18/02/15

A CONTRA-MINA Nº 19: A Tripeça Liberal (I)

CONTRA-MINA
Periódico Moral, e Político,

por

Fr. Fortunato de S. Boaventura,
Monge de Alcobaça.

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Nº 19
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O medonho Fantasma se esvaece,
O dia torna, e a sombra se dissipa;
Os Insectos feíssimos de chofre
Entram no poço do afumado Inferno:
Eternamente a tampa se aferrolha.
No meio do clarão vejo no Trono,
Cercado de esplendor, MIGUEL PRIMEIRO.
(Macedo, Viagem Estática ao Templo da Sabedoria, pág. 141)
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A Tripeça Liberal

Ninguém há de dizer,ou adivinhar facilmente, o que seja este Número, que em meu conceito é o mais terrível, que tenho escrito contra a Maçonaria. ora vejamos se assim é ou não. Uma tripeça, como indica o seu próprio nome, consta de três pés, e os que eu chamo de tripaça Liberal, são estes:

1º Pé - O Cidadão Mirabeau;
2º Pé - O Cidadão Volney;
3º Pé - O Cidadão Benjamin Constant.

Se fosse possível, que os Maçons Portugueses deitassem ao menos um rabo de olho para este misérrimo Periódico, estou certo que ao verem tais nomes, ficariam transportados de gosto, e mui pagos de tão oportuna lembrança. Mirabeau, o digno Mestre das revoluções modernas, o tipo de Fernandes Tomas! Volney, o preconizado Mestre da Nação Portuguesa, cujos batanetes Procuradores deixaram sair na Gazeta Oficial um pomposo anúncio das Ruínas postas em linguagem! Benjamin Constant, o autor moderno mais dilatado dos Maçons, o seu desperdiçado, o seu Benjamim! Que pedreiro haverá neste Reino de Portugal, e Algarves, que não seja tentado a beijar humilde, e respeitosamente ao menos o pescoço, onde se escreveram tais nomes, para cujo mister se deveriam procurar expressamente letras iluminadas, cujo brilho nos mostrasse uns longes desse clarão, que os mais conspícuos ilustradores da espécie humana derramaram por toda a circumferência da terra!

Vejam pois se eu sei escolher as autoridades, ou não; e pr ver que são estas absolutamente irrecusáveis, é que me atrevi a explorar as doutrinas de tão egrégios, e campanudos varões; porque me lembrou, que só eles poderiam varões; porque me lembrou, que só eles poderiam convencer alguns Portugueses, que mais facilmente acreditam, que há bruxas, do que na existência de Pedreiros Livres.

Mirabeau
Começando por Mirabeau, deve-se notar, que este Corifeu da Revolução Francesa [diria "Revolução na França"] residiu algum tempo em Berlim, onde apesar de que não era o Embaixador Francês, tinha muitos ares deste Olheiro, para cujo desempenho escrevia repetidas vezes ao Ministro Francês daquela Época. Divulgou-se esta correspondência em 1789, sem a mais leve nota de Cidade, ou lugar de impressão, mas é sabido, que foi em Alençon, e que a obrinha deu muito grande brado, por seu muito análoga à situação actual da França. O Grande Historiador Filippe de Comines afirma, que um Embaixador é sempre um espião honrado; o caso é, que ou Mirabeau fosse espião honrado, ou malévolo, como era mais do seu génio, e carácter, não é todavia de presumir, que sendo ele ávido por extremo de honras, quisesse enganar torpemente a sua Côrte, expondo-se por esse modo a ser apanhado em mentira, e a perder as boas gages do seu Ofício.... Participa ele em diversas cartas o progresso, que fazia em Berlim a Seita dos Iluminados, a que pertenciam os Secretários de Estado, e até os Principais de Sangue Real, havendo nesta Classe um de tal peso, e consideração para a Irmandade, que esta, por agradecida a seu Protector, lhe dava anualmente uma pensão de seis mil escudos!!! Ora estes factos não são verdadeiros, porque Mirabeau os contra; são verdadeiros, porque não há História de causas, ou de Pessoas da Côrte de Prússia, durante o Reinado dos Fredericos, Tio, e Sobrinho, que os não confesse de plano; e assim descobre-se mui facilmente o principal motivo, porque Bonaparte, dentro de uma semana desmanchou, e arrasou a obra de Frederico o Grande, e fez murchar os laureis de seus antigos Generais. Deixando de propósito muitas espécies tão curiosas, como instrutivas, para que não se diga, que eu me proponho insultar as Testas Coroadas, só aproveitarei o que Mirabeau nos conta dos projectos, e destinos da Maçonaria, e se lê na Carta 52, escrita em Berlim a 2 de Dezembro de 1786 a pág. 106 do 2º Tomo da Obra citada:

(a continuar)

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