14/02/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (LVII)

(continuação da LVI parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

III Livro
A Fonte Das Consolações

Cap. XX
Da Confissão das Próprias Fraquezas e das Misérias Desta Vida

1. Alma - Senhor, eu vos confesso todas as minhas ofensas e também as minhas fraquezas.
Muitas vezes um nada me abate e me entristece. Proponho-me ser forte, mas, tanto que me investe a tentação, fico logo angustiado.
Algumas vezes, é bem vil a origem de uma grave tentação.
Quando me julgo assaz seguro, porque não vejo o perigo eminente, eis que me acho derrubado por um ligeiro sopro.

2. Lançai, pois, Senhor, os Vossos olhos sobre a minha baixeza e sobre este abismo de fragilidade que há em mim e que Vós conheceis muito melhor do que eu.
Compadecei-Vos da Vossa criatura e tirai-me do meio deste lodo, para que nele não fique submergido.
O que de contínuo me atormenta e confunde na Vossa presença é ver que sou tão fraco, tão enfermo, para resistir às minhas paixões. Ainda que a Vossa graça me livre de consentir nelas, contudo aflige-me vivamente ver-me delas sempre combatido.
Enfastia-me já o viver nesta guerra interior que não acaba. O que descobre mais a minha fraqueza é que os pensamentos ignominiosos, que me acometem, entram em mim mais facilmente do que saem.

3. Ó fortíssimo Deus de Israel, zelador das almas fiéis, ponde os Vossos olhos nos trabalhos e dores do Vosso servo e dai-lhe assistência em tudo o que ele empreender.
Animai-me, infundindo-me uma força celeste, para que esta carne, ainda rebelde ao espírito, não me domine e para que eu possa pelejar contra ela em todo o tempo desta miserável vida.
Vida infeliz, na verdade, em que se encontram tantas atribulações e misérias e onde tudo se acha enredado de armadilhas e repleto de inimigos que a cercam por todos os lados.
Ainda uma atribulação não é passada, já outra está connosco. Mal saímos de um conflito, temos outro pela frente, sem que o suspeitássemos.

4. Isto considerado, como pode ser amável uma vida tão cheia de amarguras e sujeita a tantas misérias e calamidades? Como pode ela chamar-se vida, sendo um oceano de pestes e de mortes? No entanto, muitos a amam, e trabalham por descobrir nela as suas delícias.
O mundo esta cheio de enganos e vaidades; porém, os que o acusam dificilmente o deixam, por causa do grande império que a concupiscência carnal exerce sobre a alma.
Assim nos achamos atraídos por duas forças: uma que nos leva a amar o mundo, outra que nos convida a aborrecê-lo. De um lado, os atractivos da carne, os divertimentos dos olhos, a soberba do século, incitam-nos a que o amemos; do outro, as horrorosas misérias que acompanham tais deleites, e que são o seu justo castigo, no-lo fazem insuportável.

5. Mas ai!, o amor do mundo triunfa das almas de muitos e estes se deleitam nos espinhos que os penetram, porque não conhecem nem gozaram jamais a suavidade de Deus, nem a beleza interior da virtude.
Os que renunciaram ao mundo e trabalham por viver segundo Deus, não ignoram a doçura que é concedida aos verdadeiros desprezadores do século, conhecendo o erro e a ignorância dos que o amam.

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