18/02/15

ALGUNS AJUSTES PARA O ESTUDO DE D. FR. FORTUNATO DE S. BOAVENTURA

Sobre o Arcebispo de Évora D. Fr. Fortunato de S. Boaventura diz o liberal autor Inocêncio Francisco da Silva:

"D. Fr. Fortunato de S. Boaventura nasceu em Alcobaça à volta do ano de 1778 [seu pai era livreiro da vila]. Professou a Regra de S. Bernardo no Mosteiro de Alcobaça, em 25 de Agosto de 1795. Frequentou, na Universidade de Coimbra, a Faculdade de Teologia, nela se doutorou em 6 de Julho de 1810 [outros autores dizem 8 de Junho de 1811]. Foi professor [regente da cadeira] de História no Colégio das Artes. Em 27 de Agosto de 1831 foi nomeado reformador geral dos Estudos [cargo que até então tinha cabido a D. Francisco Alexandre Lobo, Bispo de Viseu]. Em 29 de Setembro deste mesmo ano, foi apresentado Arcebispo de Évora, e confirmado neste lugar pelo Papa Gregório XVI em 24 de Fevereiro de 1832, e sagrado em 3 de Junho deste mesmo ano [o próprio Rei o tinha nomeado, segundo fez saber, para dar a tão importante diocese um Bispo de grandes virtudes reconhecidas e pessoa digna de muita confiança]. Pouco tempo esteve em Évora. Triunfando a causa de D. Pedro, e "restabelecido" [aspas minhas] o governo constitucional, de cujas doutrinas foi sempre adverso, retirou-se [foi exilado] em 1834 para a Itália, vivendo os últimos anos em Roma, sem conforto e com pouquíssimos recursos económicos [como sempre o fez e faria qualquer bom monge]. Faleceu nesta cidade em Dezembro de 1844, e foi sepultado na igreja de S. Bernardo."

Para que não dê a falsa ideia de que D. Fr. Fortunato tivesse sido abandonado ou esquecido no final da vida, e que esse fosse o motivo da sua vida em pobreza, convirá lembrar que, segundo publicou em 1843 o "Il Mercurio di Roma" o nosso grande português morava no Convento de S. Anderea della Vall.

A biografia é breve porque não conseguiram apagá-la. Que vivas haveriam de querer dar os vencedores liberais a um Monge Arcebispo que durante as invasões francesas escreveu contra elas e contra o que elas representavam? (leia-se o opúsculo "Quando da Infame Conducta de Napoleão Bonaparte para com os Diferentes Soberanos da Europa, desde a sua intrusão no Governo Francês até Junho de 1808")

Em Maio de 1820 Fr. Fortunato foi nomeado correspondente da Academia Real das Ciências, e no ano seguinte nomeado sócio livre. O seu prestígio como historiador profundo e de rigor está também reconhecidos pela nomeação para Cronista da Ordem de S. Bernardo (cargo habitualmente desempenhado por monges que deixaram elevado nome na nossa história).

A grande parte dos sermões proferidos por D. Fr. Fortunato de S. Boaventura, os quais eram proferidos e publicados pela Imprensa da Universidade de Coimbra, foram depois na sua maioria queimados quando a mesma Imprensa foi ocupada pelos liberais (por via da Junta Liberal do Porto); acto do mais invertido critério de censura.

Parte superior da Capela mór da Sé de Évora
D. Fr. Fortunato de S. Boaventura nunca deixou o Arcebispado de Évora, e sempre, como de direito, continuou a agir como Arcebispo de Évora no exílio. Antes da sua partida para Roma, as falseadas novas "autoridades eclesiásticas" sobrepostas por via do ilegítimo governo liberal usurpante violentaram-no a sair da Arquidiocese. Escreveu então duas pastorais aos seus diocesanos a dar conta das ocorrências; uma foi escrita em Pombal a 15 de Setembro de 1833, e a outra em Condeixa a 21 de Outubro seguinte.

Tudo isto é uma pequena mostra para que se entenda porque as biografias que os liberais compuseram são tão reduzidas e pouco claras quando dizem respeito aos seus adversários, e aumentam as páginas aos do maldito liberalismo (pois chegam a colocar diante do Povo estátuas erguidas aos criminosos com o metal roubado de outras tantas estátuas a homens que sempre defenderam o que Portugal sempre defendeu).

Também, para que não se pense que D. Fr. Fortunato de S. Boaventura foi um caso isolado (embora seja personagem peculiar), ou que tivesse uma causa e visão muito originais (coisa que os liberais sempre tentam fazer crer: assim pareceria que a causa não foi nacional, mas sim de um grupo minoritário de indivíduos), devo lembrar ao, no texto transcrito, o liberal Inocêncio Francisco da Silva trata por "retirou-se em 1834 para a Itália" o que na verdade foi exílio forçado. O próprio D. Pedro de Alcântara, em carta a Gregório XVI, em Outubro de 1831, insurge-se contra o reconhecimento dado por Sua Santidade ao Rei D. Miguel, e ameaça que não aceitaria nunca a nomeação dos novos Bispos por D. Miguel. Caso ele tirasse o Rei D. Miguel do Trono, dizia que expulsaria do Reino a tais Bispos como rebeldes e traidores. O que é certo é que, passados alguns meses, o Santo Padre confirma tais Bispos, entre eles D. Fr. Fortunato de S. Boaventura. Assim que D. Pedro usurpou o Trono cumpriu com a ameaça.

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