo-me, fielmente, o seu cuidado do teu corpo e da tua alma, a fim de que possas chegar dignamente a Deus, ou para Lhe oferecer o sacrifício, ou para receber utilmente o sacramento do meu corpo.
 
4. Não há oferta mais digna, nem satisfação maior, para apagar os pecados, do que oferecer-se a Deus no sacrifício, ou para comunhão, com intenção pura e perfeita, ao mesmo tempo que o meu corpo e o meu sangue são oferecidos ao pecador arrependido.
Se o homem fizer o que lhe cumpre, da sua parte, e na verdade se arrepender, todas as vezes que se chegar deste modo a mim, pedindo a graça e o perdão, juro, por mim mesmo, que não quero a morte do pecador, mas que se converta e viva, pois não me lembrarei mais dos seus pecados, antes lhos perdoarei todos.

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