19/12/14

CONTRA-MINA Nº 30: Os Novos Estóicos ... (I)

CONTRA-MINA
Periódico Moral, e Político,

por

Fr. Fortunato de S. Boaventura,
Monge de Alcobaça.

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Nº 30
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O medonho Fantasma se esvaece,
O dia torna, e a sombra se dissipa;
Os Insectos feíssimos de chofre
Entram no poço do afumado Inferno:
Eternamente a tampa se aferrolha.
No meio do clarão vejo no Trono,
Cercado de esplendor, MIGUEL PRIMEIRO.
(Macedo, Viagem Estática ao Templo da Sabedoria, pág. 141)
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Os Novos Estoicos, ou Desprezadores da Glória.

"Tirana paixão, é esta paixão da Glória! Uma vez que se chegou a apoderar de um coração, onde não penetrem os sentimentos Religiosos, nunca mais largou a preza; e se de quando em quando se faz semblante de não forcejar, nem trabalhar pela Glória, tudo isto é sobreposto, e ilusório, porque se houver ocasião favorável romperá tão estrondosamente a demanda paixão da Glória, que se dá logo a conhecer, que ela dormia como fogo debaixo das cinzas, e que todo o empenho contrário não foi mais, que uma estudada, e formalíssima hipocrisia. Esta paixão é tão ardilosa, que às vezes é tanto mais absoluta dominadora, quanto mais se afecta desprezá-la.... e não é estranho, que os aparentemente fugitivos desta paixão, e que mais longe parecem estar do alcance de seus tiros, devam reputar-se as suas principais, e mais escolhidas vítimas.

Quem parecia fugir mais de tudo quanto era Opulência, e Glória, que o Cínico Diogenes? Quem não diria, que ele encerrado na sua pipa era o mais eloquente Censor de todos os amantes da Glória? Pois não era assim. Diogenes mostrou-se neste lances o mais ardente procurador da Glória, o que é tão certo, que o próprio Alexandre magno, que tanto almejava pela Glória, achou que sem renunciar esta paixão, o que mais lhe ficaria bem era o ser Diogenes, caso dado que não fosse Alexandre....

Que era a insensibilidade Estoica, senão um desenfreado apetite da Glória? Nem o próprio suicídio de Catão argue outra coisa mais, que uma repugnância invencível a ser prisioneiro de César, e as mui viva representação, de que era mais glorioso sacrificar a vida por suas próprias mãos, que o conservá-la por benefício do seu maior inimigo. Ora os nossos Pedreiros Livres não pareciam talhados para estas virtudes Estoicas, mas visto que eles tem homens para tudo (porque os talentos militares, e políticos lá se acumularam todos, sem ficar a mais pequena dose de senso comum para os malfadados Realistas) instituiriam recentemente um esquadrão de novos Estoicos, ou desprezadores da Glória... Não há presentemente, dizem eles, nada que temer, nem da parte do Senhor D. Pedro ex-Imperador do Brasil, nem da Senhora Princesa do Grão-Pará.... o medo a estes papões é medo infantino, é ressuscitar em certo modo a Seita Sebástica, pois é necessário uma credulidade mais que Sebástica, para se acreditar, que se façam novas tentativas para ser colocada no Trono Português a Senhora D. Maria da Glória..... Tão pequena foi a lição do Brasil, que já lhe esquecesse, ou lhe deixasse algumas saudades dos Reinos Constitucionais? Tomaram eles viver quietos, e sossegados em algum cantinho da Europa!!.."

D. Maria da Glória, neta de D. João VI, e Sobrinha de D. Miguel I
Ora aqui temos um novo ardil Maçónico dos mais subtis, e quase imperceptível, para quem não esteja habituado a conhecê-los, e desmascara-los. Sabem que a lealdade Portuguesa acabou de tomar grandes alturas, que desconcentraram os formosos planos do Grande Oriente Lusitano, e por isso é necessário, quando se não consiga o destruí-la, ao menos fazê-la quebrar,ou esfriar; e não há, nem pode haver cousa tão conducente para este fim, como espalhar-se, que não haja o mais leve receio de tentativas por parte da Senhora D. Maria da Glória, e que seu Augusto pai, depois da renúncia espontânea, e solene, que fez das Coroas Real, e Imperial nunca mais tomará calor porque vinguem os Direitos de sua Filha; e que todo engolfado nas delícias de vida particular olhará com absoluta indiferença para os dois Ceptros, que jazem a seus pés, e que não merecem a pena, de que ele se abaixe para os levantar, e resumir.... O caso é, que assim deveria ser, e o mesmo Senhor, que pôde ler de cadeira sobre a firmeza, e estabilidade dos Reinos Constitucionais, deveria agora imitar a Ecuba do Trágico Latino, e falar à sua desgraçada filha, pouco mais ou menos neste sentido: "Quem se fiar nas promessas dos Mações, e tiver por seguros aqueles Tronos, que a Maçonaria, ou ergue, ou desmancha a seu sabor, olhe para mim, e para o Brasil....

Me videat, et te Troia.

Lançar-te, minha querida filha, nesse turbilhão Constitucional, será o mesmo, que preparar-te uma sorte a mais equivoca, e a mais desgraçada.... o total dos Portugueses não te ama, nem te quer; deixemos para sempre a ideia de Reinar sobre uma Nação entusiasmada pelo seu Príncipe, e temerosa de perder a sua Religião; pois caso dado, que por auxílio das Potências Europeias chegássemos a vencer a porfiosa resistência, que nos espera, e que tão insolentemente nos ameaça, que glória terias tu de Reinar sobre montões de cadáveres, e ruínas? E que glória teria eu de sacrificar ao ídolo da Maçonaria o Trono, onde Reinou meu Pai, onde luziram os meus Antepassados, e onde eu poderia estar hoje assentado, se me não deixasse arrastar de pérfidos conselhos? Obediente ao meu Pai, teria eu sido o melhor de todos os filhos, nunca se teria quebrado o laço, que unia os dois Reinos de Portugal, e do Brasil, nunca eu teria abdicado, e nenhum de nós teria de mendigar o pão estrangeiro..."

Cautela, e vigilância, meus amados Realistas, e verdadeiros Portugueses; nada disto assim é..... Os próprios, que para vos adormecerem, e para vos apanharem totalmente desprevenidos vos dizem no meio das Praças, que não há que temer de uma aspirante à Coroa de Portugal, que se nunca a obteve quando seu Augusto pai era Imperador, menos a poderá obter quando seu Pai desceu à condição de um simples particular... só querem iludir-vos, e atraiçoar-vos, porque são os mesmos, que dizem ao ouvido dos que pertencem à Confraria, que nem todos sabem guardar tais segredos: lá chegou a Brest a Senhora D. Maria da Glória, que foi recebida com honras de Soberana....... temos ainda muito que ver....

(continuação, II parte)

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