20/01/15

FLORES DE HISPANHA, EXCELÊNCIAS DE PORTUGAL (XVII)

(continuação da XVI parte)

Em fecundidade não dão vantagem em Portugal os animais àquele fatídico tratado por Virgílio, que trazia consigo trinta filhos. Quatrocentos mil bois, e vacas sustentam a província de Entre Douro e Minho (ainda que Gaspar Estaço as ponha em menor número) e mais de um milhão de ovelhas, carneiros, e outros gados miúdos deste tipo, segundo Duarte Nunes no dito lugar, e sobre esta carne escreve Marco Varron (g) que um Atílio Romano, de muita erudição e verdade, que residia na Hispânia, contava que na Lusitânia ulterior (que devia ser ao que hoje chamamos de Alentejo, ou mesmo no Algarve) se matou um porco do qual foi enviado um pedaço a Lúcio Velumnio Senador Romano, que andava pela Hispânia, o qual pedaço era formado somente de duas costelas e pesou vinte e quatro libras, porque do coro até ao osso tinha um pé e três dedos de alto. Isto pode ser acreditado, tal como respondeu Marco Varron, que ele sabia certamente que na Arcádia, província grega no Peloponeso viu-se uma porca tão grande que não só não se podia levantar do chão, mas que um rato lhe comeu um pedaço do couro e carne, e ali fez ninho no qual ficou com seus ratinhos, sem que a porca por muito corpulenta ser, e grossa, os pudesse espantar.

Que as terras que em Portugal que são regadas pelo Guadiana dão gado em tudo muito excelente, que outras muitas, testemunha-o Rei D. João I de Castela pelo que ordenou na cidade de Toro no ano de 1406, que são do nascimento de Cristo o ano 1378, que nenhum boi fosse vendido em Castela por mais de 180 maravedís, a não ser que fosse da ribeira do Guadiana, porque neste caso poderia ser vendido por 200 maravedís. (h)

[(a) - Duar. Nunes descript. de Portug. cap. 28 e 29. Vasconsel. in descript. Lusit, Estaço nas antiguidad. cap. 56;
(b) - Homer. Iliad. li. 16. Plin. lib. 8 c. 42 & lib 4 c. 22. Gerundas lib. I. Volat. lib. 25. Virg. geor. 3. Syl. Italic. lib. 3. Duarte Nunes d. cap. 29. Lope de Vega al fin dela Arcad. verbo (Tajo);
(c) - Fr. Bernar. Monar. Lusit. l. 1 c. 7;
(d)- Diego de Fun. e Mendoça hist. de anes, e animal. l. 1. cap. 6 e 7;
(e) - Damião de Góis in Olysip.;
(f) - Virg. AEnead. lib. 8;
(g) - Marc. Varr. lib. 2 de rerust.;
(h) - Duarte Nunes su prac 13]


EXCELÊNCIA III
Abundância de Pão

De pão [cereais] há grande abundância em Portugal, e cada vez há mais, e mais houvesse, se todas as terras férteis fossem cultivadas. Fr. Nicolau de Oliveira (a) refere que o ano de 1608 só duas vilas, Serpa e Moura, renderam ao dízimo 1470 moios de trigo, que são 22.050 "hanegas" a 15 "hanegas" cada moio, não contando a cevada, o centeio, e o milho, e deixadas muitas herdades de privilegiados (os quais são Cavaleiros do hábito de Cristo, Clérigos, e mosteiros, que não pagam o dízimo). Somente a paróquia da Igreja Catedral de Évora dá ao dízimo cada ano cerca de 700 moios. Finalmente há em Portugal terras tão boas, que muitas dão dois e três frutos num ano, e algumas (como é um grandíssimo campo que os Duques de Caminha, Marquês de Vila Real tem junto à cidade de Leiria) por uma "hanega" de trigo que nele semeiam colhem 60, e assim também noutros lados. Este pão [cereal] é tão excelente que dele disse o Infante D. Pedro de Aragão, que esteve neste Reino no tempo do Rei D. João I, que tinha visto em Portugal bom pão e bom Capitão: isto dizia do Conde de Abranches D. Álvaro de Almeida, que era Capitão maior de Lisboa.(b)

[(a) - Fr. Nicolau grandezas de Lisboa. trat. I cap. 4;
(b) -  Duar. Nunes descripcion de Portugal c. 35]


EXCELÊNCIA IV
Azeite em Quantidade

De azeite também há grande quantidade, principalmente nos termos de Coimbra, Tomar, e Lisboa, e mais que em qualquer outra parte em Santarém, que há tanto que gastando-se muito no Reino, e conquistas dele, vão somente para Flandres mais de 3000 pipas anualmente;(a) e assim para encarecer uma coisa grande costuma dizer-se "olivais de Santarém". Algo a este respeito trata Duarte Nunes na descrição de Portugal.(b)

[(a) -  Fr. Nicolau no dito lugar;
(b) - Nunes descript. de Portug. c. 25]


EXCELÊNCIA V
Vinho, Mel e Cera

Também de vinho há grande cópia, e tão bom que costuma ser enviado para terras ultramarinas muitos milhares de lagoas, passando por vezes a linha Equinocial sem corromper-se, que é suficiente prova da sua bondade. Disto trata Duarte Nines, e o Padre António Vasconcelos, (a) e da abundância de mel, e cera mais largamente. E por experiência vemos não ser verdadeiro o que diz João Boemo que a Lusitânia é falta de vinho. (b)

[(a) - Duar. Nunes descript. de Port. cap. 26 e 27. Vascnsel. e descript. Lusi.;
(b) - Boem de marib. gent. lib. 3 c. 24]


EXCELÊNCIA VI
Linho

Linho em Portugal há muito, e de grande excelência, e assim aquele que é feito em linhaço, ou em fio, é muito estimado em toda a parte. Por isso os homens que vendem fio nos outros Reinos da Hispania, ainda que não sejam de Portugal, dizem, e apregoam que assim é. E é tanto que só a vila de Guimarães rende a S. majestade de direitos de fio 7000 e 8000 ducados anualmente, como o regista Vasconcelos. (a)

[(a) - Vasconcelos no lugar citado]


EXCELÊNCIA VII
Muita Fruta

Lisboa tem a 5 léguas uma ribeira, que chamam de ribeira de Colares, sendo de menos de uma légua de comprimento, e a sexta parte de légua de largura, e que vende a Lisboa anualmente mais de 20.000 cargas de fruta,(a) além de outra fruta que tem e que não a vai vender [a Lisboa], e também muita dela se perde por não se conseguir dar aproveitamento a toda ela. É fruta de toda a sorte e tanta. Trata disto Duarte Nunes. (b)

[(a) - Fr. Nicolau grandezas de Lisboa trat. 5 cap. 1;
(b) - Duart. Nunes descript. de Portug. cap. 33]

(a continuar)

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