17/02/15

IMITAÇÃO DE CRISTO - Thomas de Kempis (LIX)

(continuação da LVIII parte)

A IMITAÇÃO DE CRISTO
Thomas de Kempis

III Livro
A Fonte Das Consolações

Cap. XXII
Os Inumeráveis Benefícios de Deus

1. Alma - Senhor, abri o meu coração à Vossa lei e ensinai-me a andar na observância dos Vossos preceitos. Fazei que eu conheça a Vossa vontade; que considere, com grande atenção e diligência, os benefícios, tanto gerais como particulares, que me tendes feito, a fim de que possa por eles dar-Vos as devidas graças.
Sei e confesso que não sou capaz de agradecer dignamente o menor desses dons. Reconheço-me infinitamente inferior a todos os bens que fostes servido fazer-me; e, quando considero o quanto sois superior a mim, fico como que oprimido debaixo do peso da Vossa grandeza.

2. Tudo o que possuímos na alma e no corpo, todos os bens internos e externos, naturais e sobrenaturais, são outras tantas graças e favores que nos tendes feito e outros tantos argumentos que provam a Vossa beneficiência, piedade e bondade, e que mostram, ao mesmo tempo, que sois a fonte de todo o bem que recebemos.
Não há dúvida de que uns recebem mais benefícios e outros menos, mas todos são Vossos e sem Vós ninguém pode possuir o menor dos bens.
Aquele que tem recebido maiores dons não pode gloriar-se de que os mereceu, nem elevar-se sobre os seus semelhantes, nem insultar o que teve menos; porque o maior e o melhor é aquele que menos atribui a si e que é mais humilde e devoto em ser-Vos agradecido. O que se julga mais vil e indigno de todos é o mais capaz de receber maiores dons.

3. O que receber menos favores não deve entristecer-se, nem indagar-se, nem invejar os que receberam mais; antes deve considerar e louvar a Vossa bondade, que reparte, sem distinção de pessoas, os seus dons, com abundância tão liberal e tão gratuita.
Tudo vem de Vós e por isso em tudo deveis ser louvado. Vós sabeis o que convém dar a cada um.
A Vós, e não a nós, pertence discernir porque um é mais favorecido e outro menos. Porque somente Vós tendes a medida dos merecimentos de cada um dos homens.

4. Por isso, meu Deus e meu Senhor, creio que me fazeis um benefício especial em não me conceder aquela abundância de graças que, brilhando externamente, atraem os louvores dos homens.
Assim, todo aquele que se vê destituído destes favores, bem longe de entristecer-se, deve consolar-se; porque Vós, Senhor, elegestes, para Vossos familiares e domésticos, os pobres e os humildes e os desprezíveis segundo o mundo.
Testemunhas me sejam os Vossos apóstolos, feitos por Vós príncipes de toda a Terra. Eles viveram entre os homens sem se queixarem das maiores afrontas que recebiam. Foram tão humildes e tão simples, tão isentos de malícia, que punham a sua maior alegria em sofrer os maiores ultrajes para glória do Vosso nome, e em abraçar com afecto divino tudo aquilo que o mundo aborrece.

5. Nada deve alegrar tanto a quem Vos ama e vive no reconhecimento dos Vossos benefícios, como fazer-se nele a Vossa vontade, executando-se em si as Vossas eternas disposições.
Esse prazer deve ser tão grande que o objecto das disposições divinas procura ser o mínimo, do mesmo modo como outro procure ser o maior; e acha tanta felicidade em ocupar o último assento quanta acharia em ocupar o primeiro; e apetece ver-se tão desprezado e desconhecido de todos como  os ambiciosos gostam de ser reconhecidos e adorados por todos.
A Vossa verdade e o amor a Vossa glória devem elevar-se no espírito humilde acima de tudo e isto deve consolá-lo ainda mais do que todas as graças que tem recebido ou pode receber futuramente de Vós.

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