D. João III de Portugal chama S. Francisco Xavier |
"Enquanto se aprestava a frota que havia de partir para a Índia, peregrinou Xavier a Nossa Senhora de Nazaré, para lhe merecer o patrocínio em tão comprida e perigosa navegação. E quando com maior fervor largava as velas à sua devoção diante do altar da milagrosa imagem, o chamaram com grande alvoroço para confessar certo fidalgo ferido mortalmente doutro num desafio. Procurou o santo confessor persuadi-lo ao perdão do inimigo, mas vendo-o tão ansioso da vingança, que por não depor o ódio resolvia perder a alma, lhe perguntou se perdoaria o agravo se lhe continuasse Deus a dar-lhe mercê da vida. E respondeu ele que sim, levantou os olhos e o coração ao Céu, pedindo a Deus nosso Senhor com todas as forças de seu espírito lhe concedesse a vida para que se não condenasse. Despachou Deus a petição, levantou-se são o moribundo, cumpriu a palavra, e dando as devidas graças ao Autor da vida as deu também ao santo, por cuja intercessão se via livre do perigo da morte, e do inferno. Acabada a sua romaria, voltou a Lisboa, e antes de se embarcar para a Índia, o mandou ElRei [D. João III de Portugal] chamar e lhe encomendou encarecidamente a conversão dos infiéis, a doutrina, e confirmação na Fé dos novamente convertidos, os costumes e vidas dos Portugueses, que visitasse as fortalezas e presídios, procurando extirpar os abusos e remediar as desordens dos Capitães e Feitores da sua fazenda, e o avisasse por cartas de tudo quanto julgasse ser conveniente ao serviço de Deus e da Coroa. E para que pudesse com maior autoridade e com menos contradição manejar o negócio da conversão das almas em tão distantes países, lhe entregou quatro Breves, nos quais o Sumo Pontífice Paulo III o criava a ele e juntamente ao Pe. Mestre Simão, ou a qualquer deles em particular, seu Núncio e da Sé Apostólica em todas as Províncias descobertas além do Cabo da Boa Esperança. Mas como o Padre Mestre Simão ficou em Portugal, perseverou a dignidade em Xavier. O primeiro Breve se expediu em Roma aos 27 de Julho de 1540, o segundo mais amplo em poderes aos 2 de Agosto, o terceiro e quarto aos 4 de Outubro o mesmo ano. Os dois primeiros contêm os poderes da Legacia; no terceiro os recomenda o Pontífice a todos os Príncipes e Senhores da Costa Oriental de África, Mar Roxo, Golfo Pérsico e de ambas as Índias, àquem e além do Ganges; no quarto a David Imperador da Etiópia. Ainda se conservam estes breves na nossa Secretaria de Goa, metidos numa bolsa de veludo verde. E assim não tem que duvidar a mais exacta pesquisa crítica como o Apostolado na Índia foi cometido a S. Francisco Xavier por eleição e autoridade da Santa Sé Apostólica, prerrogativa de muita glória a todos os Missionários da Companhia, que sem interrupção lhe foram sucedendo na promulgação do Evangelho. (Oriente Conquistado a Jesus Christo.... Volume I)
Sem comentários:
Enviar um comentário