30/07/14

A RESISTÊNCIA TRADICIONALISTA NA COVILHÃ, EM 1825 (Cartas)

A resistência de Portugal ao liberalismo, foi um feito que contou com a alta responsabilidade do Clero. No interior do país, na capital dos lanifícios, na Covilhã, nenhum eclesiástico apareceu no acto público de proclamação de D. Maria da Gloria como "rainha" de Portugal. Leiam-se as seguintes cartas:

1 - Covilhã, 8 de Agosto de 1826

Ill.mo Senhor
Manuel José de Arriaga Bruno da Silveira

Ill.mo Senhor
Levo ao conhecimento de V. S.ª que hoje fiz convocar Câmara Geral e nela li a proclamação da Sereníssima Senhora Infanta Presidente do Governo, e se me fez estranho o não ver clérigo algum, pouco depois porém recebi uma carta do Arcipreste dizendo que uns por ignorarem o motivo não podendo ser avisados, e outros porque avisados nas pessoas de seus familiares ignorando para quê e outros porque estão impedidos doentes não tinham comparecido porém que, se julgasse necessário, que se apresentassem, lhe determinasse o sítio, dia e hora que de pronto o faria e que sendo fiéis vassalos sempre e em tudo queriam mostrar-se obedientes às ordens.
Destinei-lhe o dia de amanhã para a Casa da Câmara lhe ler e procurei examinar se foram ou não aqueles motivos porque nenhum apareceu e do que puder saber o levarei à presença de V. S.ª a quem Deus guarde muitos anos.

Ao Juiz de Fora
Manuel de Melo Freire de Bulhões

D. Maria

2 - Covilhã, 12 de Agosto de 1826

Ill.mo Senhor
José de Arriaga Bruno da Silveira

Ill.mo Senhor
Ponho na presença de V. S.ª a cópia do ofício que me dirigiu o arcipreste desta vila em que os motivos porque diz o clero não assistiu à Câmara Geral de 8 que destinei para solenemente ler a Proclamação da Sereníssima Senhora Infanta de 1 do corrente Agosto em razão do que, determinando as 11 horas do dia 9 para nas casas da Câmara lhe ler a dita proclamação, à dita hora, ali achei todo o clero e mesmo alguns que me constava estarem doentes pelo que em satisfação que mostravam ao ler a proclamação apesar de não terem a esta assistido no dia antecedente, e sobretudo a humildade e receio que lhe devisei de terem de receber algum castigo e darem motivo a haver contas anónimas que em outros tempos daqui foram frequentes e pelas quais alguns vexados / e conhecer a maior parte dos motivos alegados, verídicos, me faz crer que não foi por maldade ou falta de bons sentimentos que deixaram de aparecer. Deus guarde V. S.ª por muitos anos.

Ao Juiz de Fora
Manuel de Melo Freire de Bulhões

O que é certo é que a Covilhã, logo depois, manifestou-se como um dos pontos de resistência contra os liberais e seu novos "reis".

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