09/02/15

EVANGELIZAÇÃO PELOS PORTUGUESES - AGIOLÓGIO LUSITANO (II)

(continuação da I parte)

Advirto de passo, que os primeiros pregadores, que anunciaram a luz do sagrado Evangelho nas Canárias (depois de descobertas) foram portugueses, que lá passou logo o Beato Tadeu, frade agostinho, que pelo admirável fruto que fez na conversão e doutrina de seus moradores adquiriu o nome de Canário, com que é intitulado (como Cipião o de Africano pelas vitorias que alcançou em África) sendo o santo natural de Lisboa. Nelas havia já prégado, e padecido martírio S. Avito há mais de 1540 anos, pois foi no de Cristo 105. Estas ilhas se largaram depois da concordata a Castela, por cairem na sua demarcação.

Ilhas Canárias
Temos mais em confrontação da consta de África os bispados da ilha da Madeira, e Terceira, que sendo desertas, os nossos povoaram de Cristandade; daquela foi primeiro Bispo D. Diogo Pinheiro, Vigário de Tomar, nomeado por ElRei D. Manuel, e a sua instância, confirmado por Leão X, ano de 1514. Desta o Pe. Agostinho Ribeiro, frade loio, designado por ElRei D. João III, e confirmado por Paulo III, ano 1534. Uma, e outra Diocese tem de seu princípio Religiosos menores; os da Madeira, que são três de frades, e um de freiras, sujeitos à Província de Portugal; os da Terceira (que ano 1639 se desmembrou da dos Algarves) formam uma dilatada Província, intitulada de S. João Evangelista, compreende hoje 14 conventos de frades, e 6 de freiras (de mais de outros tantos sujeitos ao Ordinário) a cabeça de todos é N. Senhora da Guia na cidade de Angra. Nela, em S. Miguel, e Madeira têm colégios a Companhia de Jesus, onde estes religiosos exercitam seus santos ministérios, em ordem à salvação das almas.

Seguem-se as de Cabo Verde com seu primeiro Bispo D. Brás Neto, erecto no ano 1533. Nelas prégou o Pe. Baltasar Barreira da Companhia com admirável fruto, pois trouxe ao grémio da Igreja Católica inumeráveis gentios, que converteu, e baptizou, e entre eles a dois Reis: o da Serra Leoa e o de Tora. Após este o de S. Tomé eleito muito antes, na pessoa de D. Digo Ortiz de Vilhegas, cuja jurisdição por muitos anos se estendeu a todo o Reino do Congo, e como o principal fim dos descobrimentos dos Sereníssimos Reis de Portugal foi a conversão da gentilidade, e propagação do sagrado Evangelho, tanto que os nossos descobriram este Reino, mandaram logo pregadores, que o instruíssem nos mistérios de N.S. Fé; e seu Rei (movido por divina inspiração) foi as primícicias, que os nossos converteram naquele Reino no ano 1491. Em prova de sua conversão mandou este, D. Henrique, seu filho, com alguns vassalos seus, que aprenderam a doutrina Cristã e sagradas letras no mosteiro de S. Eloi de Lisboa, onde residiram 13 anos com grande exemplo e louvor. E feitos Sacerdotes, renunciou D. Diogo Ortiz o Bispado de S. Tomé no dito Príncipe D. Henrique. Tornado à pátria, seu pai o mandou a Roma no ano 1513 acompanhado de outros senhores, e fidalgos de seu Reino a dar obediência ao papa Leão X esujeitar à Sé Apostólica ceptro e coroa. E por ser Bispado de S. Tomé mui dilatado, e constar ao Papa Clmente VIII que havia 128 anos, que em Congo se conservava a Fé, depois que os nossos ali a pregáram, à instância o Prudente no ano de 1590 se desmembrou daquele Bispado o de Congo (que hoje separado se chama de Angola) em que o primeiro eleito foi D. Fr. Miguel Rangel, Capucho da província de Sto. António. Todos estes Bispados ultramarinos são sufragâneos à Metrópole de Lisboa. E tornando aos primeiros prégadores, que foram a S. Tomé, e Congo, achamos serem Monges de S. Bernardo do convento de Alcobaça, depois os Franciscanos, e Dominicanos, seguiram-se os Loios, e Gracianos, e os Padres da Companhia, e Carmelitas descalços, e ultimamente os Terceiros de S. Francisco, que todos têm feito copiosa sementeira para os celeiros da Igreja na conservação das almas, acabando os mais deles gloriosamente nesta santa empresa.

(a continuar)

Sem comentários:

TEXTOS ANTERIORES